O espaço dos escuteiros em Mascoselo, Vila Real, transformou-se num "quartel" onde se dão bebidas, comida e uma sombra aos bombeiros, mas dali também saem voluntários de mota para apoiar os operacionais espalhados pela serra fustigada pelo fogo.

Andreia Carvalho da Silva tem percorrido esta parte da serra do Alvão de moto-quatro com bebidas frescas e comida que distribui pelos bombeiros e também populares que estão no combate ao fogo que teve início sábado, em Sirarelhos, concelho de Vila Real, e que está com a situação mais controlada, mas ainda não está em resolução.

"Tem sido uma ajuda. O calor é muito, está como se pode sentir hoje. Dentro do mal conseguimos encontrar algumas partes boas: esta união das pessoas", afirmou à agência Lusa a fotógrafa e videógrafa independente, de 34 anos.

Estava no Alentejo, mas mal soube do fogo na serra do Alvão veio para Vila Real.

"A minha mãe tem uma casa aqui, é a primeira casa da aldeia de Mascoselo (...) Vim por aí acima porque não é possível ficar simplesmente a ver pela televisão e obviamente que queremos vir proteger tudo aquilo que é nosso, a nossa casa comum, a nossa natureza e até as nossas casas", salientou.

Andreia e outros voluntários da comunidade uniram esforços com os escuteiros que abriram as portas do Campo Regional de Atividades Escutistas, em Mascoselo, onde desde segunda-feira se começaram a recolher bens doados.

Dali partem de moto os voluntários para distribuição da ajuda, mas ali também se acolhe quem precisa de comer ou de se refrescar das altas temperaturas que se fazem sentir nesta zona.

"Houve aqui uma grande união, muito rapidamente, de uma hora para a outra estava tudo isto montado e isso foi muito importante", referiu Andreia Carvalho da Silva.

Enquanto circulam de moto, estes voluntários vigiam também as reativações do incêndio e dão o alerta.

"Esse é o nosso maior medo e é por isso que estamos de vigilância", afirmou.

Rui Dinis, militar da Força Aérea com 23 anos, é de Gontães e estava de férias na aldeia. De scooter percorre também a zona entre Arrabães, Gontães e Mascoselo a levar garrafas de água, maçãs e bolachas aos bombeiros que estão na frente do combate.

"Enquanto vou andando pela estrada da zona onde ardeu vai-se sempre vendo se há algum reacendimento para, se for necessário, chamar os bombeiros. É também para ajudar a manter a população um bocado mais calma e também para ajudar os bombeiros, que não têm um trabalho fácil", referiu Rui Dinis.

Estas não estão a ser, disse, "as férias que estava a imaginar".

O espaço dos escuteiros é uma espécie de "área de descanso" para os operacionais poderem comer e descansar.

"Temos muita sombra, aqui está mais fresco. Estamos cá para ajudar", referiu Raquel Ferreira, dirigente do Agrupamento 212, que explicou que ali se preparam sandes, bebidas energéticas e águas.

Estes escuteiros estavam a chegar de uma viagem a Roma (Itália), onde estiveram a participar no Jubileu quando foram chamados a ajudar.

Andreia Carvalho da Silva destacou a articulação com a Proteção Civil, com os bombeiros e os populares que tinham as cisternas e que "foram cruciais" para a primeira chamada, quando o fogo começou na parte de cima de Mascoselo". "Eu acho que foi até decisivo essa primeira linha", apontou.

O fogo percorreu a serra do Alvão, aproximou-se de várias aldeias como Pena, Currais, Gontães, Vila Cova, Mascoselo e entrou no concelho de Mondim de Basto.

"Felizmente foi possível controlar o fogo da parte superior da aldeia [Mascoselo], há a lamentar naturalmente a nossa paisagem natural e a floresta, temos aqui cedros quase centenários. Essa é a grande tristeza que vai ficar, mas como sempre a natureza é sempre melhor do que nós e consegue surpreender-nos e dar-nos mais oportunidades", referiu Andreia Carvalho da Silva.