
O '4 Cantos do Mundo' é um podcast do jornalista Diogo Matos ao qual o zerozero se uniu. O conceito é relativamente simples: entrevistas a jogadores/ex-jogadores portugueses que tenham passado por pelo menos quatro países no estrangeiro. Mais do que o lado desportivo, queremos conhecer também a vertente social/cultural destas experiências. Assim, para além de poder contar com uma entrevista nova nos canais do podcast nos dias 10 e 26 de cada mês, pode também ler excertos das conversas no nosso portal.
A vida de um jogador fora de portas nem sempre é fácil e a experiência de Celso Raposo na Grécia mostra isso mesmo. Ainda que agora esteja confortável ao serviço do Lokomotiv Sofia, na Bulgária, o lateral-direito passou algumas dificuldades no Kalamata, da Grécia.
«A partir do momento em que o treinador que estava no clube caiu, as coisas mudaram. Chegou um novo diretor desportivo e foi por causa dele que eu saí. Logo para começar, comecei por ter o salário atrasado e disseram-me que era normal, tive colegas que me disseram que tinham dois e quatro salários do ano anterior ainda por receber. No espaço de um mês, fui para aí 20 dias aos escritórios do clube», começou por contar, explicando depois como resolveu este problema:
«Houve um dia em que o presidente, que é dos EUA, estava lá e eu disse a quem estava na receção que só saía de lá quando recebesse o meu salário. Esperei mais de uma hora, o diretor desportivo ainda me disse que depois resolvia comigo, mas eu acabei por falar com o presidente. Sentámo-nos numa mesa grande, ele numa ponta e eu na outra. Ele só me perguntou "Quanto é que te devemos?" e eu "É X". Ele abre uma gaveta, tira dois maços de notas de 100 ainda com o papel do banco, atira na minha direção e diz-me assim "Isto chega?". Eu contei, disse que faltavam 150 euros, ele tirou três notas de 50 euros do bolso da camisa, amachucou-as, atirou para cima da mesa e disse "Está pago".»
Ainda assim, as quezílias, nomeadamente com o diretor desportivo, não ficaram por aí.
«Na segunda situação com esse diretor desportivo, nós fomos jogar um jogo que tínhamos obrigação de ganhar e empatámos. Não joguei e estava mesmo chateado comigo mesmo, ainda para mais estava com fome porque o jogo foi às 13h e só tínhamos comido às 8h no hotel. Cheguei ao balneário, peguei na minha pizza e sentei-me. O diretor desportivo entrou aos berros a dizer que não podíamos ter empatado o jogo. Quando acaba, olha para mim. Eu estava com a pizza aberta, mas nem estava a comer para não lhe faltar ao respeito. Ele começou a insultar-me em grego e eu comecei a falar-lhe em português "Tu estás a falar com quem? Não sou tem filho e tens de me respeitar se queres respeito". Batemos de frente, isto depois de eles terem mandado 11 gajos embora», recordou Celso Raposo.

A partir daqui, a vida do jogador português complicou-se...
«No dia seguinte era folga, mas mandaram-me ir ao escritório. Esse diretor com quem me tinha picado e chegou e disse-me "Está aí o envelope com os dias trabalhados e a rescisão do contrato". Eu respondi "Não. Assinei contrato de dois anos, nunca tive um contrato a receber bom dinheiro... Não posso receber só os dias trabalhados, temos de chegar a um acordo". Voltei a insistir que tínhamos de chegar a um acordo e foi aí que ele me disse "Tens duas saídas. Uma é esta, assinas isto e rescindimos contrato. A outra é 'esta'" e fez-me o sinal de uma pistola. Aí comecei a pensar, porque não sou herói nenhum, mas disse que tínhamos de ir pela segunda opção porque não ia rescindir sem chegarmos a um acordo.»
Resultado final? Intervenção do Sindicato dos Jogadores de Portugal e da Grécia e situação resolvida.
«Mandaram-me treinar à parte e esse diretor chegou a ir controlar os meus treinos à parte. Entretanto falei com o Sindicato cá em Portugal- nos últimos dias já estava tipo um cão ali-, o Sindicato da Grécia também entrou na história e falou com o clube. Depois disso, chegámos a acordo e recebi o que pretendia», rematou.