
Israel continua a exigir a libertação de "todos os reféns" detidos em Gaza, disse hoje fonte governamental, após nova proposta dos mediadores sobre um cessar-fogo no território palestiniano, que prevê o regresso desses reféns em duas etapas.
Após mais de 22 meses de guerra, o movimento islâmico palestiniano anunciou na segunda-feira que aceitou a proposta dos mediadores --- Egito, Catar e Estados Unidos --- para uma trégua de 60 dias acompanhada da libertação dos reféns em duas etapas.
Mas, Israel "não mudou" a sua política e continua a "exigir a libertação" de todos os reféns, "de acordo com os princípios estabelecidos pelo gabinete [do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu] para pôr fim à guerra", afirmou a fonte governamental israelita, em declarações à agência de notícias francesa AFP.
"Estamos numa fase decisiva final contra o Hamas e não deixaremos nenhum refém para trás", acrescentou a fonte, enquanto se aguarda uma resposta formal de Israel à proposta dos mediadores.
Os novos esforços diplomáticos recomeçaram quando o exército israelita lançou as suas operações para tomar o controlo da cidade de Gaza e dos campos de refugiados vizinhos, com o objetivo declarado de acabar com o Hamas e libertar todos os reféns.
Saudando a resposta "muito positiva" do Hamas, o Qatar salientou anteriormente que a proposta retomava "quase na íntegra" um plano norte-americano anteriormente aceite por Israel.
No entanto, a diplomacia do Qatar evitou falar de "avanço".
O texto baseia-se num plano anterior do enviado norte-americano Steve Witkoff: a libertação de dez reféns vivos e os restos mortais de 18 reféns mortos em troca de uma trégua de 60 dias e de negociações para pôr fim à guerra, informou a rádio pública Kan.
"O Hamas e as [outras] fações esperam (...) que Netanyahu não coloque obstáculos e entraves" à colocação em prática do acordo, disse à AFP um membro do gabinete político do movimento islâmico, Izzat al-Rishq.
Ministros de extrema-direita, como o de Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, por sua vez, alertaram Netanyahu para não "ceder ao Hamas", considerando que "não tem mandato para concluir um acordo parcial".
Apesar dos esforços dos mediadores, as partes em conflito não conseguiram até agora chegar a um cessar-fogo duradouro na guerra que assola Gaza, desencadeada em resposta por um ataque sem precedentes do Hamas contra Israel em 07 de outubro de 2023.
Dos 251 reféns sequestrados naquele dia, 49 continuam detidos em Gaza, dos quais 27 estão mortos, segundo o exército israelita.
Duas tréguas anteriores, em novembro de 2023 e no início de 2025, permitiram o regresso de reféns vivos e mortos em troca da libertação de prisioneiros palestinianos.
A nova proposta surge num momento em que o gabinete de segurança israelita aprovou um plano de conquista da cidade de Gaza, apresentado na terça-feira pelo Estado-Maior ao ministro da Defesa.
No terreno, a Defesa Civil de Gaza registou pelo menos 48 mortos em todo o território palestiniano, nomeadamente durante os ataques israelitas aos bairros de Zeitoun e Al-Sabra, na cidade de Gaza.
Desde o início da guerra, Israel sitiou em Gaza mais de dois milhões de palestinianos ameaçados pela fome, segundo a ONU.
A ONU declarou hoje que não foi autorizada a entregar abrigos na região, enquanto os planos israelitas de tomar o controle da cidade de Gaza preveem a transferência dos habitantes para o sul.
O ataque de 7 de outubro causou a morte de 1.219 pessoas do lado israelita, na sua maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP realizada a partir de dados oficiais.
A ofensiva de retaliação israelita causou 62.064 mortes em Gaza, na sua maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados fiáveis pela ONU.