
A presença da Israel-Premier Tech continua a ser motivo para disrupção na Volta a Espanha. Depois de um protesto contra a a equipa ter interrompido por momentos o contrarrelógio coletivo da formação israelita, na etapa 5, a entrada da Vuelta no País Basco exacerbou as manifestações pró-Palestina. Na terça-feira, vários manifestantes invadiram a estrada, obrigando os ciclistas a desviar-se, provocando pelo menos duas quedas, sem consequências graves. E esta quarta-feira, após vários coletivos de protestantes se juntarem na reta da meta em Bilbao, a organização optou por desviar a corrida, não atribuindo vencedor e tirando os tempos da etapa a três quilómetros do final.
E na faixa dos três quilómetros quem seguia na frente era Thomas Pidcock e Jonas Vingegaard, depois do britânico desferir um potente ataque na última dificuldades desta etapa rompe-pernas, a 3.ª categoria de Pike, que além de pontos da montanha atribuia ainda segundos de bonificação. Pidcock foi o primeiro, Vingegaard, o líder da geral, foi o único que, a custo, o conseguiu seguir, com João Almeida a perder alguns metros que não conseguiria mais recuperar. Para o dinamarquês, Pidcock foi a boleia perfeita, sabendo-se da sua qualidade a descer. Além das bonificações, ambos ganharam cerca de 10 segundos a João Almeida, apanhado de surpresa numa etapa que, no papel, parecia feita para uma fuga ter sucesso. À hora de publicação deste texto, ainda não estavam definidos os tempos finais da etapa, tal foi o caos.
Fugas tentaram, mais uma vez, elementos da UAE Emirates, a equipa de João Almeida. Juan Ayuso foi um dos primeiros a tentar a sua sorte, com Marc Soler a ser o mais resiliente. Mas ainda com 50 quilómetros para meta, já o pelotão estava reunido. Até agora com uma Volta a Espanha muito discreta, Mikel Landa, nascido não muito longe dali, atacou na primeira passagem na 2.ª categoria de El Vivero, tendo depois por companhia Santiago Buitrago. João Almeida ainda esboçou um ataque na segunda passagem por esta dificuldade, sem sucesso, numa altura em que a organização já estava ciente do que estaria à espera dos ciclistas na reta da meta.
Na primeira passagem pela Gran Vía de Bilbao, com Landa e Buitrago na frente, um grupo de manifestantes fez as barreiras de proteção cederem. E, assim, a 10 quilómetros do final da tirada foi decidido que, por razões de segurança, a etapa não teria vencedor e que os tempos seriam tirados à falta de três quilómetros para a meta original.
Ciclistas reunidos no início da etapa
Depois dos acontecimentos da véspera, uma pequena reunião de emergência entre ciclistas representantes de todas as equipas da Vuelta, organização e União Ciclista Internacional teve lugar antes do início da etapa 11. Especulou-se inicialmente que vários ciclistas defendiam a exclusão da Israel-Premier Tech, mas Elia Viviani, experiente italiano da Lotto, negou tal versão ao site Cyclingnews, sublinhando que os corredores nunca decidiriam “nada contra” outros colegas de profissão e que o encontro entre as partes serviu definirem os termos da continuidade da prova.
“Se os protestos forem pacíficos, não há qualquer problema, a corrida pode prosseguir normalmente, simplesmente recomeçamos. Se houver alguma queda ou perigo para os ciclistas, aí temos de decidir o que fazer”, sublinhou Viviani ainda antes do arranque da etapa que acabaria neutralizada. Depois do final em Bilbao, haverá seguramente mais para falar entre ciclistas e organização.
A Israel-Premier Tech é financiada pelo estado israelita, que há quase dois anos bombardeia Gaza. Até maio deste ano, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, pelo menos 53 mil palestinianos tinham perdido a vida no conflito. As três grandes voltas, Giro, Tour e Vuelta, foram palco de protestos contra a presença da equipa no pelotão internacional.