
O cardeal português José Tolentino de Mendonça considerou esta quarta-feira o Papa Francisco como um "mestre da esperança", num mundo onde decorre uma "terceira guerra mundial em pedaços".
Numa celebração eucarística pela saúde do Papa a que presidiu hoje na Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma, o cardeal avisou que o mundo tem hoje desafios que "são enormes", com "gemidos dolorosos", e Francisco é uma das poucas vozes lúcidas que apresenta uma resposta estrutural.
"Estamos a assistir a uma terceira guerra mundial em pedaços. Mas corramos o risco de pensar que não estamos em agonia, mas em parto; não estamos no fim, mas no início", salientou José Tolentino de Mendonça, que citou por diversas vezes os textos do antigo cardeal de Buenos Aires.
"Rezemos pelo Papa Francisco e pela sua saúde. Mas rezemos também por nós, para que a mensagem profética que ele transmite seja acolhida por nós e gere uma coreografia de esperança no mundo", defendeu.
"Hoje em dia, quando se pede ao cidadão comum que indique os mestres contemporâneos da esperança, um dos nomes mais citados é o do Papa Francisco", disse o cardeal, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, considerando o líder da Igreja Católica um "artífice de uma visão fraterna do mundo, ao serviço do bem comum de toda a humanidade".
Na próxima quinta-feira, o Vaticano celebra os 12 anos do pontificado de Francisco, "um incansável profeta da esperança", que representa "uma bússola para o nosso tempo".
"Ao longo dos anos, as suas palavras e gestos" derrubaram "barreiras de incompreensão e contribuíram para a criação de uma ordem internacional mais coesa em torno da necessidade do diálogo e da paz".
Por isso, quando deu entrada na clínica Agostinho Gemelli, a 14 de fevereiro, com uma pneumonia bilateral que ainda o impede de ter alta hospitalar, "a emoção e o afeto mundial que acompanharam a sua enfermidade são bem reveladores desta sintonia".
Hoje, nas "vésperas do aniversário da sua eleição, damos graças pelo seu ensinamento e pedimos a Deus que o assista com os dons necessários para que possa continuar a sua preciosa missão", disse o cardeal português.
Ao contrário das propostas conciliadoras de Francisco, "as esperanças que se apresentam como uma panaceia imediata" não passam de uma "máscara para a instrumentalização da verdade em benefício próprio", avisou.
Para Tolentino de Mendonça, "uma das formas em que o Papa Francisco se tem mostrado um apóstolo da esperança é na proclamação de uma visão integrada, na qual o futuro da humanidade é visto numa ligação inseparável com o futuro de todo o planeta".
O líder da Igreja pede aos católicos para não serem "déspotas prepotentes dispostos a sacrificar tudo e todos ao seu egoísmo", virando-se para o outro.
"Se o nosso olhar permanece fixo em nós mesmos, acabamos por perder o sentido do outro e da própria alteridade, mesmo com "A" maiúsculo", argumentou o cardeal português.
Por isso, os ensinamentos do Papa constituem "um apoio fundamental para o nosso tempo, que é uma época fascinante nas suas possibilidades, mas ameaçadora nos seus riscos", salientou, recordando o foco de Francisco na defesa da "casa comum", que é o planeta.
O cardeal português, poeta e Prémio Pessoa, terminou a homilia com uma citação do soneto camoniano "Não pode tirar-me as esperanças": 'Onde esperança falta, lá me esconde. Amor um mal, que mata e não se vê".
Segundo o Vaticano, a saúde do pontífice continua a melhorar, apesar da complexidade da sua condição médica.
A situação permanece "estável" e confirmam-se "pequenas melhorias" no estado de saúde do Papa Francisco, que os médicos continuam a dizer que é complexa.
Estas "pequenas melhorias" levaram já a equipa médica a levantar o prognóstico reservado, o que significa, segundo fontes do Vaticano, que o pontífice argentino "não corre perigo iminente devido à infeção respiratória" e à pneumonia bilateral pelas quais foi internado.