Um juiz federal de Nova Iorque rejeitou hoje um pedido do executivo de Donald Trump para divulgação de material do grande júri do caso de Jeffrey Epstein, criminoso sexual que apareceu morto na prisão em 2019.

Trump tinha instado o Departamento de Justiça a exigir a divulgação de informações confidenciais sobre este caso, uma promessa pessoal do próprio Presidente, mas a decisão de hoje marca a terceira vez que este pedido do governo é rejeitado por um juiz.

De acordo com a decisão divulgada pela CNN, o juiz Richard Berman considerou que os argumentos do governo não justificam a divulgação de conteúdos confidenciais, o que poderia também levar a riscos futuros para a segurança e privacidade das vítimas que prestaram depoimento perante o grande júri.

No sistema judicial norte-americano, compete a um grande júri federal determinar se há motivos suficientes para considerar que um crime foi cometido e que um determinado indivíduo deve ser formalmente acusado (indiciado).

Ao contrário dos jurados de um julgamento, o grande júri não determina a culpa ou inocência de um suspeito, e no caso Epstein concluiu que havia causa provável para emitir acusações, descrevendo as acusações específicas de tráfico sexual e conspiração para cometer tráfico sexual.

Berman observou ainda que as informações contidas nas transcrições do grande júri "são insignificantes" em comparação com as informações e materiais já na posse do próprio Departamento de Justiça, que seriam consideravelmente maiores segundo a CNN.

As transcrições do grande júri --- que podem revelar os depoimentos das testemunhas e outras provas apresentadas pelos procuradores --- raramente são divulgadas pelos tribunais, a menos que precisem ser reveladas em ligação a um processo judicial.

O caso Epstein tem sido marcado pelo sigilo em torno dos materiais do grande júri e outros arquivos de investigação, gerando pressão pública e política para a divulgação de mais informação sobre, incluindo do próprio Trump na campanha eleitoral de 2024.

A alegada lista de clientes de Epstein, com celebridades e políticos influentes, tem sido o foco de várias teorias da conspiração entre apoiantes MAGA.

A confirmação pelo Departamento Federal de Investigação (FBI) e o Departamento de Justiça (DOJ), em julho, de que não havia provas da existência de uma "lista de clientes" chantageados por Epstein, e que a morte do pedófilo numa prisão federal em 2019 resultou de suicídio, levou a uma crise entre os membros do movimento MAGA ("Make America Great Again", "Tornar a América Grande de Novo") de Trump.

Sob pressão de segmentos conspiracionistas da sua base política para divulgar mais informações sobre o caso Epstein, com quem manteve relações próximas durante décadas, Trump negou o conhecimento ou o envolvimento nos crimes de Epstein e disse que terminou a amizade há anos.

Um juiz federal nova-iorquino rejeitou a 11 de agosto um pedido do executivo para divulgar as transcrições do depoimento secreto do grande júri que levou ao indiciamento por tráfico sexual de Ghislaine Maxwell, ex-namorada e cúmplice de Jeffrey Epstein.

Segundo o juiz Paul A. Engelmayer, o argumento do Governo de que tais declarações revelariam nova informação significativa sobre os crimes cometidos por Epstein e Maxwell "é falso".

O magistrado revelou que nos documentos nenhuma outra pessoa, além de Maxwell e Epstein, é acusada de ter tido relações sexuais com menores.

Em 2007, alvo de uma acusação na Florida, Epstein declarou-se culpado de prostituição de menores, entre outros crimes, num polémico acordo que lhe permitiu evitar uma possível sentença de prisão perpétua, sendo condenado apenas a 18 meses de prisão - saindo ao fim de 13 meses em liberdade condicional -- e a indemnizar as vítimas, além de ficar registado como agressor sexual.

Em 05 de agosto, a comissão de supervisão da Câmara dos Representantes intimou o Departamento de Justiça a apresentar os arquivos da investigação sobre tráfico sexual de menores envolvendo Epstein.

As intimações foram emitidas pela comissão parlamentar no âmbito de uma investigação do Congresso dos Estados Unidos que os representantes acreditam poder revelar ligações com Trump e outros ex-altos responsáveis do país.