"Se houver uma pequena hipótese de a derrota militar poder ajudar a acabar este horrível culto da violência na Rússia, tal como um dia uma derrota militar pôs fim ao culto da violência na Alemanha, devemos aproveitá-la", afirmou Anne Applebaum, citada pela Associated Press, numa cerimónia em Frankfurt, na Alemanha, onde foi receber o Prémio da Paz do Comércio do Livro Alemão.

Na cerimónia, a jornalista esteve acompanhada pelo marido, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, Radek Sikorksi, que, tal como ela, é uma voz ativa no apoio internacional à Ucrânia na defesa contra a invasão da Rússia.

"Estando aqui a receber um prémio da PAZ, parece-me o momento certo para assinalar que 'Eu quero Paz' nem sempre é um argumento moral. Este é também o momento certo para dizer que a lição da história da Alemanha não é que os alemães devem ser pacifistas", disse.

A jornalista defendeu que, "pelo contrário, sabe-se há quase um século que um apelo ao pacifismo face a uma ditadura agressiva pode simplesmente representar o apaziguamento e a aceitação dessa ditadura".

Para Anne Applebaum, "a verdadeira lição" da história da Alemanha não deveria ser que os alemães nunca mais deviam travar guerras, "mas que têm uma responsabilidade especial de defenderem a liberdade e correrem riscos ao fazê-lo".

O Prémio da Paz do Comércio do Livro Alemão, no valor de 25 mil euros e que é atribuído desde 1950 a pessoas que tenham contribuído para transformar a ideia da Paz em realidade, através da literatura, da ciência ou da arte, foi entregue no final da Feira do Livro de Frankfurt.

No ano passado, o prémio foi atribuído ao ensaísta índio-britânico Salman Rushdie, pela sua perseverança, apesar de suportar há décadas ameaças e atos violentos.

Autora de vários livros, Anne Applebaum escreve sobre a Europa Oriental e a Rússia desde 1989, quando acompanhou a queda do comunismo na Polónia para o jornal The Economist.

Em 2004 venceu um Prémio Pulitzer com "Gulag: Uma história".

A jornalista e historiadora é redatora da equipa da revista The Atlantic e membro sénior do Agora Institute da Universidade Johns Hopkins, onde codirige um projeto sobre a desinformação do século XXI.

A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após a desagregação da antiga União Soviética - e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.

A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.

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