Europa era uma linda princesa que vivia na Ásia. Um dia, Zeus, pai dos deuses, viu-a a apanhar flores, apaixonou-se e raptou-a. Transformou-se num majestoso touro branco, aproximou-se de Europa, manso e meigo. A princesa ficou enlevada. Afagou-o, colocou-lhe uma grinalda ao pescoço e, acreditando ir passear, sentou-se no seu dorso. Zeus levou-a, fundando este continente. Assim reza a lenda grega, tão estafada como atual.
Não na Ásia mas na não-europeia Escócia, Trump impôs agora à Europa um negócio de um trilião de dólares que só interessa aos EUA. A UE, tão cândida como a princesa do mito, comprometeu‑se a comprar energias americanas no valor de 750 mil milhões de dólares, investir 600 mil milhões de dólares na economia dos EUA, a adquirir-lhe equipamento militar por centenas de milhões. Por fim, pôs-lhe as flores ao pescoço: tarifas de 15% sobre os produtos exportados pela UE para os EUA (outrora de 2% a 4%). Nenhumas tarifas sobre produtos americanos.
A Europa foi sequestrada; violada e gostou. Cedeu em tudo, deu tudo em troca de uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. E a princesa (nesta versão a Baronesa Von der Leyen) ainda bateu palmas. Zeus riu-se e ela amochou.
Trump zela pelos interesses do seu povo. Ursula zela pelo seu emprego e por uma rede clientelar. Ele é um líder, ela uma criada vendida. Ele é consistente em defender a sua nação. Ela é uma boneca insuflável.
Ufana e autoritária quando desfila, discursa ou atua sem oposição, fantoche quando confrontada. Um fantoche sabujo, uma traidora, que nos vai arrastar a todos para a guerra e para a fome.
Não mora aqui acordo nem qualquer negociação. Todas essas expressões são apenas novilíngua requentada. Apenas há a imposição de um império que dobra os seus vassalos, com a concomitante transferência massiva de riqueza unilateral.
Fosse Von der Leyen tão boa a defender os nossos interesses como é em propaganda e estávamos a salvo. Afinal, onde mora agora toda a conversa sobre a soberania europeia, a “autonomia estratégica”, o combate à dependência de potências estrangeiras?!
Depois, na prática, como bem alerta Ventura Leite, como se vai conseguir ditar algo que viola os tratados europeus e a soberania dos Estados-membros? Cederam soberania ilegalmente sem mandato?
É que os Estados-membros têm as suas necessidades específicas com acordos de fornecimento, firmados e aprazados. Quem nos vai obrigar a comprar petróleo americano porque a princesa assim o consentiu? Quem vai impor a cada país europeu a compra de armas americanas? Quem nos obrigará a financiar a economia dos EUA? Como, já agora? Que setor será patrocinado pelos europeus? O automóvel? O agrícola? Quem o determina? Zeus?
Entretanto, Luís Montenegro já se regozijou com este descaminho. Está de acordo com esta venda da Europa a retalho. Mas nem todos estarão alinhados, nem com esta humilhação nem com esta derrama económica. Alguns até terão agora o pretexto perfeito para invadir Bruxelas e pendurar no pelourinho, um a um, cada desprezível eurocrata. Talvez seja o enterro do projeto europeu ao som do Hino da Alegria dançado por um touro branco.
Ativista Política//Escreve à quarta-feira no SAPO