O FC Porto é uma equipa a prestar contas e que tem tudo a provar. Diferencia-o a constante vontade de mostrar trabalho, como uma fábrica que funciona 24 horas por dia. Tem a fome, o empenho e a determinação que vive em quem pisa e a seguir esborracha. Um dos candidatos ao título está revitalizado e o Casa Pia acabou por sair do Dragão a saber disso. Há avareza e crueldade na forma como condena à impotência adversários de pés atados num desporto que se joga com eles.

Esta faceta dos azuis e brancos sabe como fazer manobras de submissão. O mata-leão à construção do adversário está bem ensaiado. Os dragões foram construindo momentos relevantes em recuperações altas. O Casa Pia levou ao norte uma dimensão física assinalável desacompanhada de destreza técnica para implementar a saída curta que desejava. Benaissa tropeçou nesse desejo e Victor Froholdt raptou a posse. O médio saqueador arrancou para a baliza enquanto os gansos ainda tentavam vencer a inércia. Borja Sainz fugiu ao controlo de Goulart e colaborou com o nórdico, fazendo o primeiro golo.

Pode parecer um método rudimentar, mas é produtivo. William Gomes, não fosse parado por Patrick Sequeira, tinha dado ainda mais sentido à pressão azul e branca. O brasileiro que substituiu o lesionado Pepê decidiu ser mais rebuscado. A determinada diagonal que pôs os pés na parede da ala direita para ganhar impulso terminou numa curva que Patrick Sequeira, coisa rara, não conseguiu conter. José Fonte ficou sentado no chão, oportunidade para ter uma perspetiva diferente das coisas, mas o Casa Pia continuou a não ver escapatória para tanto aperto.

MANUEL FERNANDO ARAUJO

Os padrões do jogo estavam bem identificados. As bolas paradas eram outro assunto que foi consternando a equipa treinada por João Pereira. O assunto raramente conseguia ser resolvido à primeira, fruto do desgaste que gente como Luuk de Jong (a render o lesionado Samu) impunha nas guerras no miolo da área. Os lances respingavam perto da baliza com proveito para os dragões. Alberto Costa deu nova vida a um deles e rematou para o terceiro. Ficou a dúvida se o desvio de Nehuén Pérez lhe ia roubar a propriedade do golo. Seria uma completa violação dos direitos de autor e um mérito demasiado grande para o pouco contributo do argentino. Acrescentando o remate de Alan Varela ao poste, o FC Porto estava a dizimar.

Aos 58 minutos, num clima de gestão a pensar no clássico de Alvalade, lá entrou Rodrigo Mora. Não é condenável que Francesco Farioli, antes de ter como entidade patronal um clube arrumado nesta borda da Europa, andasse desatento ao futebol português. Por mais espampanante que acreditemos ser o talento de Rodrigo Mora, arcará sempre com o preconceito de ter brotado num campeonato periférico. Ainda que tal não tenha sido impedimento para obter reconhecimento internacional, damos de barato que não tivessem chegado notícias sobre o prodígio de 18 anos ao italiano.

Diogo Cardoso

As circunstâncias mudaram. Embora exista quem esteja disposto a comprar Rodrigo Mora só para o pôr a jogar no jardim, Farioli não parece muito interessado em usufruir das melífluas habilidades do seu jogador. Até parece contraproducente, pois daquilo que conhecemos do treinador do FC Porto faz-nos acreditar que se podiam dar bem.

Esta época, Mora ainda procura minutos que não sejam apenas aquilo a que os norte-americanos chamam de garbage time. Os rumores de uma possível saída para o Al Ittihad sobem de tom. Um dos aspetos que toda a gente refere sobre este jovem é o contexto familiar que tão bem o tem aconselhado. Assim, alguém lhe diga que partilha balneário com Gabri Veiga que, aos 22 anos, foi para a Arábia Saudita e veio de lá arrependido. No entanto, é impossível dissociar um eventual desgosto para o futebol português das escolhas de Farioli.

MANUEL FERNANDO ARAÚJO

Feito o aparte, o FC Porto continuou a render. João Pereira tentou ser reforçar a ofensividade com a entrada de Tiago Morais para o corredor esquerdo, mais projetado do que Benaissa. De qualquer modo, o Casa Pia ainda não desenvolveu química suficiente com o objeto com que esta modalidade se pratica. Tchamba queria atrasar a bola para o guarda-redes e permitiu o bis a Borja Sainz.

No jogo 200 pelo FC Porto, Diogo Costa pode pousar as luvas diretamente no local onde quer guardar a recordação, porque sujas não estão. Aliás, o FC Porto chegará ao jogo contra o Sporting, na próxima jornada, ainda sem qualquer golo sofrido no campeonato. Há motivos para acreditar que os dragões podem fincar o pé aos bicampeões.