
"Voltem para casa", "A cidade não está à venda", "Aqui vivem pessoas, não posts de Instagram". Pintadas em cartazes, estas frases representam o clima de um protesto, em meados de junho, contra o turismo de massas em Maiorca, à semelhança do que tem acontecido em outras cidades da Europa. Em Palma, capital da ilha espanhola, a manifestação juntou cerca de cinco mil pessoas, algumas munidas de pistolas d'água para incomodar os visitantes.
Com Espanha a registar valores turísticos recorde, os protestos contra o turismo de massas - especialmente devido ao seu impacto nos preços da habitação - intensificaram-se ao longo dos últimos anos. Em 2024, o preço de compra e venda de casas no país registou o maior aumento desde 2007, o primeiro desde que há registos comparáveis.
“Não se sentem bem-vindos"
Em Maiorca, os gritos de protestos já estão a ter repercussões práticas. Não necessariamente por ação governativa, mas por iniciativa dos visitantes. As manifestações contra o turismo estão a afastar estrangeiros, sobretudo britânicos e alemães, segundo o jornal Majorca Daily Bulletin.
"Os turistas que nos interessam estão a ir embora. Não se sentem bem-vindos e estão a escolher outros destinos", afirma ao jornal local o presidente da associação de vida noturna das ilhas baleares, Miguel Pérez-Marsá.
"Antes, se saísse à rua por volta das 19h00, encontrava-a cheia de turistas, mas agora está completamente morta", conta ao Daily Mail Lesley Johnson, que vive na ilha espanhola há mais de 30 anos. Outros
Há visitantes que, sentindo-se indesejados em Maiorca, encontraram em Portugal uma alternativa para as férias de verão. "Percebi que Espanha não queria muitos turistas, portanto a minha família votou e fomos para Portugal. Não voltamos a Espanha", relata um turista ao jornal Express.
Hotéis, transportes e restaurantes sentem impacto
De acordo com a Federação Hoteleira de Maiorca, alguns municípios, como Capdepera e Soller, estão a registar quedas significativas. "As mensagens anti-turismo estão a ter impacto", garante o presidente do Colégio de Guias de Turismo das ilhas baleares, Pedro Oliver.
"Se geramos notícias negativas, com repercussão noutros países, os turistas escolhem outros destinos nas férias. Estamos a passar a mensagem de que não queremos turistas e que está tudo demasiado cheio", afirma Pedro Oliver.
Estima-se que as vendas de excursões possam cair cerca de 20% neste verão, o que está a afetar regiões populares como Palma, Port Soller e Valldemossa.
Nota-se nas ruas - em restaurantes, bares e lojas - a diminuição do fluxo turístico. Até as praias de Maiorca, habitualmente lotadas, têm registado perdas. O presidente da Associação de Restaurantes de Maiorca, Juanmi Ferrer, alerta que alguns restaurantes podem ser obrigados a fechar as portas este ano, em declarações ao Majorca Daily Bulletin.
Dados oficiais ainda não foram divulgados
Ainda assim, nem todos concordam que os protestos contra o turismo estão a afastar os turistas. É o caso do ministro do Turismo, Jaume Bauzá, que diz que o número de visitantes se mantém sólido, embora reconheça o desempenho irregular em alguns setores.
Ainda não foram divulgados os números oficiais do turismo em julho e junho. Em maio, houve uma queda de 1,6% no número de visitantes.