
Arranca a época 2025/26. O bicampeão e vencedor da Taça Sporting defronta, no Algarve (20h45), o arquirrival Benfica, principal adversário nessas competições e que lhe venceu a Taça da Liga. Só a Supertaça escapou mesmo aos dois emblemas, foi conquistada pelo FC Porto, ainda com Vítor Bruno ao comando.
Ora, é mesmo o troféu que fio batizado com o nome de Cândido de Oliveira que volta a estar em jogo em novo dérbi. Águias e leões conquistaram-no nove vezes. As águias festejaram a última em 2023, era Roger Schmidt o treinador, e apanhavam então o adversário de hoje no ranking de vencedores. Dois anos antes, igualmente em Aveiro, Ruben Amorim levara os leões ao triunfo diante do SC Braga.
Tanto Rui Borges como Bruno Lage trazem lastro negativo e o jogo pode significar mais do que apenas a taça que ninguém quer perder, mas que leva a que lancem poucos foguetes por parte de quem ganha.
O técnico leonino, apesar dos dois títulos, não evitou deixar transparecer alguma imagem de fragilidade. Se o regresso ao 3x4x3 foi prova de humildade e de inteligência, ao mesmo tempo comprovou dificuldades em impor ideias, o que naturalmente o forçará a tentar de novo, aproveitando a pré-época que antes não teve. É legítimo e tem sempre a rede deixada por Amorim para evitar queda muito profunda.
Do outro lado, em alguns momentos, pareceu que foi mais o Benfica que não foi capaz de tirar os títulos das mãos do Sporting do que tenha sido este a arrebatá-los. Lage teve quatro momentos para a consagração e falhou três: primeiro em Alvalade na estreia do sucessor de João Pereira; depois na receção aos leões, na Luz, que poderia ter dado o campeonato; e, por fim, na final da Taça, em que esteve a vencer até ao último minuto do tempo de compensação. Depois de tudo isto, a Taça da Liga não foi mais do que mero prémio de consolação. Foi o treinador do quase e mais um acumulado, com eleições à porta a potenciar a pressão, reacenderá todas as críticas.
Talvez a eventual derrota possa mexer mais com águias do que leões face ao benefício da dúvida dado pela conquista das principais provas, porém, na realidade, as suas consequências são imprevisíveis.
O que mudou nos leões?
Viktor Gyokeres saiu e levou com ele todo o seu impacto. O sueco era muito mais do que um goleador no contexto Sporting. Era, primeiro, um avançado autossuficiente, que criava para si e para os outros, e a larga distância da baliza. Muitas vezes, aparecia como rota de fuga, quando a equipa não conseguia ligar atrás, e rapidamente acionava a ameaça. É um finalizador implacável.
Conrad Harder e Luis Suárez, apesar de boa dimensão física, não são esse 9 autossuficiente. O dinamarquês precisa de ser alimentado em zonas mais próximas da baliza e tem maiores dificuldades quando bem pressionado. Talvez melhore em relação a Gyokeres no jogo aéreo. Já o colombiano é, sobretudo, mais associativo, mais capaz nos apoios, mas menos explosivo e finalizador. Ambos jogadores com qualidade, mas que obrigam a mudar estratégias e até o processo.
Ou andou a fazer bluff em todos os jogos transmitidos pela televisão ou Rui Borges vai partir para a nova época em 4x2x3x1. Sem a possibilidade de ter antes uma pré-temporada para introduzir o seu modelo, o técnico voltou atrás. Agora, a esperança é a de que o trabalho em torno do novo esquema seja suficiente, ainda que as exibições nos particulares não tenham sido entusiasmantes.
Nas partidas mais recentes, atrás de Harder, que partirá na frente para a substituição de Gyokeres, Geny Catamo parece ter ganho a vaga da direita a Quenda, Trincão a de 10 e Pedro Gonçalves colocar-se-á sobre a esquerda. Pote chegou a ser testado no meio, diante do Celtic, mas não esteve propriamente feliz, daí que Trincão tenha agora aparecido mais vezes aí. Mesmo que a ordem seja de rotatividade entre os dois, naturalmente vão andar a pisar o território um do outro, uma vez que a sua força era até aqui feita de movimentos para dentro e não de dentro para outros terrenos. Ao acrescentar mais uma unidade atrás do 9, parece que Borges roubou espaço para que os seus elementos mais desequilibradores se movimentem livremente. Falta acrescentar que jogadores inteligentes dão quase sempre um jeito para se entenderem e o processo ainda vai no início.
Por enquanto, uma vez que os reforços para as laterais ainda estão a chegar, Borges poderá deixar uma porta aberta para o 3x4x3 que se começou a enraizar há cinco anos, através da utilização de Quaresma ou até Fresneda como laterais. A qualquer momento, sem serem necessárias substituições, um grito apenas bastará para regressar ao sistema antigo, ainda que não pareça que seja esse o caminho que o técnico queira trilhar a longo termo.
Catamo e Quenda, como extremos, tornam o Sporting hoje muito mais cauteloso do que quando eram laterais, uma vez que permitiam aos leões grande presença em número no ataque ao último terço e o fator surpresa. Hoje, os laterais são... laterais.
O que mudou nas águias?
Gyokeres era muito influente nos leões e talvez Di María fosse a unidade mais comparável no Benfica. Ainda que não a todo o campo e com decréscimo de capacidade face à idade mais avançada, o argentino não tinha igual no plantel quando era o momento de definir, fosse no passe e no remate. E as mudanças não pararam aí.
Os encarnados mexeram na sala de máquinas, com a aposta em Enzo Barrenechea e Richard Ríos para as posições 6 e 8, e em Dedic para o lado direito da defesa. Dahl não é novidade do outro lado, porém a nível de importância para o processo coletivo ainda está distante de Álvaro Carreras. Com menos tempo de preparação, Bruno Lage teve menos tempo para olear dinâmicas e ajustar jogadores ao modelo, é um facto, embora pareça ter, pelo menos, um setor mais evoluído em relação à temporada anterior.
Ríos e Enzo trouxeram mais resistência à pressão e capacidade de passe vertical às águias. Podem ser também mais eficazes, em conjunto, do que Florentino e Kokçu, na recuperação da bola — ainda que pela falta de tempo de preparação o português possa começar como titular. Dedic mostra-se mais profundo do que Bah ou qualquer outra solução e ter Aursnes por perto poderá ser a sustentação necessária para os metros que o bósnio se propõe ganhar.
Se o Sporting de Borges quer ser mais pressionante que o de Amorim, o Benfica de Lage é mais expectante que do Schmidt, que tinha pressão e contrapressão como verdadeiros número 10. Os encarnados precisam de espaço nas costas da linha defensiva para atacá-lo e sentem dificuldades quando se têm de organizar (e associar) diante de blocos baixos. Aí, os leões também não têm sido propriamente brilhantes. É preciso esperar para perceber a real dimensão do fator Gyokeres nestes momentos.
A julgar pela pré-temporada, Akturkoglu continua a ser fundamental nas ideias de Lage. É ele que garante o ataque à profundidade, embora, a curto prazo, também Ivanovic possa assegurar tais movimentos. Pavlidis sente-se mais confortável com a bola no pé ou a aparecer depois para a finalização.
Eventuais dúvidas dos técnicos
Ainda que Debast não tenha feito jogos como médio, o novo meio-campo encarnado poderá levar Borges a recuperar o belga para o lado de Hjulmand. Do outro lado, Aursnes parece ser fundamental para manter Akturkoglu à esquerda e João Veloso é o mais fluente dos centrocampistas disponíveis enquanto não chega um 10.