A Organização de Cooperação de Xangai (OCS) advertiu hoje contra reinterpretações da resolução da ONU sobre o programa nuclear iraniano, depois de Irão, Rússia e China se terem queixado formalmente das ameaças europeias contra Teerão.

Os chefes das diplomacias iraniana, russa e chinesa apresentaram na quinta-feira uma queixa ao secretário-geral da ONU, António Guterres, pela decisão da 'troika' europeia, também conhecida como E3, de iniciar o processo para reativar as sanções contra Teerão.

"A ação do E3 abusa da autoridade e das funções do Conselho de Segurança da ONU", disseram os três ministros dos Negócios Estrangeiros numa carta de 28 de agosto divulgada hoje, referindo-se à Alemanha, França e Reino Unido.

Irão, Rússia e China integram a Organização de Cooperação de Xangai, que advertiu que "qualquer tentativa de má interpretação ou reinterpretação arbitrária" da resolução 2231 "irá prejudicar a autoridade do Conselho de Segurança" da ONU.

A advertência foi incluída na declaração conjunta divulgada hoje no final da cimeira da OCS, em Tianjin, na China, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).

Alemanha, França e Reino Unido deram ao Irão 30 dias para encontrar uma solução diplomática para a questão nuclear, sob pena de restabelecerem as sanções da ONU com base numa cláusula do acordo internacional de 2015.

Na carta enviada a Guterres, os ministros iraniano, Abbas Araghchi, russo, Serguei Lavrov, e chinês, Wang Yi, lembraram que foram os Estados Unidos que se retiraram do acordo em 2015, por decisão do então e atual Presidente, Donald Trump.

Posteriormente, foram os países europeus que violaram o pacto ao optar por se alinhar com as "sanções ilegais em vez de cumprir os próprios compromissos", afirmaram.

Para Teerão, Moscovo e Pequim, a reimposição de sanções contra o Irão é "irracional e absurda", segundo a carta citada pela agência de notícias espanhola Europa Press.

"Isso apenas levaria a recompensar o E3 pelo significativo incumprimento, anularia anos de esforços diplomáticos, minaria a credibilidade dos acordos multilaterais e criaria um precedente para o cumprimento seletivo das obrigações internacionais", disseram.

Por isso, afirmaram que o Conselho de Segurança da ONU deve considerar o pedido da Alemanha, França e Reino Unido como nulo, porque qualquer medida que viole a resolução 2231 "não pode gerar obrigações internacionais legítimas".

"Exortamos a França, a Alemanha e o Reino Unido a mudarem o rumo destrutivo", afirmaram na carta, partilhada hoje nas redes sociais pelo ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano.

Apelaram também aos membros do Conselho de Segurança da ONU para que rejeitem as acusações dos três países europeus e reafirmem "o compromisso com os princípios do Direito Internacional e da diplomacia multilateral".

Pediram ainda uma "solução política que atenda às preocupações de todas as partes" através da diplomacia e do diálogo, recusando a aplicação de "sanções unilaterais, ameaças ou qualquer outra ação que possa agravar a situação".

Os países ocidentais acusam o Irão de querer dotar-se de armas nucleares, uma acusação negada por Teerão, que defende ter o direito de desenvolver um programa nuclear civil.

A Rússia, aliada do Irão, apoiou Teerão na questão e apelou na sexta-feira aos países ocidentais para que "recuperassem a razão e revissem as decisões erradas", alertando para as "consequências irreparáveis" da sua política.

Rússia e Irão aproximaram-se desde o início do ataque russo à Ucrânia em fevereiro de 2022.

Em janeiro, assinaram um tratado de parceria estratégica para reforçar os laços militares.

O Irão foi acusado por Kiev e pelos países ocidentais de ter fornecido 'drones' Shahed e mísseis de curto alcance à Rússia para a ofensiva na Ucrânia.