
O cancro do pulmão é uma doença maligna e agressiva, muitas vezes diagnosticada em fases avançadas. “É muito frequente encontrarmos doentes já em estádio 4, com metástases, o que limita as opções terapêuticas”, explica Ana Barroso, médica pneumologista, membro da direção do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão (GECP) e coordenadora da Unidade Multidisciplinar de Tumores Torácicos da ULS Gaia/Espinho.
Esta realidade deve-se ao facto de o cancro do pulmão ser “silencioso”, com sintomas pouco evidentes nas fases iniciais, e que por isso passam muitas vezes despercebidos, sobretudo em fumadores com doenças respiratórias pré-existentes, como a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).
Sintomas de alerta: quando procurar ajuda médica?
Ana Barroso destaca alguns sinais que devem motivar a consulta médica: “Uma tosse nova ou alteração na tosse habitual, falta de ar persistente, hemoptise (presença de sangue na expectoração), dor torácica e perda de peso inexplicada.”
A especialista alerta ainda para sintomas relacionados com metástases, como dores ósseas ou de cabeça, que podem surgir antes mesmo dos sintomas respiratórios.
Fatores de risco para o cancro do pulmão
O tabaco é responsável por cerca de 85% dos casos, seja pelo consumo direto ou pela exposição ao fumo passivo. Contudo, “a poluição ambiental e o gás radão, que pode estar presente em algumas habitações, também são fatores de risco importantes”, acrescenta Ana Barroso.
A necessidade urgente de rastreio
Apesar de estudos internacionais comprovarem a eficácia do rastreio em populações de risco na redução da mortalidade, Portugal ainda não dispõe de um programa nacional para o efeito. “Existem projetos-piloto em fase inicial, mas não há ainda um rastreio populacional organizado”, lamenta a especialista. Este rastreio seria “essencial para detetar casos em fase inicial, aumentando significativamente as hipóteses de tratamento curativo”.
De recordar que, recentemente, a secretária de Estado da Saúde - Ana Povo - anunciou que haverá dois rastreios piloto para o cancro do pulmão, mas ainda nada se sabe sobre quando irão arrancar, nem onde.
Tratamentos inovadores
Nos dez últimos anos, os tratamentos para o cancro do pulmão avançaram muito com a introdução da imunoterapia e das terapêuticas-alvo, que têm melhorado significativamente o prognóstico e a qualidade de vida de muitos doentes, assegura a entrevistada.
“Continuam a surgir novos fármacos e ensaios clínicos que oferecem esperança para o futuro”, afirma Ana Barroso.
Cancro do Pulmão em Portugal: Um Problema de Saúde Pública
Com cerca de 6 mil 155 novos casos anuais, o cancro do pulmão é a quarta neoplasia mais frequente em Portugal. Mais de metade dos portugueses conhece alguém diagnosticado, o que demonstra o impacto da doença na sociedade.
Ana Barroso sublinha a importância de melhorar a informação disponível para o público. “É fundamental apostar na literacia em saúde, utilizando as redes sociais, os meios de comunicação e ações comunitárias para sensibilizar a população para os sintomas, a prevenção e o tratamento.”
Estudo "O cancro do pulmão em Portugal: a visão dos portugueses"
A maioria dos portugueses afirma conhecer alguém com o cancro do pulmão, mas continua desinformada sobre ferramentas de diagnóstico, sinais e sintomas e que cuidados de saúde procurar. Estas são algumas das principais conclusões do estudo “O Cancro do Pulmão em Portugal – A Visão dos Portugueses”, desenvolvido pela Spirituc-Investigação Aplicada com o apoio da AstraZeneca. Este estudo, agora divulgado no âmbito da 5.ª edição da campanha nacional “O Cancro do Pulmão Não Tira Férias”, assinala o Dia Mundial do Cancro do Pulmão, a 1 de agosto.
De acordo com os resultados do estudo, mais de metade dos inquiridos (52,7%) afirma conhecer alguém que foi diagnosticado com cancro do pulmão. Em mais de metade destes casos (54,7%), a relação é próxima, envolvendo familiares ou amigos chegados. O dado traduz o impacto transversal da doença na sociedade portuguesa, tocando diretamente milhares de famílias. No entanto, apesar dessa proximidade, metade dos portugueses desconhece que estão a ser desenvolvidos programas de rastreio para a deteção precoce da patologia, bem como a que sinais e sintomas estar atento.
Este aparente paradoxo – elevado contacto com a doença, mas reduzida literacia sobre a patologia – revela-se preocupante à luz dos dados epidemiológicos. Em 2022, o cancro do pulmão foi responsável por 6.155 novos casos em Portugal, assumindo a posição de quarta neoplasia mais diagnosticada. No entanto, lidera o número de mortes por cancro, com 5.077 óbitos registados nesse mesmo ano. A nível mundial, foram diagnosticados cerca de 2,4 milhões de casos e mais de 1,8 milhões de pessoas perderam a vida, segundo o Globocan.
“Estes dados são um alerta claro: muitas pessoas têm contacto direto com a doença e, ao mesmo tempo, desconhecem ferramentas vitais como o desenvolvimento dos programas de rastreio. A prevenção e o diagnóstico precoce são pilares fundamentais para aumentar as hipóteses de tratamento e remissão da doença”, sublinha Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale, associação parceira da campanha.
Um dos dados encorajadores do estudo aponta que cerca de 67% dos inquiridos afirma aproveitar o período de férias para realizar check-ups de saúde. A campanha “O Cancro do Pulmão Não Tira Férias” pretende justamente reforçar a importância de aproveitar o verão como uma oportunidade para parar, reconhecer sinais e sintomas e agir a tempo, permitindo uma identificação mais precoce desta doença.
A análise evidencia também que a maioria da população reconhece a gravidade do cancro do pulmão: ~59% dos inquiridos considera-o mais agressivo/mortal em comparação com outros tipos de cancro. Ainda assim, essa perceção não se traduz em conhecimento efetivo. Quase 9 em cada 10 portugueses (85,2%) considera que deveria existir mais informação e divulgação sobre o cancro do pulmão, o que denuncia uma clara lacuna na comunicação em saúde.
O estudo mostra que a perceção sobre os fatores de risco está relativamente bem consolidada. Quase 90% dos inquiridos identificam o tabagismo como o principal fator de risco para o desenvolvimento da doença, seguido da poluição ambiental (73,9%) e do contacto com substâncias químicas (67,4%). Ainda assim, é importante lembrar que a doença pode afetar também não fumadores, sendo o fumo passivo, a exposição ao radão, ao amianto ou fatores genéticos outros elementos de risco a considerar.
"Em primeiro lugar, importa perceber quais são os fatores de risco e o que podemos fazer para evitar o aparecimento de cancro do pulmão. A prioridade máxima tem de ser impedir o desenvolvimento da doença”, afirma Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF).
A importância do reconhecimento dos sinais e sintomas é outro ponto-chave da campanha deste ano. Os sinais de alerta associados à doença podem ser tardios e inespecíficos, o que torna ainda mais urgente a sua divulgação junto da população. Tosse persistente, dor no peito, falta de ar, rouquidão, perda de peso inexplicável, perda de apetite, cansaço extremo e infeções respiratórias frequentes como bronquites ou pneumonias são alguns dos sintomas que devem motivar avaliação médica.
A maioria da população portuguesa (64,5%) acredita que o número de casos de cancro do pulmão irá aumentar nos próximos cinco anos – uma visão preocupante, mas que pode ser mitigada se houver uma aposta efetiva na prevenção e na deteção precoce.
A campanha “O Cancro do Pulmão Não Tira Férias”, promovida pela AstraZeneca, regressa este verão com o apoio de um conjunto alargado de parceiros institucionais, entre os quais a Associação Pulmonale, Careca Power, Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), Associação Nacional das Farmácias (ANF), APMGF, Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da APMGF (GRESP) e Rede Expressos. Através de ações de sensibilização em espaços de grande visibilidade, pretende-se chegar a mais portugueses com mensagens claras, baseadas em evidência científica e adaptadas ao público em geral.
“É fundamental que toda a população compreenda que o cancro do pulmão, apesar de agressivo, tem terapêuticas inovadoras e maior hipótese de sobrevivência com qualidade de vida, quando diagnosticado precocemente. Os resultados deste estudo são um alerta e um apelo à ação coletiva. Esta campanha é o nosso compromisso renovado em promover a literacia em saúde em Portugal”, conclui Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale.
Assista, no vídeo abaixo, ao Check-Up Seguro onde se explica como se pode melhorar o prognóstico desta neoplasia maligna que afeta cada vez mais portugueses.
Mini-guia sobre cancro do pulmão
Quais são os sintomas?
Os sintomas e sinais mais comuns de cancro do pulmão incluem:
- Tosse que não desaparece e que piora com o passar do tempo
- Dor constante no peito
- Tosse acompanhada de sangue
- Falta de ar, asma ou rouquidão
- Problemas recorrentes, com pneumonia ou bronquite
- Inchaço do pescoço e rosto
- Perda de apetite ou de peso
- Fadiga
- Sintomas e sinais à distância (sintomas neurológicos que parecem mimetizar um AVC, pele amarelada/icterícia)
Só o médico poderá confirmar se os sintomas estão relacionados com um cancro. Qualquer pessoa com estes sintomas, ou quaisquer outras alterações de saúde relevantes, deve consultar um especialista para diagnosticar e tratar o problema tão cedo quanto possível. Geralmente, as fases iniciais do cancro não causam dor, por isso, se tiver qualquer um destes sintomas que teime em não desaparecer, não espere, e consulte o seu médico.
Prevenção
Muitas vezes, o médico não consegue explicar porque é que uma pessoa desenvolve cancro e outra não. No entanto, a investigação demonstra que determinados factores de risco aumentam a probabilidade de uma pessoa vir a desenvolver cancro do pulmão, estando a maioria relacionada com o uso de tabaco (risco de cancro em fumadores é cerca de 20 vezes superior em relação aos não fumadores). O cancro do pulmão é, por isso, considerado uma doença em grande parte evitável, já que cerca de 85% dos casos ocorrem em fumadores ou ex-fumadores.
A melhor forma de prevenção é não fumar, sendo que os cidadãos fumadores devem deixar de consumir tabaco o quanto antes. Quanto mais cedo deixar de fumar, melhor, mesmo que tenha fumado durante muitos anos, nunca é tarde demais para beneficiar dos benefícios de deixar de fumar.
Fartores de risco
- Cigarros, charutos e cachimbos
- Exposição ao fumo de tabaco (fumador "passivo")
- História pessoal: é mais provável que uma pessoa que já tenha tido cancro do pulmão, desenvolva um segundo cancro do pulmão, comparativamente a uma pessoa que nunca teve. Deixar de fumar, logo que o cancro do pulmão é diagnosticado, pode prevenir o desenvolvimento de um segundo cancro do pulmão.
- Radão: o radão é um gás radioactivo que não se vê, não se cheira e não tem sabor. Forma-se no solo e nas rochas. As pessoas que trabalham em minas podem estar expostas ao gás radão. Em algumas zonas do país, encontra-se radão. As pessoas expostas ao radão apresentam um risco aumentado para terem cancro do pulmão.
- Amianto: As fibras de amianto tendem a quebrar-se facilmente, em partículas que podem flutuar no ar e que facilmente se "agarram" à roupa. Quando as partículas são inaladas, podem alojar-se nos pulmões, danificando as células.
- Poluição: está identificada a ligação entre o cancro do pulmão e a exposição a certos poluentes do ar, como os sub-produtos da combustão do diesel e outros combustíveis fósseis. No entanto, esta relação continua a ser estudada
- Doenças pulmonares: determinadas doenças pulmonares, como a doença. pulmonar obstrutiva crónica ou a tuberculose, aumentam a possibilidade de aparecimento de cancro.
Tratamentos disponíveis
O tratamento depende de uma série de factores, incluindo o tipo de cancro do pulmão: cancro do pulmão de não-pequenas células ou de pequenas células, o tamanho, a localização, a extensão do tumor e o estado geral de saúde da pessoa. Podem ser usados diferentes tratamentos e associações de tratamentos, para controlar o cancro do pulmão e/ou para melhorar a qualidade de vida da pessoa, através da redução dos sintomas.
Antes de iniciar o tratamento, poderá querer colocar algumas questões ao seu médico, tais como: Que tratamentos são recomendados para mim? Que ensaios clínicos são adequados para o meu tipo de tumor? Terei de ser internado para fazer o tratamento? Durante quanto tempo? De que modo poderão as minhas actividades normais ser alteradas durante o meu tratamento?
Saiba mais no site da Liga Portuguesa Contra o Cancro e em pulmonale.pt .