O Irão vai retomar as negociações sobre o seu programa nuclear em Genebra na terça-feira com a França, o Reino Unido e a Alemanha, anunciou a televisão estatal iraniana.

"Esta nova ronda de negociações", após uma anterior realizada em julho na cidade turca de Istambul, terá lugar "ao nível dos vice-ministros dos Negócios Estrangeiros em Genebra", informou a televisão estatal.

O Irão será representado por Majid Takht-Ravanchi, de acordo com a agência de notícias Tasnim, ligada à Guarda Revolucionária Iraniana, o exército ideológico do país.

A França, o Reino Unido e a Alemanha são signatários do histórico acordo nuclear de 2015 com o Irão, pelo qual as sanções contra a república islâmica foram suspensas em troca de garantias sobre o caráter pacífico do seu programa.

Com a saída unilateral dos EUA em 2018, o acordo ficou virtualmente suspenso.

Após a guerra com Israel e os ataques norte-americanos às instalações nucleares iranianas, os países europeus tentaram acalmar os ânimos, mas também avisaram o Irão que poderiam reativar as sanções se o Irão não retomasse sua colaboração.

O anúncio surge um dia depois do líder supremo iraniano, Ali Khamenei, ter rejeitado apelos internos para iniciar negociações diretas com Washington a fim de chegar a um acordo sobre o programa nuclear iraniano e aliviar as tensões.

"Aqueles que nos dizem por que não negociamos diretamente com os EUA e não resolvemos os problemas só veem as aparências. À luz do verdadeiro objetivo da hostilidade dos Estados Unidos em relação ao Irão, essas questões são insolúveis", afirmou Khamenei, numa cerimónia em Teerão por ocasião do aniversário do martírio do oitavo imã xiita, o imã Reza, segundo informou a agência iraniana IRNA.

O líder disse ainda que Israel e os EUA compreenderam, após "a resistência e a poderosa união do povo, dos responsáveis e das forças armadas" na guerra dos 12 dias em junho, que não é possível "subjugar a nação iraniana com a guerra nem obrigá-la a obedecer".

Por isso, agora procuram alcançar o seu objetivo através da "criação de divisões dentro do país", disse Khamenei, que insistiu na necessidade de manter a coesão interna.

Estas declarações surgiram depois de a Frente de Reformas - uma coligação de partidos reformistas - e várias figuras próximas terem apelado a mudanças estruturais no país, especialmente na política externa, e a aceitar a exigência do Ocidente de suspender o enriquecimento de urânio em troca do levantamento das sanções que asfixiam a economia.

O Irão e os EUA mantiveram cinco rondas de conversações nucleares indiretas antes da guerra em junho, que ficaram num impasse, uma vez que Teerão insiste no seu direito de enriquecer urânio para fins pacíficos como signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear.

Perante esta situação, Washington interveio no conflito bélico entre o Irão e Israel com bombardeamentos contra três instalações nucleares do país persa, o que a República Islâmica classificou como uma traição à diplomacia.