A "refundação" do INEM é um "plano que está em construção", afirmou o presidente interino do INEM esta quinta-feira aos deputados. Sérgio Dias Janeiro confessou até que está "a aproveitar toda a atenção que a tutela está a dar ao INEM" para tentar resolver os problemas.

Sem avançar muitos detalhes sobre a estratégia de refundação, garantiu que passa pelo "reforço do papel regulador do INEM", mas que "não é para privatizar o socorro pré-hospitalar, e muito menos o Centro de Orientação de Doentes Urgentes". O responsável explicou ainda que o "INEM precisa de poder passar mais responsabilidades de forma sustentada e regulada aos parceiros", como os bombeiros e a Cruz Vermelha, e "aumentar as suas competências", pois "a profissão de técnico de emergência pré-hospitalar não tem de ser exclusiva do INEM".

No plano do acionamento do socorro, o responsável pelo instituto afirmou que é necessário "rever os protocolos de triagem para uma ativação mais criteriosa", desde logo, que permita "ajustar os meios aos recursos disponíveis", sublinhou o médico militar.

"Sinto que tenho condições para continuar"

Sérgio Dias Janeiro não sai pelo seu pé da direção do INEM. Aos deputados foi taxativo: "Sinto que tenho condições para continuar". Questionado sobre a passagem da Emergência Médica para a tutela direta da ministra da Saúde, respondeu: "Não sinto isso como uma desautorização. Continuarei até ao último dia a trabalhar com finco (...) para deixar o INEM mais sustentável", desde logo, "menos dependente do trabalho suplementar", agora acima de 870 mil horas extra por ano.

No Parlamento, Sérgio Dias Janeiro disse ainda que reunia a cada 15 dias com a secretária de Estado da Gestão da Saúde e "que mais discutido foi a revisão da carreira e grelhas salariais dos profissionais, além do helitransporte" e até que foram feitas "várias simulações" sobre os valores.

"Uma tempestade perfeita"

Os efeitos da greve dos técnicos foram reconhecidos, no entanto, o presidente interino do INEM optou por referir-se a "uma tempestade perfeita". E confessou: "Tenho muita dificuldade em atribuir culpas individuais", sublinhando que espera com grande expectativa os resultados dos inquéritos da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde, até para equacionar o que deve ser a greve de profissionais de Emergência Médica. Há uma “linha muito ténue” entre o direito à greve e o dever de dar resposta no socorro.

Até lá, aos resultados dos inquéritos, Sérgio Dias Janeiro diz estar a “aproveitar toda a atenção dada ao INEM para resolver questões paradas há anos”.

Formação externalizada em 2025

O Presidente interino do INEM revelou ainda que o instituto vai deixar de assegurar na íntegra a formação dos técnicos de emergência pré-hospitalar. Já no próximo ano, "a formação será complementada com as escolas médicas e irá ser externalizada e deixar de ser dada em exclusividade pelo INEM". A expectativa é conseguir formar mais 200 profissionais em 2025, a somar às duas dezenas que no final deste ano vão poder ingressar na Emergência Médica.

Sobre a greve dos técnicos ao trabalho extraordinária, associada a 11 mortes por atraso no socorro, Sérgio Dias Janeiro garante que fez sucessivas tentativas "a insistir na necessidade de cumprimento de serviços mínimos". E explicou que no turno da tarde de segunda-feira, dia 4 de novembro, quando coincidiram duas paralisações, estavam "70% escalados, 35 técnicos, nesse turno", o que permitiu "começar a recuperar do atraso da manhã". No entanto, outro fator foi negativo.

O responsável pelo INEM explicou que na resposta não impacta apenas o número de técnicos, mas também "o estado anímico e motivacional" e nesse turno "cada um atendeu, em média, menos chamadas" do que o habitual.