A recente prata no Mundial de sub-21 e o 4.º lugar dos seniores, no inicio do ano, "são resultados estratosféricos para o andebol português", considerou este sábado à agência Lusa o presidente da federação, Miguel Laranjeiro.

"Tirando a Dinamarca [campeã mundial em seniores e sub-21], no cômputo do que foi o resultado destas duas competições, Portugal é top mundial", disse Miguel Laranjeiro, acrescentando que o andebol nacional vive um momento ímpar.

O dirigente aponta o trabalho de base, com a formação nos clubes, a organização e a mudança de mentalidade, como os principais fatores da evolução registada, que se traduz na presença nas principais decisões, transversal a todos os escalões.

"Estamo-nos a debater com países com maior dimensão populacional, como a Alemanha, França, Espanha e Polónia, e cultura desportiva superior à nossa, como os nórdicos, Holanda e Áustria", explicou Miguel Laranjeiro.

Miguel Laranjeiro aponta que estar entre os melhores, ombrear com os eles nas principais provas, jogar olhos nos olhos e lutar pelos pódios e medalhas, tem os seus custos, cada vez mais elevados, e obrigam a um apoio governamental maior.

"É preciso o Estado olhar para estas modalidades também numa perspetiva de sucesso. O sucesso dá muito trabalho, mas custa dinheiro. É um investimento que é feito. Nada é por acaso e é necessário apoiar esse trabalho e investimento", disse.

A titulo de exemplo, Miguel Laranjeiro referiu a ausência de Portugal do Europeu de praia de sub-17, masculino e feminino, com grande pena sua e sem qualquer agrado por parte da federação, por questões meramente financeiras.

A conquista de uma medalha no escalão principal sénior, que pode acontecer no Euro2028 que Portugal coorganiza com a Espanha e a Suíça, se não se verificar mais cedo, é o desejo não escondido para coroar os resultados recentes.

Portugal recebe dois grupos da fase preliminar e um da fase regular (main round), na MEO Arena, em Lisboa, que é o único recinto nacional com capacidade para satisfazer as exigências da prova. A fase final decorre inteiramente em Espanha.

No último Mundial, disputado em janeiro, apesar de todas as contrariedades e lesões, que levou à integração de jovens jogadores, Portugal disputou o jogo pela medalha de bronze com a poderosa França e só perdeu por um golo (35-34).

"Tem havido esse trabalho. Se olharmos para a revolução tranquila que a seleção A tem feito, com a entrada de jovens, temos a garantia e perspetiva positiva de obter resultados ainda melhores, mas temos que ter os pés bem assentes na terra", considerou.

Para Miguel Laranjeiro, "o que Portugal fez nestes últimos mundiais [sub-21 e seniores] é estratosférico e vai muito do empenho, trabalho e do querer português, que tem feito elevar o nível do andebol, quer de seleções quer de clubes".

"Fazemos a diferença pela vontade e querer, por esta forma de ser português e de lutar pelo país e pela bandeira", acrescentou o dirigente, estendendo o sucesso que se vive também ao feminino, ao andebol de praia e em cadeira de rodas.

Um dos aspetos fundamentais da alteração do paradigma, para alem da formação nos clubes, e há clubes com o foco apenas na formação, da deteção de talentos, com os centros de captação regionais da federação, e da organização, é a mudança de mentalidade.

"No Mundial de sub-21, a seleção portuguesa entrou em todos os jogos para ganhar. Com uma mentalidade de jogar cara a cara e de entrar em jogo ao mesmo nível de qualquer outra seleção. Isto começou nos seniores", explicou.

Para Miguel Laranjeiro esta mudança de mentalidade é responsável por grande parte da evolução registada na modalidade, desde as camadas mais jovens até às seleções principais.

"Entram em campo com uma postura e determinação para vencer e durante todo o jogo. São 60 minutos sempre a lutar pela vitória, mesmo em desvantagem. Só assim se chega longe", disse.

O dirigente destacou ainda a interligação existente entre as várias seleções, fundamental para a transição dos atletas, e destacou o facto de alguns vice-campeões mundiais pelos sub-21 estarem já a jogar pela principal e outros vão disputar ainda o Mundial de sub-19, no Egito.