Os últimos tempos têm sido particularmente elucidativas sobre o real valor do investimento que Portugal faz na Saúde. Os dados mais recentes do Índice de Saúde Sustentável 2024-2025, apresentados pela Nova-IMS, voltam a confirmar que investir em saúde não é um custo – é, sim, um motor de criação de valor social, humano e económico.

O impacto económico revelado pelo estudo é expressivo. Em 2024, os cuidados de saúde e os medicamentos prescritos evitaram, em média, dois dias de ausência laboral por pessoa e permitiram recuperar 10,3 dias de produtividade, gerando um retorno económico estimado em 9,5 mil milhões de euros. Este retorno é sentido pelas famílias, que enfrentam a doença com menor perda de rendimento, e pelo país, que beneficia de uma economia mais resiliente.

Entre os fatores essenciais à eficácia desse investimento está a adesão às terapêuticas. O estudo indica que 94% dos inquiridos tomaram os medicamentos prescritos, e 70% fazem-no de forma regular ou prolongada. Contudo, é relevante saber que 10% dos portugueses não adquiriram medicamentos por razões económicas. Este é um alerta para a urgência em reforçar a acessibilidade aos medicamentos, onde as farmácias comunitárias continuam a ser parte da solução – seja através da promoção do uso de medicamentos genéricos, seja pelo acompanhamento próximo e personalizado às pessoas, que permite transformar o investimento em medicamentos em resultados em saúde.

A Conta Satélite da Saúde do INE confirma a tendência de crescimento do investimento em saúde: a despesa corrente aumentou 8,7% em 2024, superando o crescimento do PIB (6,4%). Este crescimento é sustentado não apenas em volume, mas em impacto. Já o Relatório da Evolução do Desempenho do SNS em 2024, publicado pelo Conselho de Finanças Públicas, destaca os desafios estruturais que comprometem a sua sustentabilidade, tanto ao nível assistencial como orçamental.

Apesar destes desafios, os indicadores mostram que a perceção dos utentes sobre a qualidade, eficácia e confiança no SNS permanece elevada. Num sistema que continua a responder, mesmo com fragilidades, é fundamental valorizar parceiros estratégicos como as farmácias comunitárias, que estão diariamente no terreno, próximas das populações, sobretudo das mais envelhecidas e das que vivem com doenças crónicas.

Num momento em que os orçamentos públicos enfrentam maior pressão, o debate não pode ser reduzido ao equilíbrio entre sectores.

Cada euro investido na saúde das pessoas gera retorno humano, social e económico. E é esse o verdadeiro papel do investimento público: criar condições para que as pessoas vivam com mais qualidade e a economia se torne mais sustentável.