A Philanthropy Europe Association (Philea) lançou já este ano o relatório "2025 Democracy Briefer for Funders: What’s Happening to European Democracy and What Funders Can Do About It". Ao longo do relatório são, numa primeira fase, identificados alguns dos desafios que a democracia enfrenta na Europa, incluindo a (cada vez maior) polarização política, o avanço do populismo, a disseminação de desinformação (poderemos estar a falar de uma pandemia de desinformação?) e a erosão do Estado de Direto.

Mas considero que estes desafios representam apenas a epiderme do complexo sistema democrático em que vivemos, existindo outros fatores relacionados com um crescente descontentamento e desilusão popular que tem afastado os cidadãos das instituições democráticas.

O que está na base deste descontentamento? Diferentes fatores, como o aumento das desigualdades económicas e sociais — em Portugal, uma em cada cinco pessoas vive em risco de pobreza ou exclusão social e o preço da habitação mais que duplicou desde 2015, com os salários a evoluir apenas 35% —, mas também a perda de confiança nas instituições, questões migratórias (por vezes exploradas politicamente para gerar medo, ressentimento e desconfiança), a proliferação da desinformação potenciada por redes sociais (são, por cá, a principal fonte de notícias para os cidadãos), entre outros.

Poderá a filantropia ter um papel na preservação e promoção da democracia?

O relatório aponta alguns caminhos e medidas que a filantropia pode adotar, entre as quais o financiamento de iniciativas que promovam o diálogo interpartidário e a construção de consensos, o investimento em jornalismo independente e em organizações de verificação de factos para combater a desinformação, ou a experimentação de modelos inovadores que aproximem os cidadãos dos processos de tomada de decisão política, entre outras.

Em Portugal, organizações como a Fundação Francisco Manuel do Santos têm potenciado, de forma neutral e baseada no conhecimento, a investigação e reflexão e inclusive apontado caminhos para o país, no sentido de identificar e intervir em alguns dos desafios societários mais prementes.

Curiosamente, o relatório também sugere que as fundações europeias assumam um "compromisso democrático", no sentido de apoiar iniciativas que fortaleçam a democracia e os direitos civis.

O título desta proposta é tão oportuno e valioso que faria sentido que TODOS assumíssemos um "compromisso democrático", não apenas como responsabilidade formal, mas como uma ação diária de participação, respeito e solidariedade.

Centro Português de Fundações