As queixas dos utentes às urgências hospitalares continuam a aumentar de forma expressiva. Só no primeiro semestre deste ano, o Portal da Queixa recebeu 1.800 reclamações relacionadas com estes serviços, “um aumento de quase 91% em comparação com o mesmo período de 2024”.

Os meses de maio e junho foram os mais críticos, com subidas superiores a 130% no número de denúncias apresentadas, indica o comunicado enviado às redações.

De acordo com os dados, os principais motivos de insatisfação são o mau atendimento (37% das queixas), a falta de comunicação (22%), as cobranças indevidas (16%), problemas de segurança e qualidade (11%) e tempos de espera excessivos ou incumprimento de prazos (9%).

A obstetrícia é a área que mais queixas gera em contexto de urgência: 31% das reclamações referem-se a esta especialidade. Seguem-se Ginecologia (10%) e Pediatria (8%).

56 partos fora dos hospitais

Este ano já foram registados 56 partos em ambulâncias ou fora de unidades de saúde — o caso mais recente aconteceu numa rua do Carregado. O problema agrava-se porque o SNS tem apenas “metade dos médicos obstetras necessários para garantir todas as urgências, que continuam a funcionar de forma rotativa”, refere o Portal da Queixa.

Ainda no que diz respeito às queixas sobre urgências, Lisboa e Porto estão no topo da lista, mas também Setúbal, Aveiro e Braga somam um elevado número de denúncias, tanto em hospitais públicos como privados.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) reúne 24% das queixas relacionadas com urgências. No setor privado, destacam-se a CUF (18%), a Lusíadas Saúde (11%), o Hospital da Luz (8%) e o Trofa Saúde (4%).

“Dados não podem ser ignorados”

Para o fundador do Portal da Queixa, os números não deixam dúvidas. “Estamos perante um problema sistémico”, diz Pedro Lourenço. “O aumento de quase 91% nas reclamações sobre serviços de urgência só em 2025 confirma aquilo que os utentes denunciam há anos: um sistema desorganizado, indiferente e, em muitos casos, desumano.”

Segundo o responsável, a resposta das entidades continua a ser “o improviso”, apesar de o padrão se repetir queixa após queixa. “Estes dados não podem ser ignorados: estamos perante um problema estrutural que exige ação imediata e coordenação entre entidades e organismos do Estado.”

As reclamações dirigidas ao setor da saúde, em termos gerais, também não param de crescer. Nos primeiros seis meses de 2025, o Portal da Queixa recebeu quase 3.500 queixas, mais 53% do que no mesmo período de 2024. Maio e junho foram os meses mais críticos, com aumentos superiores a 80%.