Estudantes do ensino superior defenderam esta terça-feira que os elevados custos financeiros de estudar fora de casa impedem muitos jovens de prosseguir os estudos, entendendo ser esse um dos principais motivos para a redução de candidatos ao superior.

Menos de 50 mil alunos candidataram-se à 1.ª fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior de 2025, um valor que ficou muito abaixo ao registado nos últimos anos e só comparável ao registado em 2018.

As associações de estudantes apontam dois grandes motivos para o fenómeno: a queda demográfica e os custos de estudar no ensino superior.

"Portugal tem vindo a experienciar uma queda demográfica desde 1996 que se reflete na população ativa para ensino superior", sublinhou Gonçalo Osório de Castro, presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa (AAUL), em declarações à Lusa.

A opinião é partilhada por Francisco Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto (FAP), que critica ainda a falta de informação estatística que não permite, por exemplo, saber quantos alunos terminaram este ano o 12.º ano.

Em alternativa, Francisco Fernandes recorre aos números que mostram uma "redução de inscritos este ano no exame nacional de Português", que voltou a ser obrigatório para todos.

Há menos alunos a fazer os exames nacionais para ingressar no ensino superior:

Nos dados oficiais, também é possível perceber que há menos alunos a fazerem exames nacionais com o intuito de ingressar no ensino superior: Este ano, apenas 55% disse que queria ir para uma universidade ou politécnico, enquanto em 2024 eram 57%.

Para os dois representantes dos estudantes do superior, o grande problema são as histórias e quem não prossegue o sonho de estudar por dificuldades financeiras.

"Em Lisboa, o preço médio de um quarto é 500 euros", afirmou Gonçalo Osório Castro, lembrando que 40% dos alunos das instituições de ensino superior situadas em Lisboa são deslocados.

O presidente da AAUL citou os últimos dados do relatório do Observatório do Alojamento Estudantil que confirmam o aumento do preço dos quartos no mercado de arrendamento a estudantes e mostram que "é muito caro estudar nos grandes centros urbanos".

"É muito caro estudar nos grandes centros urbanos".

No início deste verão, o custo médio no país era de 415 euros, sendo Lisboa o distrito mais caro e logo depois o Porto.

"Com preços médios de 400 euros por quarto fazemos com que muitos estudantes nunca o cheguem a ser", alertou Francisco Fernandes, que não tem dúvidas de que existam muitos alunos que gostariam de estudar no Porto, mas desistem. Segundo o presidente da FAP, entre 2018 e 2024, houve uma redução de 10% de deslocados na cidade.

Francisco Fernandes lamenta a diminuição de alunos no superior: "Há uma parte que se pode justificar em termos demográficos, mas há outra que só podemos justificar com questões sociais. A redução de alunos deslocados revela o grave problema que temos e que mostra que para estudar no ensino superior é preciso ter dinheiro e sorte no código postal".

O presidente da FAP pede um combate sério à crise de alojamento e uma aposta nas bolsas. "Nós temos dito que o alojamento não é um problema exclusivo dos estudantes, mas do país e por isso tem de ser uma prioridade nacional, porque é reprodutor de desigualdades", apelou.

Este ano há menos candidatos ao ensino superior, mas há mais vagas: São cerca de 55 mil vagas no regime geral de acesso do ensino público, às quais se juntam outras 21 mil dos regimes e concursos especiais, como é o caso dos maiores de 23 anos ou mudanças de curso. No privado, existem perto de 25 mil lugares.

Na 1.ª fase dos exames nacionais, as nota dos alunos também foram este ano mais baixas. Num universo de 25 disciplinas, 15 tiveram piores médias quando comparados com os resultados da 1.º fase do ano passado.

Os resultados das colocações serão conhecidos a 24 de agosto, tendo os alunos depois essa semana para se inscrever. Entre 25 de agosto e 3 de setembro decorre a candidatura à 2.ª fase do concurso nacional, que habitualmente tem muito menos vagas disponíveis.