
O Gabinete de Segurança do governo de Israel aprovou, esta madrugada, um plano militar proposto pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, para ocupar a Cidade de Gaza, no norte do enclave.
Após cerca de dez horas de reunião, o governo israelita divulgou um comunicado onde expõe o plano de Netanyahu para "derrotar o Hamas". Esse plano passa por ocupar a Cidade de Gaza, ainda que não esclareça o que acontecerá com o resto do enclave.
Em declarações à estação de televisão norte-americana Fox News antes da reunião do gabinete, Netanyahu afirmou que o seu objetivo era ocupar toda a Faixa de Gaza, mas que não pretende ficar com ela nem governá-la, mas sim manter um "perímetro de segurança" e entregá-la a "forças árabes que a governem" sem ameaçar Israel e sem o Hamas.
De acordo com o comunicado, na reunião foi descartado um "plano alternativo", por se considerar que "não conseguiria nem a derrota do Hamas nem o regresso dos reféns".
Deste plano, há a salientar cinco objetivos:
- Desarmar o Hamas;
- Fazer regressar todos os reféns com ou sem vida:
- Desmilitarização da Faixa de Gaza;
- Controlo israelita da segurança na Faixa de Gaza;
- Estabelecimento de uma "administração civil alternativa" para o enclave, que não seja nem do Hamas nem da Autoridade Palestiniana, que atualmente governa partes da Cisjordânia ocupada.
Cidade de Gaza reduzida a destroços
Desde o ataque lançado pelo Hamas a 7 de outubro de 2023, a Cidade de Gaza tem sido repetidamente alvo de bombardeamentos e ataques de Israel. O resultado é a destruição completa em vários bairros e infraestruturas essenciais, empurrando os palestinos para uma catástrofe humanitária em que pouco sobra.
Antes da guerra chegar, a Cidade de Gaza tinha uma população de cerca de 700 mil pessoas. Se quisermos ter uma ideia da dimensão, basta recordar que, de acordo com o Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia (GEE), o concelho de Lisboa tinha 567.131 residentes em 2023.
Centenas de milhares de pessoas foram forçadas a fugir na sequência de ordens de evacuação israelitas no início da guerra. Muitos acabaram por regressar durante um cessar-fogo no início deste ano.
Segundo a Associated Press, cerca de 75% de Gaza foi destruída por Israel. A maior parte da população total do território palestina, cerca de dois milhões de pessoas, vive agora abrigada na Cidade de Gaza, na cidade central de Deir al-Balah e no campo de deslocados em Muwasi.
O Ministério da Saúde de Gaza estima que a guerra já matou mais de 61 mil palestinos, sem que sejam conhecidos quantos destes são soldados ou civis.
Reações contra decisão multiplicam-se
O Governo português afirmou-se "profundamente preocupado" com a decisão, pedindo a suspensão desse plano e a aplicação de um cessar-fogo.
A oposição israelita classificou como "desastre", tendo o líder da oposição Yair Lapid, afirmado que a decisão de ocupar a Cidade de Gaza "conduzirá a muitos mais desastres", está "em completa contradição com a opinião do exército e dos funcionários de segurança", e não leva em consideração "o desgaste e a exaustão das forças combatentes".
O povo israelita também está contra a guerra em Gaza e a ocupação da Cidade de Gaza. Aqueles que vivem em Telavive defendem que a devolução dos reféns deve ser uma prioridade e que esta é uma "guerra política" com a qual não se identificam.
Fora de Israel, a Alemanha foi a primeira a reagir com mais do que críticas. O chanceler alemão Friedrich Merz suspendeu a exportação de armas que Israel poderia usar em Gaza.
Seguem-se ainda os Países Baixos que também tomaram uma atitude concreta: revogar três licenças que tinha concedido para a exportação de peças de navios militares para Israel devido ao "risco de utilização final não intencional" em bombardeamentos israelitas de Gaza.
Já a ONU exigiu que o plano israelita de controlo militar da Faixa de Gaza seja "imediatamente suspenso".
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, apela a Israel que "reconsidere imediatamente" decisão "errada" de ocupar Gaza e a ministra dos Negócios Estrangeiros australiana, Penny Wong, diz que ocupação de Gaza é "violação do direito internacional" e insta Israel a recuar.
A Autoridade Palestiniana também condena plano, descrevendo a decisão como "um crime absoluto". Advertiu ainda Israel para a deslocação forçada de 800 mil palestinianos expulsos de outras áreas do enclave.
A oposição do exército
O gabinete israelita tomou a decisão apesar da opinião divergente do chefe do exército israelita, Eyal Zamir, que afirmou antes da reunião que continuaria a exprimir-se "sem medo".
Durante a reunião, segundo vários meios de comunicação israelitas, apresentou um plano alternativo à ocupação de Gaza, que consistia em cercar as cidades e os campos de refugiados e fazer incursões pontuais.
Defendeu que entrar por terra em zonas onde houvesse reféns poderia pô-los em perigo. Zamir chegou mesmo a sugerir, segundo os meios de comunicação social, que o Governo retirasse dos objetivos da guerra o ponto relativo ao regresso dos reféns.
Segundo o Governo, a maioria dos ministros - não houve unanimidade - considerou que o plano alternativo apresentado por Zamir "não conseguiria nem a derrota do Hamas nem a devolução dos reféns".
Com Lusa