
Depois de Israel ter anunciado um plano militar para ocupar a Cidade de Gaza, artistas manifestaram-se nas redes sociais. A icónica banda U2 posicionou-se contra o ataque lembrando que o "silêncio não serve ninguém", já Madonna apelou a que o sumo pontífice visite a Faixa de Gaza "antes que seja tarde demais".
A rainha da pop partilhou esta segunda-feira à noite uma publicação onde frisa que "a política não pode afetar a mudança" e só a "consciência o pode fazer". Por esse motivo, escreve para o "Homem de Deus" num apelo a que visite a Faixa de Gaza em missão humanitária "antes que seja tarde demais".
Madonna escreve que "enquanto mãe", no dia em que o filho Rocco celebra o seu aniversário, não consegue suportar ver o sofrimento das crianças em Gaza. Na mensagem partilhada nas redes sociais afirma que o Papa Leão XIV é "o único cuja entrada não pode ser negada" e é necessário abrir portas humanitárias para salvar estas "crianças inocentes".
"Não há mais tempo. Por favor, diga que vai [a Gaza] ", lê-se no post da cantora.
Para a artista, o melhor presente que pode dar ao filho Rocco "é pedir a todos que façam o que puderem para ajudar a salvar as crianças inocentes presas no fogo cruzado em Gaza".
" Não estou a apontar o dedo a ninguém ou a culpar alguém ou a tomar partidos . Todos estão a sofrer. Inclusive as mães dos reféns. Rezo para que também sejam libertadas", conclui Madonna.
U2 contra escolha "desumana" de Israel
A banda irlandesa emitiu um comunicado, este domingo, no seu site oficial e nas redes sociais, onde sublinham que "o bloqueio da ajuda humanitária e os planos para uma tomada militar da Cidade de Gaza levaram o conflito a um território desconhecido" e, apesar de assumirem não ser "especialistas na política da região", querem que o público saiba de que lado estão.
Cada um dos elementos da banda, Bono, The Edge, Adam e Larry, assina um pequeno texto onde aborda a sua opinião e posição perante a guerra no Médio Oriente. Bono afirma que costuma optar por ficar "de fora da política do Médio Oriente" por entender a "complexidade óbvia" desta matéria. No entanto, "as imagens de crianças famintas na Faixa de Gaza" fizeram com que se recordasse "de uma viagem de trabalho a um posto de alimentação na Etiópia" que fez com a esposa Ali há 40 anos "após a participação dos U2 no Live Aid 1985".
"Testemunhar a desnutrição crónica de perto tornaria [esta guerra] pessoal para qualquer família, especialmente porque afeta crianças. Porque quando a perda de vidas de não combatentes em massa parece tão calculada... especialmente as mortes de crianças, então 'mal' não é um adjetivo hiperbólico... no texto sagrado dos judeus, cristãos e muçulmanos, é um mal que deve ser resistido ", declara Bono.
Bono recorda o ataque do Hamas contra Israel em 2023 afirmando que, ao longo dos meses, foi esse ataque que justificaria - na sua perspetiva - as ações de Israel. No entanto, tal deixou de ser possível justificar: "Quando é que uma guerra justa para defender o país se transformou numa apropriação injusta de terras? Eu esperava que Israel voltasse à razão. Eu estava a inventar desculpas para um povo marcado e moldado pela experiência do Holocausto... que entendia que a ameaça de genocídio não é simplesmente um medo, mas um facto..."
Por fim, acabou por entender, argumenta, que o "Hamas não é o povo palestiniano".
"Sabemos que o Hamas está a usar a fome como arma na guerra, mas Israel também está, e sinto repulsa pela falha moral ", declara.
Bono acaba por deixar claro que apoia a "uma solução de dois Estados" e que os U2 se solidarizam "com o povo palestiniano que verdadeiramente procura um caminho para a paz e a coexistência com Israel e com sua legítima reivindicação por um Estado". Como tal, afirma que a "banda se comprometeu a contribuir" através de doações para a Medical Aid For Palestinians.
The Edge, por sua vez sublinha que estão "profundamente chocados e consternados com o sofrimento que se desenrola em Gaza" e que o que se está a testemunhar "não é uma tragédia distante", mas sim "um teste à nossa humanidade". Dirige-se ainda ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, com três questões morais sobre a guerra que leva a cabo e sublinha: "Sabemos, por experiência própria na Irlanda, que a paz não se constrói por meio da dominação."
" Não pode haver paz sem justiça. Não pode haver reconciliação sem reconhecimento. E não pode haver futuro a menos que nos recusemos a deixar o passado se repetir", escreve The Edge.
Adam é o mais direto dos quatro, destacando que "se Israel se mover para colonizar a Faixa de Gaza, anulará permanentemente qualquer possibilidade de paz duradoura ou solução" para a guerra.
"Preservar a vida civil é uma escolha nesta guerra", conclui Adam.
Por fim, Larry afirma que a "resposta de Israel [ao ataque do Hamas em outubro de 2023] era esperada", mas o que não se esperava era a "dizimação indiscriminada da maioria das casas e hospitais em Gaza, com a maioria dos mortos a serem mulheres e crianças" e a "fome" que se vive neste território.
"É difícil compreender como qualquer sociedade civilizada pode pensar que matar crianças de fome vai promover alguma causa e ser justificado como uma resposta aceitável a outro horror. Para sermos francos, matar civis inocentes de fome como arma de guerra é desumano e criminoso", sublinha Larry.
Para o baterista irlandês, "o poder de mudar esta obscenidade está nas mãos de Israel".
"A poio o direito de Israel existir e também acredito que os palestinianos merecem o mesmo direito e um Estado próprio. O silêncio não serve a nenhum de nós", conclui.
Israel aprovou plano militar para ocupar Cidade de Gaza
O Gabinete de Segurança do Governo de Israel aprovou no passado dia 8 de agosto um plano militar proposto pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, para ocupar a Cidade de Gaza, no norte do enclave.
Após cerca de dez horas de reunião, o Governo israelita divulgou um comunicado onde expõe o plano de Netanyahu para "derrotar o Hamas", que inclui ocupar a Cidade de Gaza, sem esclarecer o que acontecerá com o resto do enclave, apesar de o primeiro-ministro ter declarado a intenção de estender a operação a toda a Faixa antes de iniciar a sessão de debate com o gabinete.
"As Forças de Defesa de Israel (FDI) preparar-se-ão para assumir o controlo da Cidade de Gaza, garantindo ao mesmo tempo a prestação de ajuda humanitária à população civil fora das zonas de combate", especifica o comunicado.
O governo também garante que o gabinete adotou "por maioria de votos" cinco princípios para terminar a guerra: desarmar o Hamas, o regresso de todos os reféns com ou sem vida, a desmilitarização da Faixa de Gaza, o controlo israelita da segurança na Faixa de Gaza e o estabelecimento de uma "administração civil alternativa" para o enclave, que não seja nem do Hamas nem da Autoridade Palestiniana, que atualmente governa partes da Cisjordânia ocupada.
Em declarações à estação de televisão norte-americana Fox News antes da reunião do gabinete, Netanyahu afirmou que o seu objetivo era ocupar toda a Faixa de Gaza, mas que não pretende ficar com ela nem governá-la, mas sim manter um "perímetro de segurança" e entregá-la a "forças árabes que a governem" sem ameaçar Israel e sem o Hamas.