
Não se pode censurar o Casa Pia por jogar com as armas que tem. Muito do crédito da goleada aplicada pelo FC Porto aos gansos esteve na forma como Farioli transformou uma equipa que antes não intimidava ninguém, parecendo um autêntico carro desgovernado, numa formação estruturada e extraordinariamente competitiva. Se havia expectativa em compreender como os dragões se comportariam frente a uma equipa de bloco baixo, defendendo com cinco jogadores e, por vezes, com oito, então a resposta não poderia ter sido mais contundente.
Equipa completa, agressiva e com um futebol avassalador, o FC Porto funciona como um corpo único que não deixa espaço ao adversário respirar, pensar e agir. Sem Samu e Pepê, este lesionado de última hora, não se notou um desvio de identidade por parte do FC Porto. Com William e De Jong, foi o mesmo que se superiorizou ao Vitória e ao Gil, intenso, paciente no arranque da partida, e implacável após abrir o marcador. A goleada ao Casa Pia, e os nove golos marcados até ao momento, sem nenhum sofrido, formam um aviso sério ao Sporting, na antecâmara do clássico do próximo fim de semana, que tal como o da Liga passada se disputa à 4.ª jornada.
O Casa Pia desceu ao intervalo a perder por 3-0. Não fosse Patrick Sequeira e o seu poste esquerdo, poderiam ter sido 7-0. Convenhamos que é para isso que existe um guarda-redes. O dos gansos é dos bons e assinalou a sua presença com intervenções de gabarito, perante um FC Porto constantemente com o pé no acelerador, a criar uma sensação de esmagamento, que com o tempo deixou de ser uma mera impressão - ou perceção, a palavra a moda. O Casa Pia sobreviveu 19 minutos com um bloco baixo, cinco defesas alinhados, mais três jogadores no apoio, e nesse período De Jong teve três finalizações, uma delas travada em voo por Sequeira, que antes já tinha fechado a porta a William (7) e Gabri Veiga (34).
Foi, portanto, uma questão de tempo. Era como se o FC Porto, no alto da sua imensa superioridade, tivesse lançado para a área do adversário uma bomba-relógio sincronizada para explodir no tempo certo e foi assim, sem o Casa Pia saber como se proteger de tamanha fome dos portistas, que Borja Sainz abriu o ativo, após uma extraordinária recuperação e assistência açucarada de Froholdt − 19 anos feitos em fevereiro, que grande descoberta!
O futebol bonito de Farioli, com muita ciência e uma estratégia desenhada não em função do adversário, mas em obediência a um desejo claro que criar uma matriz própria, trouxe ao público mais dois golos, e o de William foi uma obra de arte do brasileiro que substituiu Pepê. Driblou dois adversários, procurou a zona da meia-lua e disparou fora da área, com a bola ainda bater no poste direito antes de entrar. Alberto Costa, num golo ‘dividido’ com Nehuén Pérez, trouxe ainda mais miséria ao adversário, incapaz de incomodar Diogo Costa na 1.ª parte, e que ainda viu Alan Varela acertar no poste.
Poupança e o 'bis' de Borja Sainz
Foi tudo tão fácil que Farioli pôde mesmo preservar a identidade da equipa, pensando já no clássico com o Sporting, sábado, em Alvalade. Francisco Moura, em estreia esta época, entrou para o lugar de Zaidu ao intervalo e antes da primeira hora de jogo, Froholdt e William foram rendidos por Eustáquio e Rodrigo Mora, respetivamente. Mais tarde, entraram Prpic (Bednarek) e Zé Pedro (Alberto).
João Pereira também mexeu, no onze e especialmente no aspeto mental do seu conjunto, que surgiu mais ativo. Não necessariamente mais atrevido, mas a procurar zonas mais próxima da área portista, o Casa Pia libertou-se de amarras, imaginado que continuar a jogar à retranca só podia agravar o cenário. Eis o problema: este FC Porto tem múltiplas soluções para mexer com o estado de espírito do adversário e forçar o erro. Duplexe Tchamba caiu nessa armadilha e, inadvertidamente, lançou Borja Sainz para o bis. Ou seja, mesmo vivendo o conforto de um resultado amplo, os azuis e brancos tiveram sempre a capacidade de ter as unidades preparadas para o contra-ataque ou, como foi o caso, para um atraso disparatado...