
Já são três as candidaturas por São Vicente nas Autárquicas de 12 de Outubro, mas pode muito bem haver mais uma. Alexandro Pestana que, em 2021, encabeçou uma lista pelo PTP, e uma das vozes mais críticas do concelho, afirma que parece haver um "pacto secreto" do JPP com o PSD para que os primeiros não avancem com uma lista (liderada pelo actual vice-presidente da Câmara, Fernando Góis), deixando a porta aberta a uma candidatura independente de 'canalha' (elementos ligados ao PSD liderados por António Gonçalves) e outra do Chega (liderada por José Carlos Gonçalves, ex-candidato pela IL que, diz, esteve para ser candidato pelo JPP). Uma balburdia que leva-o a avançar com a possibilidade de um movimento, verdadeiramente, independente que, aliás, já abordou na sua página de facebook.
"Vou criar um movimento 'Juntos Por São Vicente'. Interessados em assinar e ir na lista, mensagem privada. Têm de estar recenseados para votar em São Vicente", escreve numa publicação colocada na sexta-feira passada, embora reconheça ao DIÁRIO que "não será nada fácil pois as assinaturas e pessoas já estão diluídas nas 3 listas já existentes". No mesmo dia, depois de ter partilhado uma ilustração (feita com IA) onde aparece um elefante branco numa loja de porcelanas estilhaçadas, com inscrição 'PSD Movimento In-dependente' e um palhaço a sorrir com inscrição 'Juntos Pelo Povo', refere que esta é "a fotografia do ano pela World Press é de São Vicente e foi tirada na Câmara Municipal... O maior partido da oposição não apresenta lista para abrir caminho a uma segunda lista do PSD travestida de independentes e ao Chega. Isto não cabe na cabeça de ninguém!!!"

Ao DIÁRIO disse: "Eu quero mudança em São Vicente e não compreendo o que os partidos da oposição andam a fazer." Alexandro Pestana foi candidato à Câmara de São Vicente em 2021, a convite de José Manuel Coelho do PTP. "Avancei, mesmo sabendo que não tinha muitas hipóteses de ser eleito num partido tão pequeno e isto em São Vicente é meio complicado, é só compadrios e está quase toda a gente ligada a empregos na função pública ou a negócios que dependem da Câmara, não é fácil de se entrar nesse território", começa por situar.
"Depois das eleições de 2021, comecei a ver o JPP a crescer e, de facto, estavam a fazer algum trabalho decente, a nível de denúncias coisas que não estavam bem, mas no geral em toda Madeira, porque em São Vicente pouco ou nada fizeram", conta. "E inscrevi-me como militante no JPP, partilhava nas redes sociais muitos conteúdos deles e, às vezes, aparecia em algumas iniciativas, contando que eles iam fazer alguma coisa boa nas regionais e nas autárquicas em São Vicente. E até lhes disse que estava disponível, se precisarem de alguém nas listas para as regionais, para a Assembleia ou para a Câmara, estou disponível para ajudar, no que for preciso. Não exigi posições, nem nada do género, pus-me à disposição".
Tudo mudou "há alguns meses, quando apresentaram a doutora Simone (Teixeira), que é uma advogada, acho que de Ponta Delgada", que foi na lista do JPP às regionais. "Fiquei surpreendido, mas não me pus com birras, porque ela tem mais visibilidade a nível público, de lidar com pessoas na zona. Se fosse eleita, era bom. Acontece que fizeram uma apresentação pública, que iam montar uma ‘torre de vigia’ (iniciativa do partido apresentada a 11 de Abril) em São Vicente e pensei que isto agora vai mexer, vão denunciar corrupção de pessoas por aqui, pode ser que ela seja eleita deputada. Provavelmente ela ia ser também candidata pela Câmara meses depois, porque já tinham divulgado a imagem dela em cartazes, ao lado do Elvio Sousa em São Vicente, cartazes XXL. Pensei, olha, não fui eu escolhido, mas que seja pelo melhor, há que também pensar num espírito de equipa e alguém que consiga mudar. É um começo. A mim não me importava se fosse o número 1 ou o número 2 ou o número 3 na lista, o que me interessava era que houvesse uma lista do JPP para a Câmara de São Vicente".

Alexandro Pestana conta ainda que Simone Teixeira terá começado a contactar pessoas e algumas aceitaram integrar uma lista na qual seria cabeça-de-lista pelo JPP. "Depois, chegou uma altura em que ela disse que não queria ser a número 1. Foi preciso ir à procura dessa pessoa que aparecesse à frente de uma lista. Sugeri que pusessem o José Carlos Gonçalves, que tinha ido pela Iniciativa liberal em 2021 (ficou em segundo na votação, com 12,4%). E então ela parece que concordou, como ela não queria ir no número 1 e, possivelmente, ficaria como presidente da Concelhia do JPP em São Vicente. Mas o doutor Elvio Sousa não quis o José Carlos", atira.
Consequência, "o José Carlos ficou chateado porque estava contando que teria o apoio do JPP, não me quiseram a mim porque eu não apresentei disponibilidade para ser o número 1, porque não achava correcto, já que tinham escolhido a doutora Simone para representar o Concelho nas regionais como deputada, pensei, como eles já tinham a imagem dela nos cartazes e, provavelmente, também vão querer que ela seja a número 1 para a Câmara". Posto isto, o cidadão frisa não saber "se já tinham em mente fazer algum apoio pela porta do cavalo, àquele movimento de canalha independente, que de independentes não tem nada, que surgiu agora, ou se tinha alguma quezília com o José Carlos e não o quis apoiar, chegando ao ponto deste fazer publicações no Facebook a falar que a 'torre de vigia' tinha desmoronado e, claro, o Chega recebeu-o de braços abertos porque ficaram com a papinha feita. Ele tinha contactos da parte da Iniciativa Liberal, ainda foi buscar pessoas que concorreram na minha lista, porque não é fácil encontrar pessoas que estão disponíveis para a política. O Chega conseguiu fazer listas, dizem-me que têm pessoas que já estiveram nas listas do PS, porque parece que o PS também não vai apresentar a lista à Câmara de São Vicente".
Perante o cenário de o segundo e o terceiro maiores partidos da oposição regional (pelos resultados das eleições legislativas regionais de 23 de Março, embora nas legislativas nacionais de 18 de Maio tenham ficado em 3.º e 4.º, atrás do Chega, inclusive em São Vicente), mas sobretudo o JPP, que estará a crescer, "não apresenta a lista para a Câmara de São Vicente. Não acho certo que o JPP deixe cair 522 votos das últimas eleições regionais só no Concelho de São Vicente, além dos 420 votos do PS, que não podem cair em movimentos de canalha alaranjada, nem no Chega, não é justo. Por isso, digo que se ninguém quer ir, eu posso ir e arranja-se gente, quem não tem cão caça com gato e vai-se à luta, mas ninguém do JPP quis aceitar a minha ideia e ficou muita gente decepcionada, porque já estavam a contar que iam na lista do JPP. É que levantou-se esta poeirada toda e afinal o JPP não vai apresentar lista nas autárquicas em São Vicente. O que ninguém consegue perceber é qual o motivo de o Chega conseguir fazer listas, porque é que o JPP não consegue? Tinha que conseguir. Ou se mexeu muito tarde ou já, desde início, tinha algum acordo secreto feito nas costas do povo, para fazer uma coisa destas, porque é completamente incompreensível. Deixar estes fulanos que estão agora a governar mais 4 anos, vão causar mais danos irreversíveis, daqui a 4 anos que vão aparecer com uma lista. Se agora há dificuldades em criar listas para a oposição, daqui a 4 anos ainda pior vai ser", calcula.
Aborrecido com estes recuos, apresentou há mais de uma semana a sua desvinculação do JPP. "Não quero saber mais daquela gente, porque acho horrível o que eles fizeram, de andar a criar expectativas e a brincar com as caras das pessoas, e agora andamos aqui nisto, não sei se eles vão ter o desplante de apoiar publicamente esta lista de independentes, daquele rapaz António Gonçalves, ou se vão só apoiar na sombra. Porque, a partir do momento em que o maior partido de oposição não apresenta uma candidatura, está oferecendo de bandeja os seus votos, ao Chega e a este pseudo-movimento de independentes, porque eles de independentes não têm nada, porque até na lista metem o chefe de gabinete do António Garcês. Isto é quase que uma segunda lista do PSD. Oviamente que se houver o risco de eles perderem a Câmara, vão dar a mão ao Fernando Góis e vai outra vez o PSD ficar ali no poleiro mais de 12 anos. Porque o que vai acontecer é que eles estão usando outra vez a mesma estratégia, dividir para reinar", atira, recordando que o JPP, como maior partido da oposição, "tem a obrigação de apresentar listas em todas as freguesias da Madeira. É uma responsabilidade que eles têm, se querem continuar a crescer e a ter confiança das pessoas, tinham de o fazer", inclusive também em Santana.
Alexandro Pestana garante que, por causa desta situação, "em São Vicente é a debandada geral dos militantes e simpatizantes do JPP".