
O escritor israelita David Grossman acusou Israel de estar a provocar um genocídio em Gaza, numa entrevista publicada esta sexta-feira no jornal italiano La Repubblica, na qual se manifesta "de coração partido".
"Quero falar como alguém que fez tudo o que podia para não chegar ao ponto de qualificar Israel como um Estado genocida. E agora, com uma dor imensa e o coração partido, tenho de constatar que é isso que está a acontecer diante dos meus olhos", afirmou um dos mais influentes escritores israelitas.
Autor de "Um cavalo entra num bar", "O mel do leão" ou "Até ao fim da terra", David Grossman, de 71 anos, diz na entrevista que durante anos se recusou a usar o termo "genocídio".
"Mas agora não consigo evitar usá-lo, depois do que li nos jornais, depois das imagens que vi e depois de ter falado com pessoas que estiveram lá. [...] Juntar as palavras 'Israel' e 'fome', fazê-lo a partir da nossa história, da nossa suposta sensibilidade ao sofrimento da Humanidade, da responsabilidade moral que sempre afirmámos ter para com todos os seres humanos e não apenas para com os judeus... tudo isso é devastador", lamentou.
Conhecido pelas posições pacifistas, David Grossman diz continuar "desesperadamente fiel" a uma ideia de dois Estados, Israel e Palestina, e aplaude a decisão de França, revelada na semana passada, de reconhecer a existência do Estado da Palestina durante a 80.ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro.
"É claro que será preciso estabelecer condições precisas: Nada de armas. E garantir eleições transparentes, das quais será excluída qualquer pessoa que pense em usar a violência contra Israel", alertou o escritor, que perdeu um dos filhos em 2006 numa das guerras com o movimento libanês Hezbollah.
A fase mais recente do conflito israelo-palestiniano foi desencadeada a 07 de outubro de 2023, com ataques protagonizados pelo movimento islamita palestiniano Hamas no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
A retaliação de Israel a esses ataques já fez mais de 60 mil mortos, sobretudo civis, destruiu quase todas as infraestruturas de Gaza e provocou a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
Além disso, incluiu a imposição de um bloqueio de bens essenciais a Gaza, como alimentos, água potável, medicação e combustível.
Mais de uma centena de organizações não-governamentais alertaram para o avanço da fome na Faixa de Gaza.
Esta semana, no final da conferência da ONU sobre a solução dos dois Estados, vários países, incluindo Portugal, assinaram uma declaração conjunta na qual manifestam vontade ou abertura para reconhecer o Estado da Palestina.
A declaração foi assinada pelos chefes da diplomacia de 12 países europeus, além do Canadá, Austrália e Nova Zelândia.
Pela Europa, assinam a declaração Andorra, Finlândia, França, Islândia, Irlanda, Luxemburgo, Malta, Noruega, Portugal, San Marino, Eslovénia e Espanha. Entre estes países, Espanha, Irlanda, Noruega e Eslovénia reconheceram o Estado palestiniano no ano passado.
Na quinta-feira, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, revelou que vai ouvir o Presidente da República e os partidos políticos com representação parlamentar com vista a "considerar efetuar o reconhecimento do Estado palestiniano" na Assembleia Geral da ONU em setembro.