
A movimento Vida Justa acusa a Câmara de Loures de mentir sobre ter apresentado soluções aos moradores do bairro do Talude e garante que a autarquia ignorou várias providências cautelares.
A carta aberta em que o Vida Justa diz revelar "toda a verdade" surge depois das alegadas "mentiras" do presidente da Câmara, Ricardo Leão. Isto é, depois do autarca apresentar uma queixa-crime ao Ministério Público, denunciando uma "teia criminosa" de "comercialização de barracas" no bairro do Talude Militar e de ter acusado o movimento Vida Justa de "prejudicar as pessoas" do Talude, "proibindo-as de falarem" com os técnicos da autarquia.
Na nota enviada às redações, o movimento diz que a Câmara justificou as demolições ao alegar que as casas se encontravam em terreno público "sobre o qual não podia existir qualquer construção".
A organização critica a "demolição de algumas casas com marretas e moto-serras" e sem afixação de editais e apenas informando "oralmente" os moradores presentes.
Diz ainda que foi entregue na autarquia uma carta assinada por 109 moradores do Talude onde se pedia uma reunião com o Executivo para debater a demolição em curso e que "foi ignorada".
"Recorde-se que o artigo 13.º da Lei de Bases da Habitação obriga o Estado e as autarquias a terem alternativas habitacionais para as famílias cujas casas são demolidas e as pessoas despejadas", é dito na carta aberta.
O Vida Justa acusa a Câmara de "agir para impedir o recurso aos tribunais", evitando "confrontar-se com futuras providências cautelares".
Na nota enviada às redações, diz que a autarquia liderada por Ricardo Leão passou a afixar editais sexta-feira à noite para "proceder a demolições na segunda-feira seguinte" de forma a "eliminar qualquer hipótese de recorrer à justiça".
Moradores a dormir ao relento "no meio de destruição e insalubridade"
Após várias providências cautelares, os moradores do bairro do Talude "em grande esforço" submeteram uma nova providência no dia 13. Ainda assim, a autarquia decidiu avançar com os trabalhos.
"A Câmara reagiu apressando as demolições, para as fazer antes de ser notificada pelo tribunal", acrescenta.
Nas demolições de 30 de junho e de 14 de julho "não havia assistentes sociais no terreno". Além disso, não foi feita a limpeza de entulho e armazenamento dos pertences. Os moradores ficaram a dormir ao relento "no meio de um lastro de destruição e de insalubridade", acusa o movimento.
A Câmara só limpou o terreno no dia 19 de julho, acrescenta, depois dos moradores do bairro anunciarem uma ação de mobilização.
"Uma renda e uma caução": o único apoio social apresentado de forma sistemática
O Vida Justa refere ainda que o "único apoio social apresentado de forma sistemática" foi o pagamento de "uma renda e uma caução".
Pela existência de "crianças ao colo" ou pessoas co necessidades especiais, foi oferecido "pontualmente" alguns dias em pensões, algumas a "mais de 200 quilómetros de Loures e dos locais de trabalho dos moradores, sem condições para cozinharem ou lavarem a roupa".
Os moradores dizem não aceitar as propostas da autarquia por "não serem sérias". O movimento Vida Justa exige "soluções reais" face a uma "catástrofe humanitária.
"A autarquia não está a procura de soluções para os moradores, está apenas a fingir, para a comunicação social, que apresentou alguma coisa aos moradores."