"As políticas e ações de Israel em Gaza cumprem a definição legal de genocídio", concluiu uma resolução da Associação Internacional de Académicos de Genocídio (AIAG), principal entidade académica de estudo sobre genocídios no mundo, noticiou a "Reuters". O documento foi aprovado por 86% dos 500 membros desta organização.

Para os especialistas, as operações militares das Forças de Defesa Israelitas (IDF, na sigla em inglês) configuram genocídio de acordo com o "Artigo II da Convenção das Nações Unidas para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio (1948)". De acordo com o documento da ONU, este tipo de crime internacional é definido por uma série de atos "cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso".

Entre as ações definidas pelas Nações Unidas, estão "assassinato de membros do grupo", "atentado grave à integridade física e mental", "submissão deliberada do grupo a condições de existência que acarretarão a sua destruição física, total ou parcial", "medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo" e "transferência forçada das crianças do grupo para outro grupo."

Até ao momento, Israel já causou a morte de pelo menos 63 mil pessoas em Gaza, das quais mais de 80% são civis, noticiou o "The Guardian". Além disso, a ONU declarou fome no território no dia 22 de agosto. A organização já denunciou o "desaparecimento forçado" de indivíduos em busca de comida em postos geridos pela Fundação Humanitária de Gaza, apoiada por Israel, e entende que mais de 1300 pessoas morreram enquanto tentavam conseguir alimentos.

Benjamin Netanyahu nega fome

O governo israelita, liderado por Benjamin Netanyahu, nega que exista fome no território e, atualmente, está a realizar uma operação militar para garantir o controlo total do enclave. Na última segunda-feira, as IDF efetuaram dois ataques ao Hospital Nasser, matando 20 pessoas entre civis, jornalistas e profissionais da saúde.

Esta ofensiva pode obrigar a saída de quase 1 milhão de pessoas da Cidade de Gaza,advertiu a ONU.Esta situação facilitaria um projeto dos Estados Unidos, aliado de Israel, para a região. Segundo o "Washington Post", há um plano de 38 páginas que circula na Casa Branca para garantir que o enclave será administrado pelo país durante pelo menos dez anos. Neste período, o Governo americano pretende transformar a região num resort turístico e num polo tecnológico e, para isso, deseja a saída, mesmo que temporária, de todos os cidadãos palestinianos.

Israel ainda não se pronunciou após o relatório da Associação Internacional de Académicos de Genocídio. O Hamas, por outro lado, exaltou a conclusão da organização. "Esta tomada de posição de académicos prestigiados reforça as provas documentadas e os factos apresentados junto dos tribunais internacionais", disse Ismail Al-Thawabta, responsável de imprensa do grupo, citado pela Reuters. A resolução "coloca uma obrigação legal e moral sobre a comunidade internacional para tomar acções urgentes para travar o crime, proteger civis, e responsabilizar os líderes da ocupação", concluiu.

AIAG apelou também para Israel "cessar imediatamente todos os actos que constituem genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade contra palestinianos em Gaza, incluindo ataques deliberados e mortes de civis incluindo crianças; fome; privação de ajuda humanitária, água, combustível e outros itens essenciais à sobrevivência da população; violência sexual e reprodutiva, e a deslocação forçada da população".

A organização também considerou que as ações do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, que causou 1200 mortos e 250 reféns, como um crime internacional.

Texto escrito por João Sundfeld e editado por João Miguel Salvador