O secretário-geral da ONU, António Guterres, avisou, nesta terça-feira, que a continuação de vários conflitos no mundo está a levar à "erosão da confiança no sistema multilateral, nas sociedades e um no outro".
"Precisamos de paz, acima de tudo, de paz. Paz em Gaza, com um cessar-fogo imediato, a libertação imediata e incondicional de todos os reféns, a entrega eficaz e sem obstáculos de ajuda humanitária e o inicio de um processo irreversível em rumo à solução dos dois Estados. Paz no Líbano com a cessação das hostilidades imediatamente e a aplicação plena das resoluções do conselho de segurança", afirmou o secretário-geral durante a cerimónia de abertura do 10º Fórum da UNAOC, em Cascais.
Guterres apelou ainda à paz na Ucrânia, "em conformidade com a carta das Nações Unidas, o direito internacional e com as resoluções da Assembleia Geral" e no Sudão, "com todas as partes a silenciarem as armas e a empenharem-se num caminho para uma paz duradoura".
"Em todo o lado é imperioso defender a carta das Nações Unidas e o direito internacional, incluindo os princípios de soberania, de integridade territorial e de independência politica de todos os Estados", reiterou.
Guterres sublinhou ainda os "tempos muito difíceis" que o mundo enfrenta, cujo tecido social se encontra "em acentuada pressão" devido a estratégias cívicas que visam "semear divisões e ampliar fraturas nas sociedades".
"As tensões aumentam em várias frentes. Os direitos humanos estão sob ataque, a crise climática continua a agravar-se, sectarismos de várias ordens proliferam, os conflitos e as guerras alimentam e acentuam cada uma destas ameaças", adiantou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Guterres alertou para as consequências desta "ausência da paz", que levam à "erosão da confiança no sistema multilateral, nas sociedades e um no outro" e cuja reconstrução deve ser feita não apenas através "dos Governos e das instituições", mas com "comunidades de confiança", incluindo organizações de sociedade civil, comunidades marginalizadas, autoridades locais e líderes religiosos".
O secretário-geral sublinhou ainda os perigos associados à utilização da tecnologia que perpetua "estereótipos e conceções erradas" que, recorrendo à desinformação, alimentar o "antissemitismo repulsivo, a intolerância muçulmana e ataques a comunidades de minorias cristãs. Estas são as novas táticas dos novos media".
Quando não são controladas, as plataformas digitais e a Inteligência Artificial alimentam "o discurso de ódio a uma velocidade nunca antes vista", as piores vozes da humanidade são amplificadas e "muitas vezes lidam à violência, através da proliferação de 'deepfakes' que tornam o impossível e o inverificável credível num instante", afirmou António Guterres.
Durante a cerimónia de abertura, foram ainda oradores o Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, o Rei de Espanha, Felipe VI, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Hakan Fidan e o alto representante para as Nações Unidas, Miguel Ángel Morantinos.
- Com Lusa