"Rezemos pelo Papa Francisco para que o Senhor lhe conceda longos anos de vida e para que, uma vez recuperado da sua doença, continue a exercer o supremo ministério apostólico a favor da Igreja e do mundo inteiro", pediu o arcebispo de Buenos Aires, Jorge García Cuerva para depois exaltar o legado do pontífice.

"Pedimos a Deus para que todos nós possamos, seguindo o exemplo do santo Papa Francisco, levar o nome de Deus aos jovens, aos pobres e aos que estão mais afastados do caminho da salvação", acrescentou ao terminar a missa pela saúde do Papa que reuniu mais de 3.000 pessoas na Praça Constituição da capital argentina.

Essa tensão entre a fé na recuperação do Papa Francisco e a exaltação ao seu legado de "uma Igreja pobre para os pobres" em tom de missão cumprida marcou a primeira missa ao ar livre numa comunhão popular.

Depois de um dia de chuva torrencial em Buenos Aires, exatamente às 17:00 (20:00 em Lisboa), horário do começo da missa, a tempestade parou e até apareceram raios de sol, situação na qual muitos acreditaram ver um sinal a favor da saúde do Papa.

"Sim, é um sinal. Não pode ser uma coincidência tão precisa", disse à Lusa María Rojas, de 55 anos, enfermeira especializada em terceira idade, tal como Francisco.

"Acredito que a união de todos na fé com a bênção do Senhor é o que cura. Se não tivermos essa fé, sem a confiança em Deus, nada serve. Não basta o nosso conhecimento. O nosso amor é fundamental para a cura", defendeu María com alegria.

O semblante da enfermeira mudou quando se torna tangível a hipótese de um boletim médico derradeiro com a pior notícia.

"Nesse caso, o legado que o Papa deixa será a nossa bandeira. Esse é um legado 100% de humildade, de amor pelo próximo. O Papa é povo. Francisco é coração. É uma mudança rotunda na nossa Igreja Católica. Eu até me emociono", descreve María Rojas.

Ao lado dela, a também enfermeira Silvia Moreno, de 57 anos, acredita que, depois de Francisco, os futuros Papas terão de empunhar o conceito de uma Igreja para os pobres.

"Esse é um carimbo de Francisco que marca um caminho para o futuro. Esperemos que fique esse selo", confia Silvia.

Na missa convocada pelo atual arcebispo de Buenos Aires na praça onde tantas vezes o cardeal Jorge Bergoglio, hoje Papa Francisco, celebrou missas a favor dos excluídos e dos marginados quando ocupava o mesmo posto de arcebispo, as bandeiras argentinas misturavam-se com as imagens do sumo pontífice de 88 anos, enquanto as orações eram recortadas com aplausos pela obra de Francisco até aqui.

O mestre pasteleiro Alfredo Beley, de 52 anos, acredita que a energia positiva de todos aqueles que acompanharam a jornada de Jorge Bergoglio a Papa Francisco possa ajudar na melhora.

"Essa energia lhe chegará porque são todas as igrejas de Buenos Aires a orar por ele", acredita.

"Tenho vivido dias de muita tristeza porque há dias melhores seguidos de piores. O meu temor é que aconteça o pior porque é uma pessoa idosa que precisa de muitos cuidados", confessa.

A esta altura, uma recuperação do Papa traduzir-se-á numa potente mensagem de que a fé pode superar a doença. Porém, se a melhora não vier, restará o legado de Francisco.

"No pior dos casos, todos os católicos tentaram. E ficarão os ensinamentos de um Papa que marcou um antes e um depois porque foi o primeiro Papa jesuíta, o primeiro latino-americano que, com carisma, defendeu uma igreja para os pobres", resignou-se Alfredo perante a pior hipótese.

Na multidão, misturaram-se sacerdotes e freiras, enquanto o arcebispo de Buenos Aires andava entre os fieis. Qualquer semelhança com o exemplo de Francisco não é mera coincidência entre tanta gente que o conheceu de perto.

*** Márcio Resende, da agência Lusa ***

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