Investigadores norte-americanos observaram, pela primeira vez, o processo que leva o suor a cobrir a pele. Seis voluntários vestiram fatos aquecidos e transformaram-se em “burritos” humanos para mostrar que, afinal, o suor sobe como uma maré e forma uma película contínua. A descoberta poderá ajudar no desenvolvimento de tecidos e tecnologias que melhorem o arrefecimento do corpo.

Segundo um estudo publicado no Journal of the Royal Society Interface, o suor não sai da pele em pequenas gotas isoladas: acumula-se nos poros, forma pequenas poças e depois cria uma película contínua, espalhando-se como um lençol de água sobre a pele.

“O suor tem a má reputação de ser ‘repugnante’, mas é incrivelmente importante”, diz Konrad Rykaczewski, engenheiro térmico e de materiais da Universidade Estadual do Arizona.

A humidade, por si só, não refresca. É a evaporação que arrefece a pele. Compreender este mecanismo pode ajudar a criar melhores tecnologias de arrefecimento.

Seis voluntários em fatos aquecidos

Para observar o processo, a equipa de Rykaczewski e do especialista em hidratação Stavros Kavouras testou seis voluntários.

O investigador Konrad Rykaczewski está a suar pela ciência enquanto os seus colaboradores medem os resultados.
O investigador Konrad Rykaczewski está a suar pela ciência enquanto os seus colaboradores medem os resultados. Samantha Chow/Arizona State University

Cada participante sentou-se numa poltrona reclinável, vestindo um fato completo com tubos que faziam circular água quente ou fria. Para manter o suor fora dos cobertores aquecidos que os envolviam, foi colocada uma camada de papel impermeável.

“A sensação é agradável nos primeiros 15 minutos, especialmente no inverno. Ao fim de cerca de duas horas, fica um pouco, bem, suado", contou Rykaczewski.

Do micro ao macro: como o suor se forma

O suor começa nas glândulas sudoríparas, localizadas na hipoderme. Nos primeiros minutos de calor, emerge dos poros e evapora num ciclo contínuo. Mas não aparece como uma gota perfeita e sim como uma superfície quase plana, que transborda e se liga a outras até formar uma película.

O investigador Konrad Rykaczewski testa novos equipamentos que a sua equipa desenvolveu para estudar a transpiração./ Arizona State University

A "maré" de suor também encharca o estrato córneo - a camada mais externa de células mortas da pele - como se fosse uma esponja. Quando essa camada fica saturada, o suor acumula-se na superfície. Ao arrefecer, a película evapora rapidamente e deixa uma fina camada de sal.

Quando o aquecimento regressa, o suor surge mais depressa. A camada de sal facilita a penetração no estrato córneo e a formação salta diretamente para a película, sem passar pela fase de gota plana.

"Uma vez que existe uma camada de sal no estrato córneo, o suor simplesmente penetra nela, ignorando o processo. Isto é bom do ponto de vista do arrefecimento evaporativo, pois uma fina película de suor que sai dos poros cobre a área máxima da superfície para uma evaporação rápida", explica Rykaczewski.

O suor não é igual em todo o corpo

O estudo concentrou-se na testa, que tem micropelos que ajudam na evaporação.

Axilas, braços e outras zonas têm diferentes concentrações de glândulas, pelos e odores.

Aplicações práticas: da ciência aos tecidos

O conhecimento sobre como o suor sobe e se espalha poderá ser útil no desenvolvimento de roupas mais eficientes.

"Os testes em tecidos usam atualmente gotículas muito maiores, que podem não refletir a forma real como o suor interage com os materiais e provoca arrefecimento”, explica Emiel DenHartog, biofísico especializado em vestuário da Universidade Estadual da Carolina do Norte. "Seria interessante ligar estas duas áreas de investigação".