Ruben Amorim não tem tido vida fácil desde que chegou ao Manchester United.

Em muitos setores da nossa sociedade passamos de bestial a besta num abrir e fechar de olhos. Hoje podemos ser os maiores do mundo, amanhã nem os maiores da nossa rua somos. No futebol acontece exatamente o mesmo, mais precisamente quando falamos da vida de um treinador, desde sempre e cada vez mais dependente de resultados desportivos. Existem algumas exceções, é certo, e talvez o caso mais conhecido de todos seja o de Alex Ferguson. O mítico manager do Manchester United não conquistou títulos nos primeiros anos sentado no banco dos red devils, mas fez história nas décadas seguintes e tornou-se uma lenda com um legado praticamente impossível de igualar.

Após a sua saída, em 2013, foram seis os treinadores que passaram por Old Traford, uns com mais sucesso que outros, mas jamais o Manchester United voltou aos tempos dourados da era Ferguson. A herança é pesada, muito pesada mesmo, e há quem diga que foi criada uma maldição em torno do clube inglês. Ruben Amorim é agora o novo líder do Teatro dos Sonhos, eu chamar-lhe-ia teatro dos pesadelos, e pode estar também ele a sofrer desse enguiço. Duas vezes campeão pelo Sporting, e com a possibilidade de ser bi esta temporada, o técnico português de 40 anos agarrou a oportunidade de uma vida e aceitou o convite para recolocar o Manchester United no trilho do sucesso.

Ponto prévio. Ruben Amorim, ao dizer que sim a esta sua nova aventura em Terras de Sua Majestade, já sabia ao que ia. Apanhou o clube no 13.º lugar da Premier League, e atualmente encontra-se numa posição ingrata, onde tenta terminar com dignidade a participação na melhor liga do mundo. As exibições têm sido sofríveis, e já há figuras do mundo do futebol a apontar-lhe o dedo. Um deles é Jamie Carragher, antigo futebolista inglês, que disse esta semana num podcast que, «o trabalho tem sido tão mau que o Manchester United poderá já estar arrependido».

Mas sejamos justos e honestos. Ruben Amorim é o menos culpado de tudo o que está a acontecer. Sem um plantel escolhido à sua medida, e com alguns jogadores a terem um rendimento paupérrimo dentro de campo, até pode ter as melhores ideias com o seu 3-4-3 ganhador em Alvalade, que pouca coisa vai mudar. Não lhe peçam milagres ou truques de magia para inverter a curto prazo esta espiral de maus resultados no campeonato.

Acredito nas suas competências, mas é na próxima época que Ruben Amorim vai ter de mostrar o que realmente vale, quando todos os emblemas da Premier League partirem em pé de igualdade na tabela classificativa. Um pouco à semelhança do que aconteceu em Portugal. Entrou no Sporting a meio da temporada 2019/2020 vindo do Braga, ficou em quarto lugar, mas quando fez a primeira época completa ao serviço dos leões o desfecho foi o que se sabe.

Costuma-se dizer que o comboio só passa uma vez. Mas apanhar um comboio a meio de uma viagem que está a ser atribulada não costuma augurar nada de bom. É o que está acontecer a Ruben Amorim, ainda a levar com resquícios do seu antecessor, Erik ten Hag. O ex-treinador leonino pode ter-se metido num buraco maior do que estava à espera, mas pode ser ainda muito feliz esta época, com a conquista da Liga Europa, uma vez que já caiu da Taça da Inglaterra. Porque tem qualidade mais que suficiente para ter sucesso no Manchester United, ou em qualquer outra equipa que venha a orientar no futuro. Apenas não façam dele um bode expiatório dos males que outros fizeram no passado.