Iúri Leitão, ciclista português, foi eleito a Personalidade do Ano para o Bola na Rede e concedeu uma entrevista exclusiva.
Iúri Leitão foi o vencedor do prémio Personalidade do Ano para o Bola na Rede, concedendo uma entrevista exclusiva, onde foram abordados vários tópicos. Um deles foi o estado do ciclismo em Portugal.
BnR: Centremo-nos um pouco no ciclismo em Portugal. Qual a importância do Velódromo Nacional de Sangalhos na modalidade?
Iúri Leitão: É praticamente toda (risos). Se não tivéssemos esse velódromo não tínhamos ciclismo de pista. Ele foi terminado de construir em 2009, quando surgiu o ciclismo de pista. Foi aí que tudo nasceu, não tínhamos tradição no ciclismo de pista. Houve até um concurso para selecionador e nenhum dos candidatos tinha experiência. A partir do momento em que se constrói o velódromo tudo começa. Se estamos neste nível é graças a essa infraestrutura. Temos lá as condições necessárias para nos prepararmos para este tipo de provas.
BnR: Conheces seguramente vários ciclistas portugueses. Em Portugal consegues viver da modalidade, hoje em dia?
Iúri Leitão: Não é fácil. Os valores que se pagam em Portugal não são tão generosos como acontece lá fora. Não é por isso que não dá para viver do ciclismo em Portugal, mas tendo em conta o esforço e a dificuldade, acho que o ciclismo português devia ser muito mais recompensado. Tenho amigos que competem cá, eu já fui profissional por cá, acho que é insuficiente. É certo que há meia dúzia de ciclistas, que, entre aspas, ganham bastante bem, com um bom salário. Mas a maioria não tem um ordenado justo para aquilo que faz. Temos muitos portugueses a competir e sem dificuldades financeiras, por isso dá para viver. Mas acho que é insuficiente.
BnR: Como está o estado do ciclismo nacional?
Iúri Leitão: Acho que está a melhorar bastante. Nos últimos anos tenho visto um crescer do ciclismo português. Temos passado por um momento de renovação, acho que alguns ciclistas mais velhos estão a começar a abandonar a carreira e está a vir sangue novo. Os jovens têm muita capacidade de crescer e de serem bons profissionais. Está a ser um momento positivo e de evolução. Temos outras questões que têm abalado o desporto, mas são males que vêm por bem. Temos tudo para melhorar a partir de agora.
BnR: Acreditas que vão haver mais ciclistas portugueses a correr em equipas estrangeiras?
Iúri Leitão: Eu não posso dizer isso com certeza absoluta, mas estou confiante que sim. Tenho visto muita evolução nos jovens e na condição que eles têm em Portugal. Temos tudo para ter cada vez mais ter ciclistas profissionais portugueses no estrangeiro.
BnR: Como é que a Volta a Portugal pode voltar a ter grandes nomes, como já ocorreu no passado?
Iúri Leitão: É difícil. O principal motivo que ‘deita abaixo’ a competição, tendo em conta o calendário internacional, é coincidir com o começo da Volta a Espanha. Está numa zona complicada do calendário e as grandes equipas mundiais preferem estar em provas que lhes deem mais visibilidade e pontos UCI. No final, tudo se resume aos pontos UCI. No final do ano tem que se estar acima no ranking e é isso que conta. Temos também a questão do investimento. Para a prova ser superior, são exigidos outro tipo de critérios, e é preciso mais investimento, mais patrocinadores. Para se crescer tem que se dar um passo muito maior e realocar a prova no calendário, o que não é fácil. Para o mercado português, falando da publicidade e exploração, está na melhor altura que podia estar. Não tem muito como chamar outras equipas, mas para Portugal está muito bem colocada.