"É uma grande honra, um grande privilégio, declarar oficialmente aberto o 78.º Festival de Cinema de Cannes!", assinalou o cineasta, vencedor da Palma de Ouro em 1994 por "Pulp Fiction", no palco do Palais des Festivals.

Durante a cerimónia de abertura, marcada pela sombra da guerra em Gaza e na Ucrânia, a estrela norte-americana Robert De Niro fez uma dura acusação ao Presidente dos EUA, Donald Trump.

Nos Estados Unidos, "estamos a lutar arduamente para defender a democracia que sempre tomamos como garantida", alertou o ator de 81 anos, acrescentando que os artistas são "uma ameaça para os autocratas e fascistas deste mundo".

A presidente do júri, Juliette Binoche, lembrou "os reféns de 07 de outubro e todos os reféns, os prisioneiros, os afogados que suportam o terror e morrem com uma terrível sensação de abandono", recordando especialmente a fotojornalista palestiniana Fatima Hassouna, morta por um míssil israelita em Gaza em meados de abril.

Antes de Quentin Tarantino declarar o 78.º Festival de Cannes "oficialmente aberto", o seu compatriota Robert De Niro foi agraciado com uma Palma de Ouro honorária pelas mãos de Leonardo DiCaprio, que já partilhou o palco com a lenda da sétima arte por diversas vezes.

Anteriormente, o ator norte-americano Jeremy Strong, membro do júri, já tinha descrito o mentor de Donald Trump, o advogado Roy Cohn, que interpretou no filme "O Aprendiz", de 2024, como "o pai das notícias falsas e dos factos alternativos".

"O papel dos filmes é cada vez mais crucial no combate a estas forças", acrescentou a estrela da série "Succession" durante uma conferência de imprensa.

A cerimónia de abertura ficou ainda marcada por uma homenagem, em música, prestada pela cantora francesa Mylène Farmer ao cineasta norte-americano David Lynch, que morreu em janeiro.

Para marcar presença no evento, que contou ainda com a exibição do filme "Partir un jour", um musical francês protagonizado pela cantora Juliette Armanet, uma infinidade de estrelas subiu os degraus do Palais des Festivals.

Entre estas estiveram a atriz norte-americana Eva Longoria e as atrizes francesas Géraldine Nakache e Aïssa Maïga.

Ainda antes da abertura, os ecos do mundo chegaram à 'Croisette' na noite de segunda-feira com a publicação no jornal francês Libération de um artigo de opinião assinado por quase 400 estrelas de cinema que pediam que o mundo da cultura quebrasse o seu "silêncio" sobre a guerra em Gaza.

"Nós, artistas e atores culturais, não podemos permanecer em silêncio enquanto o genocídio ocorre em Gaza", escreveram os signatários, incluindo o realizador espanhol Pedro Almodóvar e os atores norte-americanos Susan Sarandon e Richard Gere.

O caos global também teve repercussões hoje com a exibição de três documentários sobre a Ucrânia, entre os quais "A Nossa Guerra", do intelectual francês Bernard-Henri Lévy.

Por coincidência, a abertura do maior festival de cinema do mundo coincidiu com um marco importante no movimento #MeToo em França: a condenação da antiga estrela Gérard Depardieu a uma pena de prisão suspensa de 18 meses por agressão sexual durante uma rodagem.

"Quando somos dessacralizados como ele está neste momento, significa que isso nos faz refletir sobre o poder de certas pessoas que assumem o poder. E eu acho que esse poder está noutro lugar", analisou Juliette Binoche durante uma conferência de imprensa, rejeitando o rótulo de "monstro sagrado" frequentemente atribuído ao ator.

A francesa e os outros oito membros do júri terão de atribuir a Palma de Ouro no dia 24 de maio a um dos 22 filmes em competição.

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