Algarvios e leões só se defrontaram uma vez na Taça de Portugal. Foi em 20 de junho de 1948, e o Sporting, treinado por Cândido de Oliveira, fundador de A Bola, venceu por 1-6. Fernando Peyroteo foi autor de cinco golos. Era o tempo dos Cinco Violinos e a equipa do Lumiar (inaugurara os melhoramentos do Stadium, num 4-4 com o Atlético de Bilbau, precisamente uma semana antes de se deslocar ao Barlavento algarvio) apresentou a sua versão de luxo, com o ataque a ser composto pelo mítico quinteto formado por Albano, Travassos, Jesus Correia, Peyroteo e Vasques. Nessa temporada, tal como agora sucede, o Portimonense estava na II Divisão, e ainda disputou, sem sucesso, a liguilha de acesso ao escalão principal.

Quis o destino que fosse preciso esperar 76 anos para que estas equipas se defrontassem novamente para a prova rainha do nosso futebol, com Rúben Amorim a calçar os sapatos que já foram de «mestre» Cândido, enquanto que, por exemplo, os algarvios já jogaram nove vezes com o Benfica para esta competição…

Do ponto de vista teórico, a diferença entre os jogos de 1948 e 2024 não é muita: o Sporting é líder e campeão em título, enquanto que o Portimonense milita na II Liga e vive um período de desinvestimento que faz com que a equipa ocupe o antepenúltimo lugar, com cinco pontos em sete jogos. Logo, se não se tratasse da Taça de Portugal e não se conhecessem os seus sortilégios, estaríamos perante um passeio leonino a Portimão. Porém, há outros elementos a considerar, que podem ajudar os algarvios.

Rúben Amorim, por um lado, recebeu muitos jogadores vindos de várias Seleções Nacionais, e precisa de devolvê-los à forma mais condizente com as necessidades do clube, depois da quebra de rotina que as presenças nas equipas nacionais sempre provocam; por outro, o Sporting joga em Portimão de olhos postos em Graz, na Áustria, onde tem um importantíssimo compromisso para a Liga dos Campeões, na próxima terça-feira com o Sturm. Da conjugação destes fatores, é provável que saia uma equipa verde-e-branca de compromisso, que dê minutos a quem deles precisa e reserve para as núpcias europeias os jogadores mais desgastados (e nucleares, porque não?).

O resto é Taça, a competição que desde 1938, quando a Académica derrotou o Benfica na final das Salésias, nos tem brindado com algumas surpresas históricas, como sejam, o Tirsense, que estava na III Divisão,  a ganhar ao Sporting (que nessa tarde de 17 de abril de 1949 decidiu poupar muitos titulares) por 2-1; o Gondomar, também do III escalão, a ir eliminar o Benfica ao estádio da Luz (0-1, em 24 de novembro de 2002); ou o Atlético a vencer nas Antas o FC Porto por 0-1, a 7 de janeiro de 2007, quando militava na III Divisão.

É por tudo isto que estamos perante uma competição, responsável pelo termo «tomba-gigantes», que nos remete para David e Golias, onde é absolutamente proibido usar a palavra «impossível».

Há casas e casas…

Não se tratando do caso do jogo que abre a prestação dos primodivisionários na edição 2024/25 da Taça de Portugal – o Sporting-Portimonense não vai ser deslocado para um anfiteatro diferente da casa habitual dos alvinegros – esta ronda, que por regulamento obriga as equipas mais cotadas a atuarem na condição de visitantes, apresenta algumas corruptelas, determinadas por alegadas questões de segurança (e já agora aproveita-se para forrar os cofres um pouco mais…), que se traduzem na mudança de palco. Assim, o Benfica não vai a Pevidém, mas a Moreira de Cónegos; o SC Braga não joga com o 1.º de Dezembro em Sintra; mas em Massamá, e o Sintrense não recebe o FC Porto em Sintra, mas na Reboleira. Das equipas portuguesas que participam nas competições europeias, além do Sporting, apenas o VSC de Guimarães jogará realmente fora, no estádio Capital do Móvel (que já recebeu jogos da UEFA, especialmente aquele em que os pacenses de Jorge Simão derrotaram o Tottenham de Nuno Espírito Santo, a 19 de agosto de 2021, por 1-0) contra o Paços de Ferreira.