Ainda falta mais de um mês para se concluir a primeira jornada do campeonato e o dérbi dos comunicados já começou a devolver o futebol português aos seus piores tempos, fazendo jus à reputação ou à falta dela.

O Sporting apresentou uma queixa ao Conselho de Disciplina, chamando a atenção para aquilo que considera ter sido um insulto direto de Bruno Lage a Fábio Veríssimo nos instantes finais da Supertaça, perdida para um Benfica que se tinha manifestado contra a nomeação do árbitro que dirigiu a final do Algarve.

FREDERICO VARANDAS - PRESIDENTE DO SPORTING CP
FREDERICO VARANDAS - PRESIDENTE DO SPORTING CP JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Quem acreditou que a nova geração de dirigentes, plasmada nos três maiores emblemas e nas principais instituições desportivas, iria desencadear uma revolução nos costumes e na postura, pode começar a arrepender-se desse voto de esperança.

Por motivos que são óbvios neste mundo, o sempre em foco Luís Filipe Vieira (LFV) nunca fez parte desses crentes. Ao contrário, o homem que durante duas décadas assumiu o poder na Luz, e não só, deixou bem claro que pretende usar todas as forças para reocupar o lugar que deixou há quatro anos.

No fundo, é disso exatamente que se trata, ninguém pede licença para ir a jogo recorrendo às armas que tem disponíveis… dentro e fora de campo. Seja qual for o protagonista ou o clube em questão, vale tudo para pressionar, condicionar, mobilizar a opinião pública e obter a preferência no boletim de voto.

Se não estivesse em período pré-eleitoral, é de admitir que Rui Costa hesitasse em assinar o comunicado anti-Veríssimo, da mesma forma que talvez revelasse outra cautela na condução do dossiê relativo à centralização dos direitos televisivos. Na prática, tanto o atual como o ex-presidente dos encarnados estão a trabalhar juntos, a exemplo do que fizeram anos a fio na Luz.

RUI COSTA - PRESIDENTE DO SL BENFICA
RUI COSTA - PRESIDENTE DO SL BENFICA JOSÉ COELHO

Apesar das considerações dirigidas ao seu antigo diretor-geral, Vieira, com o discurso inflamado e supermusculado que volta a encher as manchetes, só está a validar o endurecimento das posições assumidas pós-Taça de Portugal por aquele que lhe sucedeu no cargo. Disponibilizando-se para as ações de “guerrilha” urbana que poucos conseguem corporizar e ao mesmo tempo oferecendo a Rui Costa a vantagem que resulta de uma presidência que também sabe fingir outra suavidade, LFV mina sobretudo a fragmentada oposição.

A 25 de outubro, os sócios do Benfica começam a escolher quem gostariam de ver na liderança e até lá terão tempo suficiente para perceber que a bússola que orienta os candidatos com muitos quilómetros na estrada é a mesma que marca o caminho dos que não se desviam um milímetro do propósito de ganhar a qualquer preço.

Enquanto uns ousam questionar os critérios do Conselho de Disciplina e outros comparam insultos a meros “desabafos”, ainda se continua à espera de um desmentido cabal de Pedro Proença à acusação de ter elaborado um plano para “comprar” a candidatura única à Federação Portuguesa de Futebol.

Por aqui se vê que o autor dessa acusação, um tal Luís Filipe Vieira, é apenas mais um entre tantos perfis iguais e merece ser tão perdoado como todos os outros que acham que a reputação se escreve melhor com comunicados que nunca deveriam ter chegado à primeira letra.