"O problema do financiamento da campanha nunca foi levantado", disse Sarkozy, após ser questionado por Nathalie Gavarino, presidente do Tribunal Penal de Paris, que o julga por alegado financiamento irregular com dinheiro do regime líbio de Muammar Kadhafi.

O ex-chefe de Estado enfatizou que a UMP - agora Les Républicains - era "uma máquina fantástica" e a sua candidatura era apoiada por "um vasto movimento popular", que "foi aumentando".

Para ilustrar, destacou que "80.000 pessoas" estiveram presentes no comício para a anunciar a sua candidatura ao Eliseu.

Sarkozy, que venceu a segunda volta das eleições contra a socialista Ségolène Royal e foi chefe de Estado de 2007 a 2012, insistiu que "era o presidente do principal partido de França (a UMP - União por um Movimento Popular), não de um partido pequeno".

Alegou ainda que nunca tratou dos detalhes do financiamento, nem teve reuniões com fornecedores e que a sua única contribuição foi participar em reuniões com doadores, que foram dirigidas pelo tesoureiro da campanha de 2007, Éric Woerth, que é um dos 13 acusados no julgamento.

O antigo Presidente francês, por outro lado, rejeitou a teoria que sustenta a acusação de que a visita de Khadafi a Paris em dezembro de 2007, poucos meses após a sua tomada de posse, foi uma compensação ao líder líbio pelo dinheiro que alegadamente pagou para que pudesse ser eleito.

Também negou que a contrapartida fosse a assinatura de contratos de fornecimento de armas à Líbia, mas sim "libertação das enfermeiras" búlgaras que, com um médico palestiniano, tinham sido sequestradas e torturadas pelo regime de Khadafi, que as acusou de ter contagiado crianças com SIDA.

Após oito anos detidas, as cinco enfermeiras e o médico foram libertados em julho de 2007 por intermediação de Sarkozy, que chegou a enviar a sua então mulher, Cecília, para Tripoli.

O ex-chefe de Estado insistiu que Ziad Takieddine, o intermediário franco-libanês que é também é arguido no caso, "não teve qualquer papel na libertação das enfermeiras ou em qualquer outra coisa".

Sarkozy começou a ser julgado na passada segunda-feira pelo Tribunal Penal de Paris.

Na primeira parte da audiência, advogado do ex-chefe de Estado afirmou, que as acusações contra Sarkozy deveriam ser examinadas pelo Tribunal de Justiça da República, que é competente para julgar membros do governo por atos relacionados com o exercício do seu cargo.

Neste processo, que se prolongará até 10 de abril, o antigo Presidente francês é acusado de crimes que podem resultar, se condenado, numa pena de até 10 anos de prisão e em multas em torno de 375 mil euros.

O ex-Presidente Sarkozy já foi condenado em outros dois processos. Num destes casos, que já teve a decisão definitiva do Supremo Tribunal, foi condenado a um ano de prisão por corrupção e tráfico de influência, que poderá cumprir em prisão domiciliária com pulseira eletrónica.

Além disso, o antigo chefe de Estado conservador foi condenado em primeira instância pelo financiamento irregular da sua fracassada campanha eleitoral presidencial de 2012 (perdeu para o socialista François Hollande), a uma pena de um ano de prisão. O julgamento do recurso já aconteceu e a decisão será conhecida ainda este ano.

 

JML (CSR/TAB) // RBF

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