Em 6 de fevereiro de 2023, um terramoto de magnitude 7,8 abalou o sudeste da Turquia, perto da fronteira com a Síria, e as réplicas continuaram por vários dias. Nesse ano, segundo os sismógrafos, a terra tremeu cerca de 22 mil vezes na região que engloba a Turquia e a Síria.
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o terramoto afectou cerca de 15,73 milhões de pessoasna Síria e na Turquia.
Na Turquia, 2,5 milhões de crianças - muitas das quais refugiadas sírias - enfrentaram um risco acrescido de pobreza, trabalho infantil ou casamento infantil na sequência da catástrofe. A Turquia acolhe o maior número de refugiados do mundo, incluindo cerca de 3,6 milhões de sírios, de acordo com o ACNUR.
Pelo menos 50 mil pessoas morreram.
Já passaram quase dois anos e, nas zonas mais afetadas, milhares de pessoas vivem em cidades feitas de contentores, iguais aos que são utilizados como habitação temporária de trabalhadores na construção civil ou como casas de banho de festivais.
Tiago Cardoso, que tem formação em Direito e trabalha há anos na área da proteção internacional de migrantes, está a viver num desses contentores, e falou com o Expresso a partir de uma das cidades mais afetadas, Adiyaman.
Há cerca de 40 cidades-contentor na região e em cada uma vivem pelo menos 1000 pessoas, em algumas o número está mais perto das 2000, o que dá um total mínimo de 40 mil pessoas deslocadas que não sabem quando vão voltar a ter uma casa, uma vez que a maioria dos prédios residenciais ou foram totalmente abaixo ou estão rachados a meio e esperam apenas a data da demolição.
Esta é também uma zona curda, e muitas das pessoas que vivem nestes campos improvisados, que entretanto já têm os seus restaurantes, locais de culto e escolas primárias, dizem que o investimento do Governo na reconstrução é pouco porque fazem parte de uma etnia que não tem os mesmos direitos que os restantes cidadãos da Turquia.
Neste episódio percorremos as ruas do epicentro do terramoto que abalou a Turquia e a Síria em 2023 com Tiago Cardoso, português formado em Direito que tem dedicado boa parte da sua vida académica e profissional ao tema do direito dos refugiados. Fala ao Expresso a partir do contentor onde está a viver, em uma das pequenas cidades que nasceram após o terramoto, feitas destas casas improvisadas que cada vez parecem mais permanentes a quem as habita.
O podcast Mundo a Seus Pés é apresentado, em regime rotativo por Pedro Cordeiro, Ana França, Mara Tribuna e Hélder Gomes.