
Alexandre Pereira, diretor-adjunto de A BOLA, recorda o dia em que Miki Fehér morreu, num jogo do Benfica em Guimarães, e as decisões que tiveram de ser tomadas na altura.
«No dia da morte do Fehér, eu ia ser pai em breve... Na altura era editor-executivo do Chefe de Redação, que era o João Bonzinho, e éramos nós dois quem estava a fechar o jornal na Travessa da Queimada. O Fernando Guerra estava no estádio, a fazer a crónica de jogo. Nós estávamos a perceber mais ou menos que as coisas eram graves, mas o Fernando alertou-nos logo, atenção, houve aquela coisa, do hospital, pronto, as coisas normais. Mas a verdade é que toda a gente percebeu que tinha acabado.
E então sentámo-nos e em cinco minutos decidimos que a capa seria toda a negro, com uma fotografia, porque o Fehér, antes de lhe dar o ataque, antes de ter aquela síncope, ele levou um cartão amarelo e riu-se para o árbitro. Então temos a foto do Fehér a rir e chamámos-lhe o último sorriso de Miklos Fehér. Nós tínhamos uma orelha, que ainda temos hoje na capa de jornal, que às vezes é publicidade e às vezes não é. Nesse dia não era. Então o que nós pusemos na orelha foi... E a partir daqui nada mais interessou. Portanto, foi o tema único desse dia, dessa edição, e marcou-me muito.
Tu vês uma morte em direto, já é marcante sempre. Tu vês uma morte em direto e depois tens de ir trabalhar sobre ela e publicar alguma coisa sobre ela foi extremamente marcante. Pelas reações de toda a gente, eu acho que aquilo ficou mais ou menos intuído, logo, que ele não teria grandes possibilidades. Obviamente que ele foi transportado para o hospital, nós tínhamos um repórter, também em Guimarães, que se chama Gonçalo Guimarães, ainda foi para o hospital, mas também ele nos foi dando logo sinais que o Fehér tinha morrido, de tal forma que quando fechamos o jornal, que nunca poderá ser depois da uma da manhã, mais tardar duas, já tínhamos a certeza absoluta que ele tinha morrido. E foi... foi duro.
O realizador que estava a trabalhar esse jogo para a Sport TV na altura é um grande realizador português chamado Ricardo Espírito Santo, e eu admirei-o sempre porque ele proibiu sempre que se mostrasse a cara do Fehér no chão.
Houve concorrentes nossos que no dia a seguir tinham o Fehér no chão, já morto, na verdade, com os olhos abertos, uma coisa muito macabra. A BOLA não publicou nada disso e a televisão não mostrou nada disso. Sabes, passados aqueles anos, poder dizer na cara ao homem que, epá, tu foste absolutamente fantástico naquele dia e ensinaste coisas a mim e a toda a gente que estava a ver televisão naquele dia.»
Hoje Jogo Eu é um programa de A BOLA com conversas intimistas com os seus jornalistas. Veja o programa completo no vídeo que abre este artigo.