
Não sei se já desceram as escadas rolantes ao lado de alguém com uns atacadores onde as orelhas do coelho não entraram na toca. É um perigo as pontas entrarem nas roldanas, certo? Exato. Que recomendação dar à pessoa descuidada? Aperta lá isso melhor, por favor! Ou seja, não adianta muito que o atacador queira dar um passo maior do que a perna.
Velho axioma este que importa resgatar em enquadramentos como aquele em que o Benfica se apresenta, pois bem, abram-se lá as tolas para que a lição fique estudada. Desta vez, não houve problema. Na próxima, não se sabe.
Nesta fase da época, já muita tinta correu e conhecem-se os padrões comportamentais mais variados dos plantéis. Ian Cathro é que continua a conseguir surpreender. A cada intervenção pública ainda desencanta novas e admiráveis expressões que encantam por existirem no campo lexical de um escocês. Até arrepia saber o que teria sido captado pelos microfones se um lhe fosse apontado durante o colapso coletivo do Estoril.
Durante a estação do ano em vigor nos primeiros 15 minutos, um floreado de ideias surgiu no canto do cérebro que arrecada a imaginação. Porém, não passaram pelo crivo do Shark Tank, ditador de alguns esboços disparatados. O Benfica causou o efeito de um alucinógeno ao Estoril. Os canarinhos jogaram, na fase inicial, com um bloco de meias arregaçadas, quase a pressionar na linha de fundo dos encarnados, ludibriados por uma capacidade ousada para os seus jogadores.
Pavlidis baixava para ser uma mola. A entrega com lacinho aos companheiros, ao mesmo tempo que tinha que arcar com o peso de Boma, servia de isco. Perspicaz quem, sem bola, atacou o espaço. Aursnes correu para o vazio duas vezes. Robles impediu-o de marcar na primeira oportunidade, logo aos cinco minutos. Na segunda vez, o nórdico foi mais eficaz.
O Estoril continuava a acreditar na defeituosa reação à perda. Por imposição do candidato ao título, o nível médio da água no copo baixou. No entanto, só depois de se ter vertido. Foi a melhor maneira para que Pedro Álvaro, Boma e Bacher estabilizassem e Zeki Amdouni deixasse de decidir com virtude.
O jogo estava de feição para Bruno Lage que, por lapso, podia ter entalado a ponta do atacador na escada rolante. Álvaro Carreras, castigado, ficou na bancada. Ángel Di María viu o jogo do banco, poupando-se para o dérbi com o Sporting, onde pode haver campeão. Na fase mais adiantada, o Estoril parecia estar na preparação de uma festa que não vai frequentar. Infelizmente, diga-se, porque João Carvalho sabe o que faz.
De bola parada, através de Otamendi, os encarnados marcaram de novo. Estava visto que o Benfica não precisou de demorar muito a tirar a máscara de cínico que tem usado nos jogos fora desde o clássico com o FC Porto, uma exibição que solidificou a crença de que encontrar a profundidade é um caminho viável para o primeiro lugar. Veremos se realizar a jornada 32 na Luz é uma vantagem.
Apesar de defrontar o Benfica, ainda com possibilidades matemáticas de ser sexto, o Estoril teve hipótese de marcar de grande penalidade. Sabemos que, mesmo quando não se espera, os jogadores mais recuados têm queda para erros cruzeiros. Begraoui foi derrubado por Otamendi e Trubin salvou a desconcetração. Na recarga, Pedro Carvalho, entusiasmado com o ressalto perfeito para os seus pés, errou escabrosamente o alvo.
A descompressão do Benfica, com os jogadores já a fazerem recuperação ativa, foi exposta pelos estorilistas. Tanto é que a bola bombeada de Guitane para Zanocelo pareceu um grande cruzamento, mas foi apenas um balão de ar quente a chegar à cabeça do médio brasileiro ainda com dez minutos para se jogar.
Tudo serve de aviso para que se nunca menosprezem as velhas máximas.