
"Eu nunca tinha pensado sobre a possibilidade de mulheres de 80 anos continuarem a ter uma vida social, afetiva e sexual." Mas ao ouvir como uma amiga da mãe descobrira uma caixa cheia de brinquedos sexuais na gaveta de uma senhora de 84 anos, Filipa Fonseca Silva descobriu um mundo de histórias tão reais quanto interessantes — e pedagógicas. O desejo existe e persiste, aos 70, aos 80, muitas vezes até aos 90 anos. Sim, também nas mulheres.
"Questionei-me onde andariam estas mulheres e se seria algo normal mas de que não falamos até por vergonha, uma vez que se trata dos nossos avós ou pais..." Este foi o ponto de partida para o romance E Se Eu Morrer Amanhã, escrito e editado há dois anos pela primeira autora portuguesa que chegou, com o seu primeiro livro (Os Trinta – Nada É como Sonhámos, 2018), ao top 100 da Amazon. Agora, a história de Helena vai chegar ao cinema.
A produtora UKBAR, responsável pelo êxito internacional Rabo de Peixe, adquiriu os direitos de adaptação cinematográfica do livro de Filipa Fonseca Silva, marcando o início de um novo capítulo para esta história que conquistou leitores em Portugal e além-fronteiras.
"Tenho estado a guardar esta notícia há muito tempo", confessa a autora, na newsletter com que regularmente comunica com os seus leitores e fãs. "Claro que o filme propriamente dito ainda está longe de iniciar a rodagem, mas os primeiros passos para transformar a Helena num ícone do cinema estão dados."
Veja a entrevista da autora ao podcast do Book 2.0, que realiza a sua terceira edição nos dias 3 e 4 de setembro, na Fundação Champalimaud, em Lisboa.
Depois da adaptação de O Elevador (2022) ao cinema, numa curta-metragem de 32 minutos brilhantemente adaptada e realizada (e financiada) por Inês Barros e Fábio Rebelo, interpretada pela própria Inês e por Carlos Malvarez — que pode ver aqui —, Filipa Fonseca Silva admite: "É incrível ver mais uma história minha fazer este percurso."

O projeto foi distinguido pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), tendo vencido o concurso para desenvolvimento do guião, uma conquista que assegurou o início do caminho para a produção cinematográfica assinada pela atriz e realizadora Ana Cunha. "É mesmo incrível ver a Helena dar os primeiros passos para chegar ao grande ecrã, sobretudo pelas mãos de uma produtora com provas dadas como a UKBAR. Não tenho dúvidas de que se tornará uma figura icónica do cinema português", diz a autora.
Publicado pela Penguin, E Se Eu Morrer Amanhã, a história de uma viúva de 79 anos cuja família descobre ter uma vida sexualmente ativa quando Helena acidentalmente pega fogo à sala de estar e tem de se mudar para casa da filha, foi já um dos dez mais vendidos da Bienal do Rio de Janeiro, em 2025, e top 5 do Livro do Ano Bertrand 2023.
A autora e fundadora do Clube das Mulheres Escritoras, que conta já com seis romances publicados e que neste ano lançou o primeiro livro para crianças, Napoleão, o Camaleão, não descansa, contudo, à sombra do sucesso. "Posso adiantar que terminei agora mais um romance, que vai sair em abril de 2026, e estou a fazer um esforço para retomar os textos no blog com mais frequência", promete Filipa Fonseca Silva, que vai estar, já dia 4 de setembro, na Festa do Livro de Belém em duas sessões de autógrafos (às 18.00, na Penguin, com os livros para adultos e às 19.00, na Porto Editora, com o livro infantil).