
É Luís Filipe Vieira na TV, uma ocasião em si só: tem um pouco menos cabelo, as rugas mais pronunciadas, o bigode desapareceu, mas o estilo, visual e na forma, mantém-se. Feita a introdução pelo jornalista, na primeira ligeira pausa a que se presta antes de iniciar as perguntas, o homem que também é uma sigla logo aproveita: LFV interrompe para agradecer “aos jogadores e equipa técnica do Benfica” pela “maravilhosa vitória” na Supertaça de Portugal, que “já devia ter sido na final da Taça”, embora aí, peruca, “infelizmente outras coisas extra-futebol fizeram com que não ganhasse”.
Não fica por aí. “E para quarta-feira” que vem, quando os encarnados defrontarem o Nice no play-off de acesso à Liga dos Campeões, “desejar-lhes as maiores felicidades, confiamos bastante neles”. Quem mais cabeça no ar, desligado das atualidades, poderia achar estar a ver, no canal NOW, o presidente do Benfica a falar. Se não o caso, pelo menos um candidato a sê-lo em breve, nas eleições marcadas para outubro. Nem uma coisa, nem outra, embora ambas expliquem o porquê de Luís Filipe Vieira estar à beira do horário nobre de uma sexta-feira a ser entrevistado.
Não foi desta que o antigo líder do Benfica durante 18 anos, que renunciou ao cargo em 2021, confirmou se irromperá de vez por entre a bruma, regressado do nevoeiro. Mas matuta sobre tal a cada manhã, faz tempo. “Todos os dias, quando estou a fazer a barba, olho para o espelho e digo a mim mesmo: ‘Vais-te mesmo candidatar ou não?’ Faço a pergunta há alguns dias. Não tomarei um passo levianamente para me candidatar a presidente do Benfica”, começou por dizer, sem satisfazer a dúvida e alastrando-a - porque já ficara por responder - à segunda entrevista em menos de um mês.
Ele explicou o seu nim, este seu jogo com o tempo. “Preciso de mais informação daquilo que eu penso que poderá existir para, definitivamente, dizer que sim. Avançar aos olhos escuros, como alguns, não vou avançar de certeza absoluta”, retumbou, aludindo quiçá a olhos fechados em vez de escuros, na bicada que lhe provocou um lapso. “Preciso dos pés bem seguros no chão: para aquilo que eu penso e acho que posso vir a encontrar, tenho de arranjar soluções para resolver esses problemas. Poderei estar disponível, mas, quando quiser dar esse passo, tenho de ter certezas de que vou resolver problemas e que terei bastante competitividade para voltar a ser campeão e continuar a ser.”
A dúvida maior, portanto, ficou por esclarecer mal a entrevista arrancou. Sobrou então tempo para as muitas críticas, diretas e incisivas a Rui Costa por mais que Vieira evitasse mencionar o nome do seu sucessor na presidência encarnadas, eleito em 2022 com quase 85% dos votos e já recandidato assumido. “O Benfica não teve liderança nenhuma nestes últimos quatro anos, todos os benfiquistas o sabem. Não teve pessoas que conduzissem um percurso sem preocupações”, queixou-se. “Estas pessoas que estão lá, em quatro anos conseguira destruir uma organização montada por mim”, realçou. E foi por aí fora.
Pintou um cenário onde “é tudo verde” na Federação Portuguesa de Futebol, ajudado pelo telemóvel na mão e os óculos no nariz que foi buscar aos bolsos para, com uma cábula, indicar os nomes de pessoas que ocupam funções na entidade e foram, diz Vieira, indicadas pelo Sporting ou têm ligações ao clube. “Isto está a pender para um lado só”, lamentou, aproveitando a deixa - “foi o nosso presidente”, portanto Rui Costa será o dele, “que permitiu esta situação”.