Mediante as duas últimas visitas do FC Porto ao Estádio Cidade de Barcelos, era de esperar que os dragões tivessem uma deslocação complicada frente a um Gil Vicente de César Peixoto, organizado e competente no processo coletivo. A vitória dos gilistas na Madeira frente ao Nacional por 2-0 também fazia antever que os azuis e brancos precisariam de elevados níveis de motivação e concentração para garantir os três pontos em Barcelos.

No plano tático, César Peixoto tentou condicionar o meio-campo do FC Porto com um 4-4-2 no momento defensivo, em que Luís Esteves avançava no terreno e iniciava a pressão junto do ponta-de-lança Pablo. Com os extremos do Gil Vicente a acompanharem os laterais do FC Porto, os comandados de Francesco Farioli tiveram algumas dificuldades iniciais em ligar o jogo com os médios, inclusive Alan Varela, que teve pouca bola durante a primeira parte.

Para contrariar esta boa organização defensiva do Gil Vicente, os dragões começaram a procurar a profundidade com passes longos. Outra solução do técnico italiano passou por lateralizar os médios interiores, sobretudo Gabri Veiga, levando a equipa a explorar mais o jogo exterior e a procurar combinações curtas para lançar rapidamente os extremos.

Nas dinâmicas impostas pelo treinador do Gil Vicente, o plano passava por atrair o FC Porto para bolas em profundidade e passes longos. Para minimizar os riscos nos espaços do setor defensivo, César Peixoto optou por colocar defesas fisicamente fortes, rápidos e competentes nos duelos, de forma a reduzir perdas no 1 contra 1.

Mesmo assim, e com controlo do risco, o FC Porto mostrou paciência na construção dos ataques, sobretudo com passes entre Jan Bednarek e Nehuen Pérez, mas também com Diogo Costa a servir como elemento de ligação, seja para passes curtos ou longos para as alas, aguardando o melhor momento para iniciar o ataque à baliza de Andrew.

Os azuis e brancos conseguiram desbloquear o jogo através de Victor Froholdt, num pontapé de canto batido à medida por Gabri Veiga. A disposição do Gil Vicente manteve-se, mas, a partir daí, os dragões, com a vantagem no marcador, criaram mais algumas oportunidades através de Samu e Pepê. O melhor momento do Gil Vicente surgiu a partir do minuto 30′, com algumas chegadas ao último terço ofensivo e Luís Esteves teve nos pés a oportunidade de restabelecer a igualdade.

Com a lesão de Samu e relativamente ao processo defensivo, Luuk de Jong também tentou pressionar os centrais do Gil Vicente, embora sem a disponibilidade física do avançado espanhol. Ainda assim, cumpriu o papel de avançado associativo que Francesco Farioli pretende, combinando com os médios, como o técnico referiu em resposta ao Bola na Rede.

O FC Porto resolveu grande parte dos problemas que poderia ter no início da segunda parte com o golo de Pepê. Mais uma vez, Gabri Veiga esteve na origem do lance, oferecendo uma solução em profundidade pela ala esquerda, que encontrou Zaidu para cruzar, o extremo brasileiro apareceu na área e ampliou a vantagem dos dragões. César Peixoto ainda tentou reagir com dois pontas-de-lança no ataque, mas o resultado manteve-se até ao final.

No geral, é de valorizar o bom momento do FC Porto, que, ao contrário da época passada, se apresenta mais organizado, com maiores soluções ofensivas e mais confiança. Quanto ao Gil Vicente, César Peixoto referiu que a equipa ainda deverá receber alguns reforços neste mercado de transferências, mas já tem tudo para realizar um campeonato sólido, sendo um conjunto com ideias bem definidas e, acima de tudo, muito bem organizado defensivamente.

BnR na Conferência de Imprensa

Bola na Rede: Boa noite, mister. Gostaria de lhe perguntar se o objetivo tático passou por tentar fechar o meio-campo do FC Porto, tendo em conta que vimos Alan Varela com pouca bola, sobretudo, durante a primeira parte do encontro?

César Peixoto: Sim, nós sabíamos que o FC Porto queria atrair-nos na pressão e tentámos fechar o Alan Varela e o espaço interior. O FC Porto teve algumas dificuldades nesse momento. A certa altura, começou a jogar longo e a procurar a profundidade, porque não estava a conseguir entrar. As poucas vezes em que chegou à frente foi através do jogo exterior, mas fomos controlando esses momentos. Depois, uma bola parada acabou por ditar o resultado do jogo. Senti também que o FC Porto já estava com alguma ansiedade. Na primeira parte, faltou-nos alguma agressividade e efetividade no momento em que acionávamos a pressão para recuperar a bola e atacar. Quando recuperávamos, o FC Porto quebrou o jogo com muitas faltas, acabou por fazer 20 faltas, que nos travou sempre nas transições ofensivas. E depois, com o FC Porto já organizado atrás, tudo se tornou mais difícil. O FC Porto acabou por jogar com essas faltas, o árbitro também deixou que isso acontecesse e houve algumas paragens na primeira parte que quebraram um pouco o ritmo do jogo. O plano passava por fechar dentro, obrigando o FC Porto a jogar por fora ou em profundidade, onde estaríamos sempre mais confortáveis. O plano de jogo surtiu efeito, mas faltou-nos alguma agressividade ofensiva e defensiva em certos momentos.

Bola na Rede: Boa noite, mister. Em termos táticos, o que pediu ao Luuk de Jong para fazer neste encontro?

Francesco Farioli: Quanto ao Luuk, tivemos de antecipar a sua substituição porque o plano inicial era jogar apenas alguns minutos, mas a lesão do Samu obrigou-nos a mudar os planos. O Luuk entrou e conseguiu conectar-se muito bem com os colegas de equipa e fez um trabalho fantástico. Defensivamente esteve muito bem e, com bola, conseguiu realizar três ou quatro boas combinações com os médios. Deu-nos também presença aérea quando tivemos de jogar mais direto e ainda fez uma assistência fantástica para o Rodrigo Mora. Isto diz muito sobre a sua mentalidade e também sobre o espírito da equipa.