
Quantas vezes apenas por imprecisão ou imprudência, claro que censurável e penalizável, outras por negligência, esta a apreciar com maior rigor e severidade.
Porém na área médica e da saúde em geral, todo este contexto adquire uma outra dimensão e responsabilidade, além de potencial visibilidade e alarme numa época de exposição mediática de perturbadora complexidade.
Um dia viremos a inferir se com a crescente expansão da IA (Inteligência Artificial) conseguiremos limitar e modificar este problema.
Sabemos também que o erro é multifactorial podendo envolver a conduta técnica e profissional, o sistema de saúde em apreço, as condições genéricas ou específicas de exercício da actividade, os procedimentos e protocolos aplicáveis ou os próprios doentes ou familiares e cuidadores.
E como é óbvio, o local e o tempo em que os analisamos…
Na realidade os dados disponíveis apontam para taxas elevadas de incidentes em meio hospitalar e, além disso, para uma percentagem estimada de 80% enquanto potencialmente evitáveis.
Outros elementos estatísticos revelam que, nomeadamente as complicações devidas a efeitos adversos em regimes de internamento integram o top-ten das causas de morte intra-hospitalar.
Não tenho dúvidas nem ilusões quanto à interpretação destes números. Radicam na existência de registos sistemáticos e acreditados.
Mas levanta-me uma dúvida incómoda.
E nos ambulatórios e no seguimento dos doentes em Cuidados Primários qual será o cenário no plano do diagnóstico e terapêutico?
Como medimos o impacto dos atrasos e da dificuldade na acessibilidade às consultas e aos meios diagnósticos ou das assimetrias no território, ou enfim da falta de cobertura suficiente para os utentes ainda sem médico de família?
Ou como avaliamos o peso da demora do estudo e definição diagnóstica e instituição do tratamento, em especial quando envolva respostas cirúrgicas consequentes?
Ou enfim, como quantificamos e analisamos os erros associados a um diagnóstico errado ou a erros na prescrição farmacológica, seja por excesso, seja por potencial de interacções ou outros efeitos clínicos?
Há uns tempos, a Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos através da sua Comissão Regional Consultiva para a Prevenção do Erro Médico que, saúdo e felicito pela preocupação, iniciativa e esforço, desenvolveu um Inquérito sobre esta temática.
Os resultados não foram então, embora amostrais, tranquilizadores, mas ainda assim não tenho ideia desse meritório trabalho ter feito caminho e logrado obter a repercussão proporcional.
Agora, após as eleições nos corpos directivos da Ordem dos Médicos e a abertura de um novo ciclo, seria prevenido pensar e repetir, a nível nacional, esse ou outro estudo semelhante, mais alargado nos seus objectivos, capaz de em simultâneo alertar a Classe Médica para este problema e necessidade de atenção.
O que se justifica de modo fácil e imediato, simples, mas muito exigente, a preservação da vida humana e o alívio do seu sofrimento é o objectivo e, sobretudo, a responsabilidade ética e técnica da actividade profissional dos médicos!
Artigo escrito por Rui Cernadas*,
Médico de família
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