Comecemos pelo termo em si mesmo: Cura Personalis ou o cuidado integral (e individualizado) com a pessoa. No seio dos Jesuítas começou por ser a descrição da responsabilidade que cada superior deveria ter para com os membros da sua comunidade. Olhar o indivíduo per si e não generalizar. Cada caso é um caso e cada pessoa é uma pessoa.

Nos estabelecimentos de ensino dos jesuítas (independentemente do nível) esta relação única, que tem que se estabelecer entre alunos, docentes e discentes é uma das matrizes seguida e estimulada. Naturalmente que isto fica vincado em todos os que percebem os méritos desta Cura Personalis. Nas empresas isto é muito evidente. Na minha já longa carreira profissional (qualquer dia faço como os artistas e faço um happening de 30 anos de carreira) tive o privilégio de trabalhar a diversos níveis, com empresas de diversas dimensões e complexidades em ambiente nacional e internacional e sempre tive presente que cada individuo é único e deve ser tratado como tal em todas as suas dimensões. Não há fórmulas mágicas para gerir pessoas!

Desculpem-me os gurus dos recursos humanos. Existe sim uma fórmula única para interagir com pessoas: o respeito pela individualidade de cada um, o diálogo assente numa comunicação aberta franca e descomplexada, a preocupação em construir pontes e ligações emocionais que nos permitam crescer e fazer crescer o outro enquanto pessoas pois isso trará como consequência um crescimento na vertente profissional. Dirão alguns…mas para dançar o tango são precisos dois e se um não quer o outro não consegue. É aí que entra o tema deste texto: inovação e impacto social. O desafio de todos e cada um é precisamente inovar nas relações, inovar nas abordagens, inovar na mentalidade, inovar…inovar…inovar.

Quando falamos em inovação imaginamos logo, carros a voar, telemóveis do futuro, otimização de processos industriais, novas formas de energia, etc…sim isso também faz parte da inovação a que uma sociedade está exposta, mas a inovação ao nível das relações humanas olhando para os novos desafios e desenvolvimentos que a sociedade nos vai apresentando é talvez aquilo que mais impacto social terá no presente e no futuro imediato. Logicamente que isto trará excelentes resultados no futuro de médio-longo prazo. Jean Paul Sartre dizia que “somos condenados a ser livres” e não é possível viver sem ter que se escolher. A forma como o fazemos é que determina o nosso caminho. As nossas decisões não têm, muitas vezes, por base um pensamento estruturado de procura de soluções inovadoras de relacionamento, mas sim o resultado mais imediato e que potencialmente criará maior valor no mais curto espaço de tempo. Não temos tempo para “perder tempo”. Ao escolhermos/decidirmos estamos a trocar uma infinitude de caminhos possíveis (muitos deles conhecidos e já testados) por um único caminho e poderá ficar sempre a sensação que não foi a melhor escolha possível, mas um dos princípios básicos da inovação é exatamente esse…trilhar o desconhecido para alcançar novos “mundos”.

Muitas são as entidades que têm programas de inovação com resultados incríveis em termos de impacto social, mas poucas são aquelas que trazem para junto de si os verdadeiros agentes da mudança. Termino com um exemplo que me marcou nos últimos tempos: uma grande empresa portuguesa de dimensão internacional com um programa de “inclusão, diversidade e igualdade de género” criou um conjunto de procedimentos para orientar as suas equipas para estes temas e tomou como decisão incluir nessa equipa de trabalho uma jovem rapariga surda (de alto potencial profissional). Numa empresa onde há quem trabalhe 60 ou mais horas por semana (sobretudo jovens), onde a maioria são homens (em lugares de chefia), onde é necessário comunicar em Português, mas também noutras línguas com clientes, eu nunca teria pensado nos desafios enormes que existem para uma pessoa surda, nomeadamente comunicar com clientes que falem inglês ou francês. Imaginem agora quais podem ser as perspetivas de carreira desta jovem que tem elevado potencial, mas que corre o risco de ser apenas mais uma? A verdade é que em sequência desse trabalho conjunto a empresa deu um passo significativo em termos de inovação e impacto social que trará seguramente excelentes resultados a curto-médio prazo, não apenas para si mas também e sobretudo para esta jovem (e consequentemente para a própria sociedade).