Vocês que fazem férias em países estrangeiros da moda como a Indonésia ou Bali, tenham vergonha. Façam como a Nicole Kidman, o Mick Jagger e a Maddie McCan e venham-se perder em Portugal.
Temos tanto para oferecer. Comida excelente, praias paradisíacas, clima quente – especialmente se gostarem de ver os eucaliptos no centro do país. Acham que esta passa, ou ainda é um tema muito fresco? Fresco se calhar não é a melhor palavra.
Mas a melhor coisa que temos para oferecer, o nosso maior calcanhar de Aquiles, são as festas de aldeia. Antes de me alongar deixem-me dizer que nunca percebi muito bem o que queria dizer calcanhar de Aquiles, mas achei que ficava bem aqui.
Eu acho que há poucos sítios no nosso país onde se consuma mais álcool por metro quadrado do que numa festa de aldeia. Talvez só no consultório do José Carlos Pereira.
Voltei recentemente de uma e não desiludiu nem um bocadinho. Vi um homem que caiu às oito da manhã de uma ribanceira e quando o primeiro paramédico saiu da ambulância e lhe ofereceu água ele disse, e cito: a água cai-me mal. Quando a paramédica lhe desapertou os botões da camisa para ver se havia ferimentos ele disse: “Ei… calma lá. Tenho a mulher em casa e não quero problemas.” Descobri mais tarde que deu entrada no hospital passado três horas com uma taxa de alcoolemia de 3,1 g/L. Disse aos médicos que até nem estava mal, que o carro de onde saiu da festa consome 12 aos 100.
Conheci um homem que nos disse que se chamava Ploc, porque Ploc era o som que fazia o cocó a cair na água da sanita, como se isso fosse mais do que suficiente para esclarecer a sua designação. Disse que lhe podíamos chamar pelas outras alcunhas: pirocas, piolhoso, carracento. Tudo menos Carlos, que Carlos achava feio.
O Ploc é um cidadão absolutamente marreco. E por motivos pelos quais não é bonito rirmo-nos. Os pais colocaram-no, durante toda a sua infância, a dormir num cesto. Só aos vinte e quatro anos é que o Ploc decidiu endireitar a vida… e comprou uma geleira.
Mas nem tudo é cor-de-rosa nas festas de aldeia. As festas de aldeia têm um ponto fraco, um calcanhar de Aquiles. Antes de me alongar deixem-me reiterar que nunca percebi muito bem o que queria dizer calcanhar de Aquiles, mas achei que ficava bem aqui.
O problema das festas de aldeia é que situações de relevância mínima originam momentos de tensão máxima. Eu vi dois homens a discutir por causa de um tremoço.
O meu amigo Telmo perguntou a um homem se se queria sentar numa cadeira, e o homem respondeu: Mas tu achas que estás a mandar sentar quem? Isso é algum comentário sobre a minha mãe?
Eu próprio tive o meu momento de tensão. Na pista de dança levei um encontrão e perguntei ao homem que me empurrou: “Então?!”. Respondeu-me: Estou só a dançar. Circula.
E eu disse-lhe: “Tem calma, mano, somos família.”. E ele: Somos?
Aparentemente há alguma promiscuidade nas aldeias que torna o parentesco entre desconhecidos uma realidade válida.
Incrivelmente, parece haver uma solução para qualquer tensão que surja num ponto remoto do interior. E está inteiramente nas mãos da banda ou do DJ. Para que qualquer porrada cesse e rapidamente se transforme na cimeira das Nações Unidas, basta tocar a Danza Kuduro.
É inacreditável. Eu vi um gajo a puxar o braço atrás para rebentar a boca a um primo afastado e a usar o balanço do braço para dar media vuelta, danza kuduro.
Só que eu não sei a dança. Não sei. Não quero aprender. Não quero tentar seguir os passos da pessoa do lado. Não quero. Só quero que passe. Mas a música dura vinte cinco minutos. E é nesses minutos que vou para o bar, me embebedo, e depois caio duma ribanceira, porque a água me cai mal. Esse é o meu calcanhar de Aquiles.
Comediante estagiário