
Com brio mas sem brilho. O SC Braga recebeu e venceu (1-0) o Levski Sofia, esta quinta-feira, em jogo a contar para a segunda pré-eliminatória da fase de acesso à Liga Europa - o primeiro duelo oficial no Estádio Municipal de Braga na temporada 2025/26.
Depois do empate a zeros na Bulgária, os arsenalistas precisaram de esperar pelo prolongamento - mais concretamente pelo minuto 104 - para carimbar a passagem à fase seguinte, onde vão encontrar o CFR Cluj da Roménia.
Apesar do brio defensivo - Hornicek deixou a baliza a zeros durante dos 210 minutos da eliminatória -, o SC Braga de Carlos Vicens mostrou poucos argumentos ofensivos, especialmente no último terço do campo.
Da vista privilegiada da tribuna de imprensa do Municipal de Braga - bem lá no alto, ótima para perceber comportamentos coletivos das equipas - analisamos o que correu bem e menos bem neste SC Braga x Levski Sofia.
Pobreza extrema no ataque
Tal como havia acontecido diante do Celta de Vigo (jogo de apresentação) e em Sofia, o SC Braga voltou a entrar em campo numa espécie de 3-5-2, com muitas variáveis envolvidas nesse mesmo sistema.
Nos dias de hoje, praticamente todos os treinadores apregoam o discurso de 'não olhar a sistemas, mas sim a comportamentos'. Bem, Vicens parece não fugir à regra. O 3-5-2 dos arsenalistas tem-se moldando regularmente, mediante inclusive as características dos jogadores que ocupam determinadas posições.
Da primeira mão para a segunda, Carlos Vicens mudou duas peças no onze. Niakaté entrou para o lugar de Arrey-Mbi - troca natural de jogadores com características similares - e Roger substituiu Fran Navarro.

Se a primeira troca é tida como natural, esta nem por isso. O técnico espanhol abdicou de um ponta de lança clássico na frente de ataque e transladou Dorgeles para o lado de Ricardo Horta como avançado. Por sua vez, Roger Fernandes foi o ala de pé trocado à direita do esquema bracarense.
Gorby, Vítor Carvalho, Zalazar, João Moutinho, Dorgeles e Ricardo Horta. Vicens conseguiu a proeza de acomodar seis médios num onze inicial. Esta avalanche de centro-campistas refletiu-se no jogo bracarense: muita posse, muita pausa, toques curtos e pouca profundidade e movimentos de rotura nas costas da defensiva adversária.
O jogo bracarense pareceu previsível e, sem Roger ao seu nível habitual - muito pouco sucesso no um contra um -, o SC Braga teve dificuldades em encontrar caminhos para chegar ao último terço do adversário. As melhores oportunidades surgiram na sequência de bolas paradas, desaproveitadas por Niakaté e Lagerbielke.
Ricardo Horta, como é habitual, foi estando solto de movimentos e acabou por sair muitas vezes da zona dos avançados. Dorgeles - outro jogador que, caracteristicamente, não é talhado para as funções de avançado - também foi caindo muito no corredor, deixando os bracarenses frequentemente desprovidos de referências mais perto da baliza contrária.
Zalazar, a jogar de fora para dentro, teve pouca bola nas zonas de decisão como tanto gosta e Gorby e Vítor Carvalho estiveram algo desaparecidos da manobra ofensiva, escondendo-se atrás dos adversários - quase que a pedir para não receber a bola.

Confusão defensiva com tanta troca
Apesar de ofensivamente o SC Braga alinhar num sistema de três centrais, declaradamente, o figurino tático da equipa varia no momento em que a equipa perde a bola e a dinâmica é tudo menos convencional.
Os Gverreiros defenderam grande parte da partida em 4-5-1, com muitas trocas de posicionamento em relação ao momento em que a equipa tem a bola. Niakaté passou para lateral esquerdo, Vítor Carvalho saiu do meio campo para ser um defesa direito e Dorgeles juntou-se a Gorby e Moutinho como terceiro médio. Quando o Levski entrava perto do último terço, a formação transformava-se ainda num 6-3-1, com os alas a recuarem até à linha dos laterais em ajuda defensiva.

Esta dinâmica, por si só, obriga alguns jogadores a deslocarem-se metros consideráveis para assumirem a sua posição. Niakaté e Vítor Carvalho tiveram dificuldades no um contra um defensivo, tendo como adversários jogadores mais velozes e tecnicistas em zona de corredor lateral, obrigando a coberturas dos centrais que foram, aos poucos, desprotegendo a zona de baliza.
Numa primeira fase de pressão, em terrenos bastante adiantados, a estrutura mudava outra vez: aí, era uma espécie de 4-4-2 em losango. Gorby era o pivô defensivo, João Moutinho e Roger a dividiam o espaço entre os médios e os laterais contrários, Dorgeles assumia uma posição central e Zalazar juntava-se a Horta mais à frente. Confuso (e algo ineficaz).
Plano B resultou melhor que o A
Com o desenrolar do jogo, foi notória a falta de criatividade ofensiva dos bracarenses. Um jogo muito lento, sem oportunidades e preso na monotonia.
Quando o árbitro apitou para o final dos 90 minutos regulamentares, Carlos Vicens decidiu mudar o esquema. Lançou Leonardo Lelo (Victor Goméz já estava em campo) e montou um 4-2-3-1 clássico, com Sandro Vidigal e Dorgeles como extremos e Horta por trás de Fran Navarro.
Apesar do número de oportunidades não ter sido muito superior ao de até então, o SC Braga mostrou-se mais coeso com e sem bola e conseguiu criar dinâmicas de superioridade nos corredores, algo que até então não havíamos visto. Daí surge o golo, com um cruzamento de Sandro Vidigal para uma bicicleta de Fran Navarro.
O SC Braga ainda está numa fase muito embrionária da temporada, mas exige-se muito mais. Veremos o que poderá trazer Pau Victor - reforço mais caro da história do clube - a esta equipa bracarense, que parece estar muito carenciada ofensivamente.