No estudo, designado "Fadiga, Sonolência e Distúrbios do sono - Que impacto na Segurança Rodoviária? - Uma análise da Realidade Portuguesa", 8,4% dos inquiridos referiram ter tido pelo menos um acidente rodoviário.

A fadiga (20,2%) e a sonolência (9,5%) foram indicadas como a causa do último acidente por 29,7% dos condutores acidentados. 

Em declarações à agência Lusa, o major da Guarda Nacional Republicana (GNR) Mário Abreu explicou que a fadiga na condução "está associada como causa dos acidentes na mesma medida que na condução sob a influência do álcool e em excesso de velocidade".

"Os condutores têm consciência de quais são as medidas que devem adotar em caso de fadiga. Mas, tal como comprova o estudo, a realidade não é bem esta e optam por medidas que não são tão eficazes e acabam por colocar em risco a condução, como (...) falar ao telemóvel. Ao invés de estarem a arranjar uma solução, estão a arranjar mais um problema", considerou.

A nível de fiscalização, Mário Abreu explicou que o código penal prevê o crime de condução perigosa em casos de fadiga excessiva.

"No entanto, a fiscalização deste assunto não é de todo fácil. Em caso de acidente é que se pode chegar a uma investigação que leve a esta conclusão", salientou, lembrando que para a condução de veículos pesados de passageiros e mercadorias "é obrigatório o uso de um aparelho tacógrafo que faz controlo de velocidade e dos tempos de condução e descanso".

Mário Abreu acrescentou que, em 2024, a GNR registou mais de 13.000 infrações relacionadas com o excesso de horas de condução ou o não cumprimento do tempo mínimo de descanso.

O questionário 'online' da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP), em parceria com a VitalAire, serviu para recolher dados, entre 03 e 10 de dezembro de 2024, de mais de mil condutores de automóveis ligeiros de passageiros ou mercadorias, que conduziram pelo menos alguns dias por mês nos 12 meses anteriores à recolha de dados.

Segundo o inquérito, os condutores profissionais, trabalhadores por turnos e jovens estão particularmente vulneráveis à fadiga na condução, devido a horários irregulares e a estilos de vida que aumentam o risco de sonolência ao volante.

À Lusa, o antigo motorista Manuel Nazaré, de 73 anos, contou que teve um acidente por adormecer ao volante na Ponte 25 de Abril, em 2009, tendo-lhe sido diagnosticada apneia do sono.

"Eu adormecia por tudo e por nada. Até a conversar com os meus amigos. Mas (...) não tive abertura para ir logo ao médico, até que tive um acidente grave na Ponte 25 de Abril. Fui ao médico, fiz os exames e detetaram-me apneia do sono", disse.

Manuel Nazaré referiu que deixou de conduzir durante algum tempo e só quando começou a usar uma máquina de pressão positiva na apneia do sono (CPAP) voltou à sua vida normal.

Os resultados da análise assinalam que 2,5% dos condutores da amostra tiveram pelo menos um acidente rodoviário devido ao cansaço, fadiga ou sonolência, no último ano.

Em relação às situações de iminência de acidente, 44,9% dos inquiridos afirmaram ter tido pelo menos uma nos 12 meses anteriores, 20,9% delas causadas por fadiga ou sonolência.

Os resultados revelam ainda que 26% dos condutores apresentaram níveis de sonolência excessiva, e que um em cada cinco condutores apresentou "alto risco" de sofrer de apneia do sono.

O estudo, que analisou os hábitos de condução, revelou que 58% das pessoas conduziram pelo menos uma vez "demasiado cansadas" e que 33% conduziram "tão sonolentas que tinham dificuldades em manter os olhos abertos".

"Este estudo revela que a fadiga na condução é um problema preocupante a nível nacional. Um em cada três condutores declarou ter conduzido com sonolência extrema", destacou diretor-geral da PRP, Alain Areal.

Por sua vez, o diretor-geral da VitalAire Portugal, Jorge Correia, considerou ser "essencial investir em campanhas de sensibilização e de prevenção relativamente aos perigos da fadiga e da sonolência na condução".

 

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