"O Banco Mundial é uma organização apolítica, desde que consigamos fazer o nosso trabalho de forma segura, reduzindo os riscos, garantindo transparência e inclusividade, continuamos o nosso trabalho; é infeliz o que se está a passar e esperamos uma resolução pacífica e também que as coisas no norte não piorem", disse Victoria Kwakwa em entrevista à Lusa.
Questionada sobre se o ambiente de violência pode prejudicar os projetos do Banco Mundial em Moçambique, a vice-presidente do Banco Mundial para a África Oriental e Austral respondeu: "Temos flexibilidade para ajustar o nosso trabalho, mas não fizemos ainda ajustamento nenhum, porque estamos a conseguir implementar as operações".
"Teremos de abrandar se for o caso, o que ainda não aconteceu, estamos a acompanhar de perto a situação e vamos debater com o novo governo o futuro do portefólio e o nosso envolvimento no país", adiantou.
O Banco Mundial tem mais de 40 projetos em funcionamento no país, num valor acima de sete mil milhões de dólares (mais de 6,6 mil milhões de euros), ao abrigo da parceria com o país, centrada nos pilares do crescimento sustentável, inclusivo e resiliente, e do fortalecimento do capital humano, nomeadamente nas áreas da educação, saúde e proteção social.
Questionada sobre se os megaprojetos do gás natural, no norte do país, podem ser financiados pelo Banco Mundial, Victoria Kwakwa respondeu que desde 2019 que o petróleo e gás estão fora do portefólio de projetos que o Banco pode financiar, a não ser em casos excecionais em que não haja uma fonte alternativa de receitas para o Estado.
"Moçambique, tal como Angola, têm muitas riquezas naturais, nomeadamente na área das energias renováveis, e em particular eólica, por isso o financiamento de projetos de petróleo e gás nestes países está fora de questão", afirmou.
Pelo menos 67 pessoas morreram e outras 210 foram baleadas no espaço de um mês nas manifestações de contestação dos resultados das eleições gerais de 09 de outubro em Moçambique, indica uma atualização da ONG moçambicana Plataforma Eleitoral Decide.
Segundo o levantamento divulgado sábado pela Human Rights Watch, houve ainda pelo menos 1.326 detenções na sequência dos protestos de 21 outubro a 21 de novembro, mas neste caso ainda pendente de atualização por parte da Ordem dos Advogados de Moçambique, que tem prestado apoio jurídico nestes processos.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane tem convocado estas manifestações, que degeneram em confrontos com a polícia - que tem recorrido a disparos de gás lacrimogéneo e tiros para dispersar -, contestando a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
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