Os anúncios foram feitos por ocasião da visita de Joe Biden a Angola, a primeira de um Presidente norte-americano a este país e a primeira a um país da África subsaariana desde 2015.
Joe Biden que cumpre um programa de 72 horas dividido entre a capital angolana e a segunda cidade do país, Benguela, discursa hoje no Museu Nacional da Escravatura, onde deverá evocar esta herança trágica do passado histórico de dois países ligados pelo comércio transatlântico de pessoas escravizadas.
Em 1619, um navio que transportava africanos escravizados capturados em Angola e obrigados a marchar através de uma rota conhecida como Corredor do Kwanza desembarcou em Hampton, Virgínia, estimando-se que existam atualmente cerca de 12 milhões de americanos de ascendência angolana.
"Os Estados Unidos apoiam a candidatura de Angola do Corredor do Kwanza à lista de Património Mundial da UNESCO, como forma de olhar para o futuro, de restabelecer laços culturais e de celebrar a riqueza e a beleza de Angola", refere-se numa nota do Governo norte-americano enviada à Lusa, em que anuncia uma subvenção de 229.000 dólares (218 mil euros) para apoiar o restauro e a conservação da Residência Álvaro de Carvalho Matoso, de 1786, edifício que alberga o Museu Nacional da Escravatura.
Fundado em 1977, o museu "oferece uma programação que promove uma mensagem de harmonia, humanismo e respeito pelos direitos humanos" e os fundos serão utilizados para o restauro das galerias exteriores e interiores do edifício, segundo o Governo norte-americano.
Biden e o seu homólogo João Lourenço reuniram-se hoje de manhã no Palácio Presidencial onde abordaram questões relativas ao comércio, investimento e infraestrutura, segurança e estabilidade regional e aprofundamento da cooperação entre os dois países.
Na quarta-feira, o chefe de Estado norte-americano viaja para o Lobito para participar numa cimeira sobre investimentos multilaterais para acelerar o desenvolvimento do Corredor do Lobito, juntamente com os Presidentes de Angola, República Democrática do Congo, Tanzânia e Zâmbia.
Angola é o quarto maior parceiro comercial dos Estados Unidos na África subsaariana, com as trocas comerciais a ascenderem a 1,77 mil milhoes de dólares em 2023 (1,68 mil milhões de euros).
Os dois países estabeleceram, em novembro deste ano, um memorando de entendimento relativo à Parceria de Investimento e Comércio EUA-Angola e o departamento de comércio norte-americano está a promover uma missão comercial para os portos e ferrovias da África Subsaariana, em 2025, em Angola e África do Sul, para apresentar às companhias norte-americanas o potencial destes setores nos mercados africanos.
Os EUA promoveram também uma missão ligada ao agronegócio, em fevereiro deste ano, durante o qual foram realizados 140 encontros entre empresários, com os participantes norte-americanos a preverem um aumento de 13,3 milhões nas vendas dos próximos 12 meses.
EUA e Angola assinaram também acordos para facilitar as ligações aéreas e o comércio bilateral, através da iniciativa África Próspera, no âmbito da qual foram realizados negócios no valor de 6,9 mil milhões de dólares desde 2021.
Desde 2022, o Exim Bank, entidade norte-americana de apoio às exportações financiou projetos em Angola no valor de 2,9 mil milhões em projetos de energias renováveis, infraestruturas e telecomunicações.
Segundo a informação do Governo norte-americano à Lusa, este mês, a agência norte-americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla inglesa) vai canalizar mais 650 mil dólares para assistência técnica para apoiar o Ministério das Finanças na gestão de riscos financeiros e de dívida.
Nos últimos quatro anos, o Departamento do Tesouro "tem apoiado os esforços de Angola para reduzir as vulnerabilidades face à divida através de assistência técnica", o que permitiu ao Governo angolano reperfilar a dívida interna e baixar as taxas de juro, segundo a nota enviada à Lusa.
O documento refere também a cooperação no domínio da defesa, estando prevista a realização de um novo encontro do Comité Misto Anglo-Americano de Cooperação para a Defesa (DEFCOM), em Luanda, em 2025, depois da primeira reunião, em junho de 2024 no Pentágono.
Desde 2020, os Estados Unidos gastaram mais de 17 milhões de dólares (16 milhões de euros) com a formação de militares angolanos, tendo aumentado no ano passado a assistência anual de 500 mil para 600 mil dólares (476 mil para 571 mil euros) e vão fornecer aos fuzileiros navais angolanos oito embarcações, as últimas das quais serão entregues em 2025.
Os EUA têm financiado também programas de ajuda humanitária, desenvolvimento de estratégias de cibersegurança, combate ao branqueamento de capitais e crimes de terrorismo, assistência a refugiados e requerentes de asilo, pesquisa oceanográfica, combate ao HIV/SIDA e malária, etc.
Segundo o Governo norte-americano, a USAID disponibilizou quase 415 milhões de dólares (395 milhões de euros) para tratar e prevenir a doença e formou mais de 12 mil trabalhadores, o que permitiu um decréscimo de 29 por cento nas mortes por malária em 2023 nas províncias abrangidas pela iniciativa PMI em comparação com os níveis de 2020.
O departamento de Estado mostra-se igualmente disponível para continuar a financiar a promoção dos direitos humanos, de acordo com a disponibilidade dos fundos e a fornecer bolsas a estudantes angolanos, bem como outros apoios na área da Educação.
A visita, inicialmente prevista para outubro, acontece cerca de um ano depois de Biden ter recebido João Lourenço em Washington.
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