Foi uma cena poucas vezes vista na política e na diplomacia internacional: esta segunda-feira, viram-se nove líderes mundiais sentados à volta de uma mesa, com a comunicação social a ouvir e o anfitrião, Donald Trump, a dar a palavra a cada um deles para dizer de sua justiça. Depois a porta fechou-se, mas o que se ouviu até esse momento foram muitos apelos a um acordo entre as partes, para poupar civis e crianças, e elogios, muitos elogios a Trump na Sala Leste da Casa Branca, em Washington.

"É uma grande honra ter todos aqui. A Casa Branca é especial, representa muitas coisas e é linda. Obrigado por todas as coisas maravilhosas que ocorreram hoje. Tivemos importantes discussões para parar as mortes, é um objetivo simples que todos temos, parar as mortes", começou Trump sentado ao centro da mesa. "Acabei de ter a honra de estar com o Presidente Zelensky, todas as conversas que tivemos, cobrimos muito território. Conversei indiretamente com o Presidente Putin hoje, vamos ligar-lhe logo após esta reunião. Tenho certeza que será uma ótima reunião", disse. No entanto, as coisas não foram exatamente assim, com o inquilino da Casa Branca a travar a reunião a meio para falar com o homólogo russo.

Na sequência, o Presidente dos Estados Unidos (EUA) deu as boas-vindas aos diferentes líderes presentes na sua residência oficial: Mark Rutte, secretário-geral da NATO; Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido; Emmanuel Macron, Presidente da França; Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália; Friedrich Merz, chanceler da Alemanha; Alexander Stubb, Presidente da Finlândia, e Ursula Von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia.

Trump demonstrou otimismo em relação ao fim da guerra. Após o encontro com Putin no Alasca na última sexta-feira, o republicano afirmou hoje que Moscovo "aceitaria garantias de segurança para a Ucrânia". Por outro lado, demonstrou que é necessário "discutir a possível troca de territórios que deve ser levada em consideração. A atual linha de contato, isto é, as zonas de guerra que são óbvias, muito triste olhar para elas. E a negociar as posições têm de estar o Presidente Putin e o Presidente da Ucrânia".

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Zelensky grato e em busca da libertação dos prisioneiros de guerra

Zelensky recebeu a palavra e agradeceu a postura de Trump. "Nós tivemos ótimas conversas. Falamos de vários tópicos sensíveis. O primeiro é a garantia de segurança. A segurança de Ucrânia depende dos Estados Unidos e dos líderes que estão connosco", disse o ucraniano. Na sequência, o Presidente pediu a libertação de prisioneiros de guerra. "[Temos de] trazer as crianças de volta, trazer todas as nossas pessoas. Soldados, jornalistas, muitas pessoas estão presas. Precisamos delas de volta".

Trump, por sua vez, voltou a demonstrar otimismo e concordou. "Putin também gostaria de fazer algo. Quando fizermos, vai haver movimentos muito positivos. Eu sei que há mais de mil prisioneiros, e eu acho que eles vão libertá-los. Talvez os libertem muito em breve, o que eu acho que é ótimo. Vamos ver depois desta reunião".

Europa quer cessar-fogo, Trump não vê necessidade

Antes de ceder a palavra aos restantes participantes, Trump diminuiu a necessidade de um cessar-fogo para garantir a paz na Ucrânia. "Todos nós gostaríamos de um cessar-fogo enquanto discutimos a paz duradoura. Talvez algo assim possa acontecer, mas neste momento isso não vai acontecer. Nas seis guerras que parámos, não tivemos nenhum cessar-fogo. Não sei se é necessário".

Mesmo assim, os agradecimentos ao Presidente seguiram com os diferentes líderes europeus presentes na Casa Branca. Mark Rutte, secretário-geral da NATO, agradeceu pelo início do diálogo entre EUA e Rússia. Rutte ressaltou que é fundamental acabar com o conflito, com as mortes e com a destruição da infraestrutura ucraniana. "Eu realmente quero agradecer a você [Trump] pela liderança, a tudo que o Volodymyr [Zelensky] tem feito e a todos os colegas europeus", disse pouco antes de concluir.

Ursula Von der Leyen falou de seguida, evidenciando que a Europa está a participar das negociações como aliada. A Presidente da Comissão Europeia disse “ser muito bom ouvir” que os EUA estão dispostos a participar na segurança ucraniana e agradeceu pela menção às crianças que foram “raptadas”. “Isso deve ser uma das nossas prioridades, ter certeza de que as crianças voltarão às suas famílias”.

Entre os comentários dos líderes europeus, Trump exaltou diferentes aspetos da parceria entre União Europeia (UE) e os Estados Unidos. Após Rutte falar, o Presidente republicano relembrou o acordo para aumentar o investimento em defesa dos países da NATO para 5% do produto interno bruto. Após Von der Leyen, o chefe de Estado elogiou o acordo comercial firmado recentemente, em que os EUA impuseram tarifas de 15% à UE.

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Friedrich Merz, por sua vez, entende que “os próximos passos são os mais complicados”, mas que o caminho foi aberto pelo Presidente dos EUA na reunião realizada com Putin na última sexta-feira. O alemão foi o primeiro a cobrar um cessar-fogo após o norte-americano negar esta possibilidade no momento atual. “Sinceramente, todos gostaríamos de ver um cessar-fogo”, disse. “Eu não consigo imaginar que a próxima reunião vai acontecer sem um cessar-fogo”.

A França acompanhou Merz e exigiu um cessar-fogo imediato para dar sequência às conversas pelo fim da guerra. “Todos nesta mesa são a favor da paz”, disse Macron. “É preciso pedir por um cessar-fogo, pelo menos para parar as mortes, é uma necessidade. Todos apoiamos isso”. O líder francês também citou as diferentes garantias que são necessárias. “Primeiro, um exército ucraniano credível”, explicou. Depois, mencionou que “a Europa está ciente de que tem a sua parcela nas garantias de segurança da Ucrânia”.

As garantias não são apenas para a Ucrânia, entende Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido. “Estamos a falar da segurança da Europa e do Reino Unido também, por isso é algo tão importante”, afirmou. O político elogiou a postura americana de viabilizar estas garantias para possibilitar uma paz duradoura, mas sem citar um cessar-fogo.

A Itália, por outro lado, adotou uma postura diferente. Giorgia Meloni não comentou a possibilidade de um cessar-fogo, mas celebrou a abertura norte-americana para fornecer garantias de segurança à Ucrânia. A primeira-ministra também não poupou elogios a Trump. “Após três anos que não víamos uma mudança de postura da Rússia, algo está a mudar graças a si”.

O último europeu a falar foi Alexander Stubb, que, assim como os restantes, elogiou a possibilidade de garantias de segurança americanas a Kiev. O Presidente finlandês explicou que o país possui uma longa fronteira com a Rússia e, por isso, tem interesse especial em garantir uma paz duradoura na Europa.

Texto escrito por João Sundfeld e editado por João Pedro Barros